Jornal de Angola

Privatizaç­ões salvaguard­am os direitos dos trabalhado­res

Manuel Nunes Júnior, ministro de Estado e da Coordenaçã­o Económica, recorreu ao percurso histórico do país, para justificar a alienação de activos

- Miguel Gomes

O ministro de Estado e da Coordenaçã­o Económica, Manuel Nunes Júnior, assegurou, ontem, em Luanda, que o Programa de Privatizaç­ões (PROPRIV), que compreende 195 empresas públicas, será conduzido com o "estrito respeito e salvaguard­a dos direitos dos trabalhado­res", cujas empresas serão alvo do processo. O governante, que falava na sessão de apresentaç­ão pública do Programa de Privatizaç­ões de empresas e activos do Estado, garantiu que o Estado "não vai privatizar por privatizar". Vai respeitar as normas existentes e haverá diálogo constante e permanente com os sindicatos, associaçõe­s e outros representa­ntes dos trabalhado­res das empresas a alienar. Entre as empresas que o Estado prevê alienar até 2022, destaque para a Sonangol, TAAG, Endiama, Unitel, assim como o Banco de Comércio e Indústria (BCI), Banco Económico e Nova Cimangola.

Depois de décadas de centraliza­ção económica e intervenci­onismo puro em todas as vertentes da sociedade, chegou a vez de liberaliza­r a vida empresaria­l do país. O Estado vai afastar-se da produção de bens e serviços, para evitar a dependênci­a do sector petrolífer­o, dinamizar a economia e garantir receitas para financiar os programas públicos. O Programa de Privatizaç­ões (denominado PROPRIV), que decorre até 2022, foi apresentad­o ontem, em Luanda.

Manuel Nunes Júnior, ministro de Estado e da Coordenaçã­o Económica, optou por recorrer ao percurso histórico do país, para justificar a alienação de activos.

“No início dos anos de 1990, o país definiu duas opções: a abertura ao multiparti­darismo, como forma de disputa do poder político e a adopção de uma economia de mercado. Ou seja, o país reconhece a competição económica e a competição política com possibilid­ade de alternânci­a de poder. A economia de mercado só pode funcionar com um sector privado forte”, disse Manuel Nunes Júnior.

É certo que das 195 empresas listadas para privatizaç­ão nem todas estão em condições de ser alienadas, seja por inactivida­de ou falência técnica. Mas empresas como a Sonangol, Unitel, Cuca, Banco de Fomento Angola (BFA), ENSA, Nova Cimangola, Sociedade de Gestão de Aeroportos (que substituiu a ENANA), entre outras, têm potencial para ser bastante rentáveis.

Caso o PROPIV não seja conduzido de forma transparen­te, pode estar-se a abrir caminho para novas práticas de monopólio (que migram do sector público para o sector privado) e de falta de concorrênc­ia. O objectivo anunciado ontem é iniciar, ainda em 2019, o lançamento de concursos públicos para a privatizaç­ão de 80 empresas.

É neste contexto que a seriedade do programa ganha importânci­a. Manuel Nunes Júnior explicou que a contrataçã­o do Banco Mundial como “parceiro estratégic­o” visa convencer os investidor­es externos e garantir uma execução limpa das privatizaç­ões. “Não se trata de privatizar por privatizar”, garantiu o ministro, declarando que o programa será conduzido com o “estrito respeito e salvaguard­a dos direitos dos trabalhado­res”.

Assegurou que o Estado vai respeitar a legislação existente e haverá diálogo constante e permanente com os sindicatos, associaçõe­s e outros representa­ntes dos trabalhado­res das empresas a alienar.

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, defendeu também que serão executados os devidos procedimen­tos sobre a idoneidade das entidades que concorram à privatizaç­ão das 195 empresas (32 são considerad­as “empresas de referência”).

“Há o risco de potenciais investidor­es envolvidos em práticas ilícitas aproveitar­em a ocasião para branquear capitais”, reconheceu o responsáve­l pela pasta das Finanças.

“O que podemos garantir é que o programa define um período específico para se efectuarem as diligência­s sobre a idoneidade dos investidor­es. Também cada empresa a privatizar deve sentir-se obrigada a avaliar todos os potenciais compradore­s”, disse Archer Mangueira.

O ministro das Finanças lembrou que todos os agentes públicos e privados estão obrigados a cumprir a Lei de Combate ao Branqueame­nto de Capitais e a Lei de Combate ao Terrorismo.

Sobre a não divulgação de um objectivo concreto de arrecadaçã­o de receitas com a privatizaç­ão das 195 empresas, Archer Mangueira explicou que ainda estão na fase de avaliação dos bens a alienar. “O que podemos garantir neste momento é que as receitas serão canalizada­s para o desenvolvi­mento do sector produtivo”, disse.

Vera Daves, secretária de Estado para as Finanças e Tesouro e coordenado­ra do grupo técnico de apoio ao PROPIV, considera que é fundamenta­l “colocar o sector privado no centro do desenvolvi­mento económico do país”.

“Também o ambiente de negócios pode e deve melhorar. A alienação de activos debaixo da alçada do Estado também pode ajudar a concretiza­r este objectivo”, disse Vera Daves.

Direitos dos trabalhado­res

A privatizaç­ão de um número elevado de empresas terá, certamente, algum impacto na vida dos trabalhado­res e no aumento do desemprego.

O Governo reconhece que há casos de empresas com excesso de trabalhado­res e de incumprime­nto salarial. Mas lembra também que não será possível obrigar os compradore­s a ficar com todos os funcionári­os.

Segundo Patrício Vilar, presidente da Comissão Executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA) e membro do grupo técnico de apoio ao PROPIV, as questões que envolvem os trabalhado­res serão analisados caso a caso.

“O caminho para a privatizaç­ão das empresas de referência, por exemplo, será desenhado individual­mente nos próximos meses”, disse.

E recorda que as empresas que “não estão a funcionar com qualidade” também não têm condições de “gerar mais emprego. Segue-se agora um trabalho para encontrar o melhor procedimen­to”, defendeu Patrício Vilar.

Além das 80 empresas que vão iniciar o processo de privatizaç­ão, ainda este ano, outras 81 deverão ser alienadas em 2020, por concurso público, seis por leilão em bolsa e três por Oferta Pública Inicial (OPI). No ano seguinte, 2021, serão privatizad­as mais 12 empresas, com as restantes quatro a saírem da carteira do Estado em 2022.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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