Há mais de dois mil estudantes em Cuba
O Presidente da República, João Lourenço, inicia, hoje, a primeira visita de Estado a Cuba, desde que assumiu o cargo, em Setembro de 2017, focada no reforço da cooperação entre os dois países. A embaixadora daquele país em Angola, Esther Armenteros, diss
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, efectua a primeira visita de Estado a Cuba. Que perspectivas se abrem nas relações entre os dois povos e países? As relações entre Angola e Cuba são fortes e vão permanecer assim, como um legado para as futuras gerações, que devem sentir-se orgulhosas, por pertencerem a esses dois povos fraternos. Cuba manifestou total disponibilidade no trabalho, para o fortalecimento dos laços históricos de fraternidade entre os Governos e os povos dos dois países, forjados em tempos difíceis e marcados por uma profunda convergência, nos planos político, diplomático, cultural, económico e social. Da mesma forma, o Presidente João Lourenço reiterou a determinação de aprofundar os laços de amizade e cooperação entre os dois países, cujo sentimento foi expresso na mensagem de felicitações a Miguel Diaz Canel, pela sua eleição ao cargo de Chefe de Estado de Cuba, em Abril do ano passado, e nas reuniões realizadas, recentemente, com o primeiro Vice-Presidente, Salvador Valdés Mesa, e com o vice-presidente do Conselho de Ministros, Ricardo Cabrisas Ruiz, co-presidente da XIV Sessão da Comissão Intergovernamental AngolaCuba. A História exige-nos continuarmos a trabalhar, para que as gerações actuais e futuras mantenham viva a chama da solidariedade e da cooperação forjada, também, com o seu sacrifício, dos mais de mil internacionalistas cubanos caídos em Angola, ao lado dos milhares de irmãos angolanos.
Como avalia, neste momento, o nível de cooperação entre os dois países?
As relações políticas entre Cuba e Angola são excelentes. Prova disso são os resultados da XIV Sessão da Comissão Intergovernamental entre os dois países, realizada em Luanda, entre os dias 15 e 17 de Abril, que permitiu fortalecer os laços de fraternidade e solidariedade entre os nossos governos e povos. Os resultados contribuirão para elevar as relações económicas ao nível dos excelentes laços políticos existentes entre os nossos países, como é o desejo e a vontade de ambos os Governos.
Quais as principais áreas na parceria estratégica entre Angola e Cuba?
A educação e a saúde são as áreas em que a presença de colaboradores cubanos e a cooperação, em geral, são mais apreciadas, mas, durante a sessão intergovernamental, foram revistos mais de 20 sectores, nos quais há já colaboração com Cuba ou potencial para a desenvolver. Até hoje, mais de dois mil cubanos trabalham nas 18 províncias angolanas, 800 na Saúde e 1.093 na Educação. Por outro lado, devemos destacar que mais de dois mil jovens angolanos estão em Cuba para se formarem em diferentes áreas. Até hoje, foram formados, pelo menos, oito mil, os quais oferecem, actualmente, os seus serviços a Angola, que garantiu a sua formação em variadas actividades da vida política, económica e social. Gostaríamos de conseguir maior presença de investimentos de empresas angolanas em Cuba, em sectores de interesse para o nosso país, em correspondência com as projecções de desenvolvimento económico e social, a curto, médio e longo prazos, e maior intercâmbio comercial. É nosso propósito inserir a nossa colaboração nos diferentes eixos do Plano de Desenvolvimento Nacional, especialmente em educação e ensino superior, desenvolvimento de recursos humanos, saúde, assistência e protecção social, habitação, cultura, desporto e outros sectores, a partir do potencial existente, tendo em conta o Plano Nacional de Desenvolvimento Económico e Social de Cuba até 2030. Queremos apoiar os esforços do Governo angolano, para melhorar as condições de vida do seu povo, nas áreas em que a nossa presença lhes é mais útil. Fidel disse uma vez que “a solidariedade de Cuba com outros povos sempre foi baseada em factos e não em palavras bonitas e continuará a ser assim.”
Qual é o modelo de formação de estudantes angolanos em Cuba?
Na minha opinião, o modelo de formação dos estudantes angolanos em Cuba passa pelos princípios e valores que tentamos imprimir também à juventude cubana: amor ao país, honestidade, vocação de serviço ao seu povo e outros povos irmãos que poderiam precisar de solidariedade em tempos difíceis.
