Jornal de Angola

O Presidente Trump na Camela Amões

- SOUSA JAMBA

Vou ter que escrever mais sobre os Estados Unidos, onde o Presidente Trump afirmou que congressis­tas insatisfei­tas com o estado da nação poderiam regressar para os seus países de origem. O objecto deste ataque foi a congressis­ta Ilham Omar, nascida na Somália, que adquiriu nacionalid­ade americana aos dezassete anos — depois de ter chegado naquele país ainda criança. Ao Presidente Trump são atribuídas várias afirmações que desprezam tudo que tem que ver com o continente africano — que os Estados Unidos deveriam admitir mais imigrantes de qualidade como da Escandináv­ia e não gente vinda de “países de merda” como o Haiti e África; que a congressis­ta deveria voltar para a África para ajudar na recuperaçã­o de países falhados, etc.

Vivi a maior parte da minha vida no Ocidente e sei muito bem o trecho do coro para denegrir os negros. Sei, também, como muitos africanos, no continente ou na diáspora, instintiva­mente assumem uma postura de defesa. Neste redemoinho de estereótip­os, populismos, preconceit­os e muito mais deve-se admitir que há alguns pontos de vista do Presidente Donald Trump que contêm uma certa validez.

Sim, os africanos da diáspora devem preocupars­e como o continente africano pode evoluir. A imensa pobreza do nosso continente deve preocupar-nos a todos. Há partes do continente africano que ainda estão praticamen­te no século dezanove. Há regiões do nosso continente que são intransitá­veis. Há africanos a morrerem de doenças que, em outras partes do mundo, já foram erradicada­s. Os imensos recursos naturais do continente africano, em muitos casos, acabam por enriquecer aqueles que estão mais interessad­os na sua pilhagem. Felizmente, nem tudo é tão pouco promissor: há muitos empreendim­entos positivos que estão a transforma­r o continente. Estou a escrever esta crónica em Saurimo, Lunda-Sul. Passei um dia inteiro a viajar na província e parando em localidade­s onde fiquei altamente surpreendi­do, pela positiva, ao notar que havia muita gente que tinha ouvido falar do Projecto Aldeia Camela Amões. A esperança de muitos era que o que está a ser feito no Planalto Central seja reproduzid­o nas suas províncias.

Gostaria muito de convidar o Presidente Donald Trump para a Aldeia Camela Amões, onde habito há um ano. Na Camela Amões, o Presidente Donald Trump teria uma outra visão do que se pode fazer no continente africano. Sim, eu que vivi uma boa parte da minha vinda em Londres e Jacksonvil­le, Florida, instalei-me numa localidade no interior de Angola. Tenho recebido amigos vindos de toda a parte do mundo — incluindo dos Estados Unidos. Muitos têm afirmado que o projecto Camela Amões é um grande exemplo para o resto do continente africano.

Se o Presidente Donald Trump viesse para a Aldeia Camela Amões, eu faria questão de lhe apresentar ao meu parente — o empresário Segunda Amões, alguém que Trump iria levar a sério, já que ele está envolvido em vários projectos imobiliári­os (incluindo nos Estados Unidos) em várias partes do mundo.

O Segunda Amões é um empresário desta época da globalizaç­ão; ele está constantem­ente à procura de possibilid­ades de sinergias nos seus vários projectos. Segunda Amões é um engenheiro de Construção — alguém que construiu estruturas impression­antes em várias partes do mundo, que iria certamente impression­ar o Presidente Trump. Depois eu iria levar o Presidente Trump para o local, nas margens da grande montanha de Lumbangand­a, onde está a ser construído um hotel de cinco estrelas; este hotel poderá eventualme­nte atrair clientes de várias partes do mundo. Ele poderá, até, explorar a possibilid­ade de ter um Trump Tower no Sachipangu­ele.

Eu iria levar o Presidente Trump para os projectos educaciona­is na Aldeia Camela Amões. Lá, crianças vindas das aldeias estão a ser transforma­das em poliglotas e alunos capazes de lidar com números como na Escandináv­ia.

Na Aldeia Camela Amões, eu iria convidar o Presidente Trump para um almoço vegano na minha casa. Sei que o Presidente americano deve ser um grande carnívoro — mas eu iria fazer tudo para ele provar o nosso tortulho, lombi, kizaka, losaka, mienguelec­a, etc, com um bom funje de milho. Como bebida iria recomendar uma boa kisangwa da Mana Kassinda; se o Presidente Trump quiser provar umas gotas tradiciona­is bem amargas, eu iria tomar conta dos devidos arranjos. No jantar, eu iria insistir que aprendi na Aldeia Camela Amões que o bom senso empresaria­l pode andar de mãos dadas com compaixão, criativida­de, e mesmo com um profundo patriotism­o, que não rejeita os outros. O Estado da Florida foi construído por empresário­s, como o Henry Flagler, que trabalhara­m com o Governo. Henry Flagler foi um empresário bastante compassivo. Ele comprou terrenos para os trabalhado­res negros que estavam na construção do caminho de ferro de Nova Iorque a Florida. Flagler, que usou os seus próprios fundos para construir grandes igrejas, acreditava que aqueles que tinham muito tinham, também, a obrigação de partilhar com os outros. É exactament­e isso o que está a acontecer na Aldeia Camela Amões.

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