Assentar com os parceiros as bases para o grande arranque da economia
A economia angolana ainda não está a replicar de modo adequado às intenções corporizadas no discurso político de realização de reformas profundas no Estado e, neste caso particular, de toda a máquina produtiva, de modo a conferir sustentabilidade ao novo estado de alma em que o país vive.
Num contexto como esse, é comum ouvir falar de incertezas e ouvir críticas disparadas de várias frentes, muitas delas como resultado de uma amálgama de emoções e, por vezes, sem a racionalidade suficiente para separar as águas e colocar cada coisa no seu devido lugar. Mas se, por um lado, há esse sentimento que perpassa por uma boa franja de pessoas, por outro, é de considerar notável esse exercício que faz pulsar as democracias e lhes confere particular dinâmica.
Embora a realidade aconselhe a pôr os pés no chão, os nossos anseios - talvez porque assim educamos o espírito - fixam-se na obtenção de resultados imediatos. A relação que o ser estabelece entre as intenções, o que se almeja e o resultado prático, o que há para ser conquistado, ignora que tudo é um processo e que o alcance desse objectivo implica percorrer etapas.
E não estaríamos a ver, à luz dos desenvolvimentos que temos vindo a assistir, como seria possível percorrer essas etapas, ou até mesmo queimá-las, quando necessário, se o Executivo não tivesse elegido, como uma das suas bitolas, o diálogo franco e aberto com todas as forças da sociedade, ferramenta sem a qual não seria possível conhecer em profundidade os problemas que o país atravessa.
Estes poucos meses de diálogo entre o Executivo e a classe empresarial do país já permitiram ao primeiro um manancial de informação que não teria conseguido se a opção tivesse sido governar no sentido vertical. A necessidade de a governação ver-se livre de muitos procedimentos burocráticos que entravam o normal funcionamento da economia, sem que isso signifique que a Administração prescinda da indispensável informação que é recolhida através dos processos actuais, é apenas um exemplo do que é preciso mudar para corrigir o que está mal e que impede que a economia tenha outra dinâmica.
Outras tantas incongruências há e muitas das mudanças pretendidas encontram entraves ao nível das mentalidades dominantes, que precisam de encaixar-se na nova realidade política do país.
O valor insubstituível do diálogo sério e transparente pode ser aferido nas decisões assertivas a que as partes chegam, em que prevalece o consenso e o entendimento em relação à melhor maneira de se resolver uma questão, e, por conseguinte, o compromisso de em conjunto os parceiros de negociação enfrentarem os constrangimentos que possam surgir.
Sem “prisioneiros de consciência”, as ideias, a favor e contra, em relação a um determinado assunto, desfilam e é, a partir delas, possível tirar o azimute e estabelecer o fio-de-prumo.
O Executivo soube perceber, muito cedo, que o desafio de devolver ao sector empresarial privado o protagonismo que por direito lhe cabe em qualquer economia de mercado passa por ouvir as suas preocupações, tendo, sobretudo, em conta o histórico que marcou o desenvolvimento da classe, sem que esse entendimento representasse abdicar da implementação de medidas de fundo, como o Programa de Estabilização Macroeconómica, ou alinhar pela adopção de uma política de crédito inócua e desregrada para “compensar” quem não tivesse sido beneficiado.
Seria um retrocesso imperdoável agir nos marcos desse tipo de mentalidade e não iria permitir que o país entrasse na nova era em que agora se encontra: de responsabilidade, de prestação de contas, de gestão parcimoniosa.
O compromisso de dar outro rumo à economia esteve, uma vez mais, patente no encontro que o Presidente João Lourenço realizou, terça-feira, com as associações empresariais nacionais, como corolário do conjunto de iniciativas que o Executivo tem vindo a desenvolver, a mostrar que o diálogo com os empresários vai para além do que se prende com a implementação do Imposto de Valor Acrescentado (IVA).
É que há tanta coisa por reestruturar, tanta coisa por organizar, de tal sorte que não é razoável exigir que, transcorridos dois anos, a economia como um todo comece já a apresentar resultados palpáveis.
Eles vão surgir, disso temos a certeza. Porém, nada se consegue sem trabalho. E, por falar em trabalho, exemplo prático é a presença entre nós do comboio de luxo que, a partir de Dar-es-Salaam, na Tanzânia, e passando pela Zâmbia e pela RDC, trouxe 51 turistas que ficaram maravilhados com a recepção e cultura angolanas. Na mesma altura, corria a notícia da assinatura, entre o Ministério do Ambiente e ambientalistas norte-americanos e sul-africanos, de um acordo para a gestão, por um período de 20 anos e sem envolver custos financeiros para o Estado, dos parques nacionais.
De certeza que por detrás de tudo isso esteve todo um trabalho de preparação quer para a vinda dos turistas, quer para a assinatura do acordo em relação aos parques nacionais, que vai abrir caminho para que sejam melhor aproveitados para servir o sector turístico.
Executivo e empresários estão, pois, a assentar as bases para que a economia tenha o grande arranque que todos nós esperamos.
O Executivo soube perceber, muito cedo, que o desafio de devolver ao sector empresarial privado o protagonismo que por direito lhe cabe em qualquer economia de mercado passa por ouvir as suas preocupações