Países devem investigar sobre a Rota de Escravos
Os países africanos, lesados com o comércio de escravos, devem ter um papel mais activo na abordagem do assunto
Angola deve criar um centro de investigação científica, para atrair investigadores seniores para transmitirem conhecimentos aos jovens que, posteriormente, devem dar continuidade ao processo investigativo sobre a rota de escravos.
A sugestão foi feita pelo arqueólogo português Miguel Almeida durante uma palestra sobre o tema “Projecto, a Rota de Escravos-400 anos da chegada dos primeiros Escravos à América do Norte em 1619”, no âmbito do FestiKongo que assinala, hoje, o segundo aniversário da elevação de Mbanza Kongo a Património Cultural da Humanidade.
“Se Angola fizer um investimento na criação de um centro de investigação sobre o tráfico de seres humanos, que ocorreu nos séculos passados, vai atrair para o país investigadores seniores, que hoje trabalham sobre o assunto”, sugeriu Miguel Almeida, acrescentando que o centro pode vir a ser um projecto capaz de atrair jovens que estão a começar a fazer investigação científica.
O arqueólogo português disse que o projecto de investigação científica sobre a escravatura tem de ser conduzido pelos próprios angolanos, depois de uma formação teórica e prática apoiada por aqueles que são os melhores da arte.
Miguel Almeida, também director de uma empresa privada de arqueologia que está a conduzir, desde 2009, um trabalho de escavação e documentação de restos mortais de escravos africanos, descartados numa lixeira na localidade de Lagos (Portugal), disse que um centro com as características do que augura para Angola pode tornar-se num caminho para criar ciência, desde que se invista financeiramente no projecto.
Miguel Almeida sugeriu que os investigadores que estiverem vinculados ao centro podem ir às universidades para ajudarem na formação de jovens, com vista a criar a “ciência pura e dura”, bem como divulgar conteúdos e valorizar a cultura nacional.
De acordo com o arqueólogo luso, para a efectivação do projecto são necessários três factores, criar o centro de investigação, estabelecer relações com as universidades e uma equipa capaz de transformar a riqueza material em conhecimento para a sociedade.
Miguel Almeida disse na sua dissertação que a escravatura, que afectou alguns países do continente africano durante séculos, continua a ter um impacto negativo nas economias dos Estados que viram partir a sua força de trabalho mais valiosa para a Europa e América, onde criaram riqueza.
“Actualmente, a escravatura continua ter um impacto negativo nas economias dos países lesados. Não há nada mais relevante para a economia de um país do que a sua juventude e nós, infelizmente, estamos a ver muitos jovens africanos a morrer no Mediterrâneo, quase todos os dias, e é evidente que isso tem um impacto extremamente negativo e tem de ser solucionado”, disse, sublinhando que “os países africanos lesados com o comércio de escravos, entre os quais Angola, devem ter um papel mais activo na abordagem do assunto.”