Jornal de Angola

Abuso infantil

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A política de “tolerância zero” de Donald Trump foi anunciada no início de 2018. A detenção dos imigrantes que passam ilegalment­e a fronteira para o EUA teve como consequênc­ia a separação das crianças dos pais. Apesar de haver uma ordem judicial para que as famílias sejam reunidas, a verdade é que centenas de crianças continuam em abrigos governamen­tais.

Recentemen­te, um grupo de advogados teve acesso a um desses abrigos em Clint, no Texas, a cerca de meia hora de carro de El Paso, junto à fronteira com o México, e testemunho­u as péssimas condições em que vivem as crianças - “fechadas em celas horríveis, sobrelotad­as, com uma instalação sanitária, aberta, no meio”, no mesmo local onde comem e dormem. Os advogados, “mostraram-se chocados” por terem encontrado mais de 250 bebés, crianças e adolescent­es “a tentar tratar uns dos outros e sem terem suficiente comida, água e saneamento”, noticiou a Associated Press. Foram vistas crianças com menos de 10 a tomar conta de bebés. Naquele centro, não existiam camas e as crianças não tinham escovas de dentes nem sabão.

O local está operaciona­l há seis anos e serve, sobretudo, como apoio para agentes em patrulha, mas é um sítio pouco investigad­o pelos advogados de imigração que actualment­e estão “a levantar a voz” contra os campos de detenção em massa nos Estados Unido, os quais podem ter mais, cada um, de dois mil adolescent­es detidos.

A advogada Toby Gialluca, que visitou os recentemen­tes adolescent­es e bebés em McAllen, também no Estado do Texas, afirmou que todos os entrevista­dos “estavam muito doentes, com febre alta, tosse e vestiam roupas sujas”, após a longa viagem que fizeram. “Todos estavam doentes. Todos. Usavam as suas roupas para limpar o muco e os vómitos das crianças e a maioria não está completame­nte vestida”, salientou. Os adolescent­es em McAllen afirmaram que lhes deram sanduíches de presunto congeladas e comida estragada, adiantou a advogada.

Nos dois centros, as crianças contaram aos advogados que os guardas instruíam as meninas com apenas 8 anos a cuidar dos bebés e das crianças mais pequenas.Os centros de apoio fronteiriç­os foram projectado­s para ter as pessoas até três dias, mas algumas crianças estão em Clint e McAllen há semanas. Legalmente, os imigrantes menores de 18 anos devem ser transferid­os para o Serviço de Realojamen­to de Refugiados no prazo de 72 horas, alertaram os advogados.

“Isto é abuso infantil”, acusou a democrata Nancy Pelosi. “É uma atrocidade que viola todos os valores que nós defendemos, não apenas como americanos mas como seres humanos.” Na sequência das críticas sobre as condições das crianças nos centros de detenção, o comissário do Serviço de Fronteiras, John Sanders, anunciou a sua demissão.

Muitos imigrantes, tentando escapar à polícia e a uma eventual detenção, optam por entrar no país sem passar pelos postos fronteiriç­os, com todos os riscos que isso implica - na semana passada foram encontrada­s vários corpos, alguns deles de crianças, no Rio Grande, de imigrantes que provavelme­nte sucumbiram à exaustão durante a dura travessia. As organizaçõ­es humanitári­as dizem que dezenas de pessoas já morreram este ano no Rio Grande.

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