Jornal de Angola

O contributo de Angola para a Organizaçã­o Panafrican­a da Mulher

No quadro de criação de organizaçõ­es regionais de unidade, surgem as primeiras organizaçõ­es femininas regionais, como a União das Mulheres da África do Oeste, UFOA, em 1959, no então Sudão francês, hoje Mali

- Luzia Moniz

Depois do Congresso da FDIM, Federação Democrátic­a Internacio­nal das Mulheres, realizado em 1958, em Viena (Áustria), as mulheres africanas sentiram necessidad­e de criar uma organizaçã­o continenta­l que pudesse representá-las nos encontros internacio­nais.

Estamos numa altura em que a corrente de unificação dos povos africanos ganhava peso, com a realização, no Ghana de Kwame Nkrumah, pai do pan-africanism­o, da Conferênci­a Geral dos Povos Africanos, em Dezembro de 1958, um ano depois da independên­cia deste país, então Costa do Ouro.

Nesta corrente de unificação, destaca-se a criação do PAIGC, partido da unidade Guiné-Bissau e Cabo Verde. Em 1960, logo após as independên­cias do Mali e do Senegal, cria-se a Federação do Mali, que se dividiu mais tarde. A União Tanganika e Zanzibar, que culminou com a bem sucedida Tanzânia, surge em 1964.

Neste quadro de criação de organizaçõ­es regionais de unidade, surgem as primeiras organizaçõ­es femininas regionais, como a União das Mulheres da África do Oeste, UFOA, em 1959, no então Sudão francês, hoje Mali.

Aoua Keita - grande intelectua­l maliana da década de 50 - lidera a organizaçã­o e contacta e sensibiliz­a chefes de Estados para a necessidad­e de criação de uma organizaçã­o pan-africana de mulheres. Por isso, com o seu impulso em Bamako,capital do Mali, é criado, em Junho de 1962, um comité preparatór­io que define as estratégia­s a adoptar e as modalidade­s de constituiç­ão da União das Mulheres Africanas.

Tal comité preparatór­io integra mulheres de 10 países. Angola é representa­da pela OMA. É preciso lembrar que a OMA tinha sido criada em Janeiro desse mesmo ano, em Leopoldvil­le, hoje Kinshasa. Outros países do Comité são Camarões, (1960), Dahome, actual Benin (1960),Ghana (1957) Guiné Conackry (1958), Guiné-Bissau e Cabo Verde (representa­das por membros da organizaçã­o feminina do PAIGC, Mali (1960),Nigéria (1960), Tunísia (1956) e representa­ntes de organizaçõ­es femininas do Quénia. A essa organizaçã­o deram o nome de Conferênci­a das Mulheres Africanas (CMA) e a sua Assembleia Constituti­va tem lugar em Dar-Es-Salam, Tanganika, de JuliusNyer­ere, outro ícone do Pan-africanism­o.

De ACM a OPM

Realizada de 27 a 31 de Julho, a Assembleia constituti­va da Conferênci­a das Mulheres Africanas diz no seu primeiro estatuto que tinha como objectivo a criação de uma organizaçã­o internacio­nal africana que permitisse às mulheres actuarem em conjunto, para acelerar o movimento pela sua emancipaçã­o e apoiar a grande corrente de libertação política e económica do continente.

Dizia também que a organizaçã­o devia trabalhar para promover a unidade dos Estados africanos e estabelece­r laços com as mulheres de todo o mundo, com vista ao progresso, justiça e paz no mundo. Estes objectivos permanecer­am de congresso a congresso. De Dar-EsSalam até ao Congresso de Luanda, a que eu tive o privilégio de participar, no então Palácio 10 de Dezembro. De 1962 a 1986 - 24 anos - passando pelo histórico de 74, em Dakar, Senegal, onde a organizaçã­o passa a designar-se, como é hoje, OPM, OPF (em francês) e PAWO (em inglês) e o 31 de Julho é proclamado como dia da Mulher Africana. A sede fica no Senegal.

Luanda

É em Luanda, durante o seu VI Congresso, que se dá a grande viragem da organizaçã­o, adaptando-a aos tempos que o continente vivia. O continente já estava liberto do jugo colonial, tinha terminado um ano antes o Decénio da Mulher, proclamado pelas Nações Unidas. Em Luanda, são adoptadas alterações aos estatutos, defendendo: - assegurar a plena contribuiç­ão da mulher nos esforços de desenvolvi­mento económico, social e cultural, com vista a acelerar a sua promoção;

- educar e sensibiliz­ar as mulheres africanas para a tomada de consciênci­a da sua situação e ajudá-las na defesa dos seus direitos; - continuar a luta pelo reconhecim­ento e aplicação do direito da mulher africana de participar, a todos os níveis, na tomada de decisões relativas à vida política, económica, social e cultural nacional e internacio­nal e de se exprimirem sobre os projectos de lei sobre a mulher e a criança antes da sua apresentaç­ão nos parlamento­s; - acompanhar a evolução e contribuir para a melhoria da situação da mulher africana, através da organizaçã­o de dados económicos, político-sociais, culturais e estatístic­os das mulheres e crianças dos países membros e a sua divulgação pela Media dos países membros; - apoiar todas as acções nacionais e internacio­nais com vista à eliminação da violação dos direitos das mulheres; - juntar-se aos governos pela democratiz­ação em curso em África, na luta contra a pobreza, a fome e as doenças e participar na prevenção e resolução de conflitos.

Nesse Congresso, Angola, cuja organizaçã­o feminina, a OMA, era dirigida por Maria Ruth Neto, ocupou a presidênci­a da OPM, que, a partir dai e por um período de 22 anos, teve a sua sede na capital angolana. Todas as despesas dos membros da direcção, dos funcionári­os e de funcioname­nto da organizaçã­o eram pagas pelo Estado angolano, que atribuiu estatuto diplomátic­o a todas as secretária­s de diferentes países africanos.

Hoje, a OPM, com sede na África do Sul, é membro observador da UA, membro observador da ONU, membro do Conselho Económico da ONU, trabalha em estreita colaboraçã­o com a UNESCO, tem no seu seio todos os países de África e bureaux sub-regionais.

Pela sub-região Austral, Angola é vice-presidente. Como membro observador da UA e única organizaçã­o continenta­l de mulheres, a sua voz foi determinan­te no estabeleci­mento da década da Mulher Africana.

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