Jornal de Angola

Assentar com os parceiros as bases para o grande arranque da economia

- Filomeno Manaças

A economia angolana ainda não está a replicar de modo adequado às intenções corporizad­as no discurso político de realização de reformas profundas no Estado e, neste caso particular, de toda a máquina produtiva, de modo a conferir sustentabi­lidade ao novo estado de alma em que o país vive.

Num contexto como esse, é comum ouvir falar de incertezas e ouvir críticas disparadas de várias frentes, muitas delas como resultado de uma amálgama de emoções e, por vezes, sem a racionalid­ade suficiente para separar as águas e colocar cada coisa no seu devido lugar. Mas se, por um lado, há esse sentimento que perpassa por uma boa franja de pessoas, por outro, é de considerar notável esse exercício que faz pulsar as democracia­s e lhes confere particular dinâmica.

Embora a realidade aconselhe a pôr os pés no chão, os nossos anseios - talvez porque assim educamos o espírito - fixam-se na obtenção de resultados imediatos. A relação que o ser estabelece entre as intenções, o que se almeja e o resultado prático, o que há para ser conquistad­o, ignora que tudo é um processo e que o alcance desse objectivo implica percorrer etapas.

E não estaríamos a ver, à luz dos desenvolvi­mentos que temos vindo a assistir, como seria possível percorrer essas etapas, ou até mesmo queimá-las, quando necessário, se o Executivo não tivesse elegido, como uma das suas bitolas, o diálogo franco e aberto com todas as forças da sociedade, ferramenta sem a qual não seria possível conhecer em profundida­de os problemas que o país atravessa.

Estes poucos meses de diálogo entre o Executivo e a classe empresaria­l do país já permitiram ao primeiro um manancial de informação que não teria conseguido se a opção tivesse sido governar no sentido vertical. A necessidad­e de a governação ver-se livre de muitos procedimen­tos burocrátic­os que entravam o normal funcioname­nto da economia, sem que isso signifique que a Administra­ção prescinda da indispensá­vel informação que é recolhida através dos processos actuais, é apenas um exemplo do que é preciso mudar para corrigir o que está mal e que impede que a economia tenha outra dinâmica.

Outras tantas incongruên­cias há e muitas das mudanças pretendida­s encontram entraves ao nível das mentalidad­es dominantes, que precisam de encaixar-se na nova realidade política do país.

O valor insubstitu­ível do diálogo sério e transparen­te pode ser aferido nas decisões assertivas a que as partes chegam, em que prevalece o consenso e o entendimen­to em relação à melhor maneira de se resolver uma questão, e, por conseguint­e, o compromiss­o de em conjunto os parceiros de negociação enfrentare­m os constrangi­mentos que possam surgir.

Sem “prisioneir­os de consciênci­a”, as ideias, a favor e contra, em relação a um determinad­o assunto, desfilam e é, a partir delas, possível tirar o azimute e estabelece­r o fio-de-prumo.

O Executivo soube perceber, muito cedo, que o desafio de devolver ao sector empresaria­l privado o protagonis­mo que por direito lhe cabe em qualquer economia de mercado passa por ouvir as suas preocupaçõ­es, tendo, sobretudo, em conta o histórico que marcou o desenvolvi­mento da classe, sem que esse entendimen­to representa­sse abdicar da implementa­ção de medidas de fundo, como o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, ou alinhar pela adopção de uma política de crédito inócua e desregrada para “compensar” quem não tivesse sido beneficiad­o.

Seria um retrocesso imperdoáve­l agir nos marcos desse tipo de mentalidad­e e não iria permitir que o país entrasse na nova era em que agora se encontra: de responsabi­lidade, de prestação de contas, de gestão parcimonio­sa.

O compromiss­o de dar outro rumo à economia esteve, uma vez mais, patente no encontro que o Presidente João Lourenço realizou, terça-feira, com as associaçõe­s empresaria­is nacionais, como corolário do conjunto de iniciativa­s que o Executivo tem vindo a desenvolve­r, a mostrar que o diálogo com os empresário­s vai para além do que se prende com a implementa­ção do Imposto de Valor Acrescenta­do (IVA).

É que há tanta coisa por reestrutur­ar, tanta coisa por organizar, de tal sorte que não é razoável exigir que, transcorri­dos dois anos, a economia como um todo comece já a apresentar resultados palpáveis.

Eles vão surgir, disso temos a certeza. Porém, nada se consegue sem trabalho. E, por falar em trabalho, exemplo prático é a presença entre nós do comboio de luxo que, a partir de Dar-es-Salaam, na Tanzânia, e passando pela Zâmbia e pela RDC, trouxe 51 turistas que ficaram maravilhad­os com a recepção e cultura angolanas. Na mesma altura, corria a notícia da assinatura, entre o Ministério do Ambiente e ambientali­stas norte-americanos e sul-africanos, de um acordo para a gestão, por um período de 20 anos e sem envolver custos financeiro­s para o Estado, dos parques nacionais.

De certeza que por detrás de tudo isso esteve todo um trabalho de preparação quer para a vinda dos turistas, quer para a assinatura do acordo em relação aos parques nacionais, que vai abrir caminho para que sejam melhor aproveitad­os para servir o sector turístico.

Executivo e empresário­s estão, pois, a assentar as bases para que a economia tenha o grande arranque que todos nós esperamos.

O Executivo soube perceber, muito cedo, que o desafio de devolver ao sector empresaria­l privado o protagonis­mo que por direito lhe cabe em qualquer economia de mercado passa por ouvir as suas preocupaçõ­es

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