No âmbito interno, Cuba acaba de realizar um plebiscito para modificar a Constituição. Quais as grandes mudanças introduzidas no novo texto constitucional e as esperanças que se abrem na luta dos cubanos pelo progresso?
O esboço desta nova constituição foi submetido a um processo de consulta popular, em que todas e cada uma das intervenções do povo enriqueceram o seu conteúdo. A análise popular causou mudanças em cerca de 60 por cento dos artigos do projecto. Após um extenso processo de consulta popular, em que cidadãos residentes dentro ou fora do país tiveram a oportunidade de expressar, livremente, as suas considerações sobre o conteúdo, que incluiu, entre outros aspectos relevantes, os fundamentos políticos e económicos, os direitos e os deveres e a estrutura do Estado, o citado projecto foi submetido a um referendo que contou com o apoio massivo deles. Gostaria de citar aqui as palavras do Presidente cubano, Miguel Díaz Canel Bermúdez, que definem claramente a Cuba que queremos: “O país que queremos é um país socialista, livre, independente e soberano, fiel à nossa História, defensor da nossa identidade cultural, anti-imperialista, unido, com justiça social e dignidade, com respeito pela plena dignidade do homem, próspero, sustentável e inclusivo, participativo. Que exista um desenvolvimento equilibrado e sustentável, que tenhamos uma invulnerabilidade militar, ideológica, social e económica. Que exista democracia no povo e não no poder político e antidemocrático do capital, que haja prosperidade e harmonia na natureza e cuidado com as fontes que dependem da vida do planeta, desenvolvimento económico, distribuição justa da riqueza, garantia de um serviço de qualidade para a população, acesso gratuito e universal à educação para a população, saúde pública ao serviço dos cidadãos, prática da solidariedade, rejeição do egoísmo, compartilhar não o que esteja a sobrar, mas o que temos, repúdio às formas de discriminação social, de qualquer tipo, lutamos contra o crime organizado, o narcotráfico, o tráfico de pessoas, um país sem escravidão e onde defendemos os direitos humanos de todos os cubanos e não de um segmento exclusivo e privilegiado.”
Em relação à política externa cubana, a aproximação entre os Governos de Cuba e dos Estados Unidos terá, necessariamente, de passar por um diálogo aberto e permanente, com os olhos postos mais para o presente ou para o futuro e menos para o passado. Quais são os caminhos para o estabelecimento de um ponto de equilíbrio nessa tentativa imperiosa entre os dois países?
Cuba sempre apoiou os esforços na defesa da paz, convicta de que somente o diálogo, a negociação e a cooperação internacional permitirão encontrar uma solução para os graves problemas do mundo. No caso dos EUA, em 2015, sob o Governo de Obama, as relações diplomáticas entre os dois países foram restauradas, o que permitiu que o restante do seu mandato avançasse nas áreas de interesse mútuo. Com a chegada de Trump ao poder, o bloqueio económico, comercial e financeiro do Governo dos Estados Unidos em relação a Cuba intensificou-se, com ênfase na esfera financeira, constituindo o maior obstáculo ao desenvolvimento económico do nosso país. As manobras do Governo de Trump vão desde a publicação de uma lista de empresas cubanas com as quais é proibido estabelecer relações comerciais, o que gera cautela na banca a nível internacional, até à aplicação do Título III da Lei Helms-Burton, com o objectivo de limitar o desenvolvimento da economia cubana. Foram acrescentadas outras medidas nos últimos dias, como a proibição de cruzeiros para atracarem em portos cubanos e a eliminação de visitas culturais de grupos de americanos. Em várias ocasiões, os nossos líderes reiteraram que estamos na melhor disposição para manter um relacionamento civilizado com os Estados Unidos, apesar das nossas profundas divergências ideológicas, mas apenas sob o mais estrito respeito e igualdade soberana, e sem qualquer condicionamento. Em 60 anos de agressão e ameaças, os cubanos demonstraram a sua forte vontade e capacidade de resistir e vencer nas circunstâncias mais difíceis e continuaremos a fazê-lo. Não seremos intimidados pela escalada da actual Administração dos EUA.