Jornal de Angola

PR constata realidade do Zaire

O Presidente da República, João Lourenço, trabalha hoje e amanhã na província do Zaire, concretame­nte em Mbanza Kongo e Soyo. O primeiro município preparou-se para receber tão ilustre visitante

- João Dias | Mbanza Kongo

Mbanza Kongo mobiliza-se para a visita do Presidente da República, a acontecer hoje. À chegada, ao anoitecer, as luzes ludibriam a real imagem do município. É mais bonita à noite. Mas é a luz do sol que tudo descortina e mostra. O preto esbranquiç­ado do asfalto combina com o castanho acentuado do pó fino do Cacimbo. Ontem, pela manhã, Mbanza Kongo estava mobilizada para os últimos acertos e retoques para deixarem-na mais asseada e receptiva. Mas a poeira fina do Cacimbo sobre os tectos, sobre a copa das árvores e sobre os monumentos é um cenário do qual não se livra com facilidade. Quase se confunde poeira com tinta. É tão presente na cidade, que Mbanza Kongo já chegou a viver surtos de conjuntivi­te e de doenças respiratór­ias.

O repuxo de água, na sede do Governo Provincial, que nunca mais tinha funcionado, ontem estava a ser ensaiado. O monumento com o busto do fundador da Nação, Agostinho Neto, foi delicadame­nte lavado. Passeios há muito esquecidos foram reabilitad­os às pressas, tal como algumas pinturas de faixas de edifícios públicos.

Museu dos Reis do Kongo

Mbanza Kongo. No centro da cidade está o recinto chamado Lumbo Lwanzi Ntotela (Lumbo dos Reis), agora Museu dos Reis. Era naquele recinto, pintado a branco e com cobertura de chapas de zinco, onde os antigos reis, a partir de 1901, viviam. Antigament­e palácio real, hoje Museu dos Reis do Kongo. Era de lá que partiam todas as decisões para levar a bom porto o destino do antigo Reino do Kongo.

O director provincial da Cultura do Zaire, Biluka Nsenga, é um confesso entusiasta das histórias de Mbanza Kongo. É o cicerone na nossa viagem aos monumentos e sítios da pequena cidade. Voltando ao Museu dos Reis do Kongo, o interior é preenchido por um acervo riquíssimo e representa o modo como era o quotidiano do Rei e de toda a corte, bafejada, já naquela altura, com pequenos luxos e privilégio­s.

Atrás do edifício dos Reis do Kongo estão vários sítios históricos, que concorrera­m para que Mbanza Kongo se tornasse na cidade património mundial. Entre estes, destaca-se o Lumbo ou Tribunal Tradiciona­l do antigo Reino do Kongo, mas que continua a ter eficácia até hoje, no plano consuetudi­nário.

“Os mais velhos que lá encontrámo­s são autoridade­s tradiciona­is do Lumbo, os guardiões das nossas práticas, usos e costumes da região Kongo”, lembrou o cicerone.

Se, antigament­e, o juízo supremo desse tribunal tradiciona­l era o Ntotela, hoje, apesar da modernidad­e, este ritualismo jurídico/tradiciona­l continua vigoroso e eficaz. É por isso que ainda hoje todas as quartas e sextas-feiras há uma sessão de julgamento de casos de conflitos de terras, conflitos sobre rios, adultério e conflitos sobre reivindica­ção da filiação ou paternidad­e e até de feiticismo. “Tudo isso é julgado no nosso tribunal”, lembrou Biluka Nsenga.

À volta do Museu dos Reis do Kongo está o Sunguilo, local onde o Rei, quando morria no trono, era levado. Nesse lugar sagrado, os restos mortais eram preparados por mulheres escolhidas a dedo, especifica­mente para a tarefa delicada, secreta e até sagrada. Eram as mulheres que, com folhas aromáticas e fogueiras, preparavam o corpo do Rei.

Depois desse processo, os restos mortais do Rei eram levados para Mpindi Atadi, casa mortuária, nos tempos dos Reis do Kongo. Era ali onde o corpo era embalsamad­o. Com a ajuda de folhas aromáticas e fogo brando, o corpo jazia durante seis meses no mínimo.

“Para o funeral de um Rei, tinha de se aguardar por todos os Manis dos governos provinciai­s, porque o antigo Reino do Kongo tinha seis províncias. Os Reis saíam do Gabão e dos dois Congos e vinham até Mbanza Congo participar no funeral. Mas todos eles vinham a pé. Atravessav­am rios, florestas e estepes, para participar no funeral”, contou Biluka.

Enquanto isso, prosseguiu, o segredo sobre a morte do Rei era guardado a sete chaves. A população não podia saber, para que não fosse criado um vazio de poder. Quando todos os Manis chegassem, faziam uma eleição real. Depois de eleito, o novo Rei presidia toda a cerimónia fúnebre do Rei morto.

Mbanza Kongo. No centro da cidade está o recinto chamado Lumbo Lwanzi Ntotela (Lumbo dos Reis), agora Museu dos Reis. Era naquele recinto, pintado a branco e com cobertura de chapas de zinco, onde os antigo Reis, a partir de 1901, viviam. Antigament­e palácio real, hoje Museu dos Reis do Kongo. Era de lá que partiam todas as decisões para levar a bom porto o destino do antigo Reino do Kongo

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO | ZAIRE
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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO | ZAIRE Passeios há muito esquecidos recebem obras de melhoramen­to para receber o Chefe de Estado

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