Três épocas marcam a Fotografia
O pesquisador de cinema e fotografia, Nambi Wanderley Vieira Quintino revelou que o surgimento e massificação da fotografia em Angola resume-se a três épocas distintas: “do período da colonização até à Independência, da época pósIndependência até 1992, e desta ao tempo actual”.
De acordo com a pesquisa que serviu para a sua tese de licenciatura, no Curso de Ciências da Comunicação, em 2010, o fotógrafo e docente universitário explica que a primeira fase foi dominada basicamente pelos fotógrafos portugueses, com destaque para a mudança brusca, em 1948, com o slogan “Vamos descobrir Angola”, liderado por Viriato da Cruz. Ao processo juntaram-se fotógrafos e entusiastas de todas as raças de Angola, começando a retratar o país de lés a lés. Documentaram todos os aspectos da vida quotidiana angolana e, ao mesmo tempo, vários anónimos faziam os álbuns de família e fotos publicitárias”.
Como segundo momento aponta a “Era da conquista e reforma”. Explicou que o período pós-Independência a 1992, logo no início, foi caracterizado pela afirmação dos nacionais. Nessa altura, acrescenta, os autóctones que ganharam a simpatia dos colonos, então patrões, ficaram com os estúdios de fotografia que estes deixaram na hora da fuga. Desta forma, alguns nacionais tornaram-se patrões.
“Os angolanos assumem assim a liderança da fotografia em Angola”. Destaca também, após o 27 de Maio de 1977, o controlo da fotografia institucional pelo Estado, com a criação da Agência de Fotografia ENFOTO-DIPE, que era responsável pela cobertura de actividades governamentais.
“Grande parte dos fotógrafos ao serviço do Estado, nesta época, receberam capacitação e formação no exterior, com destaque para Rússia, Bulgária e Alemanha. Internamente, a formação foi orientada por professores cubanos”, salientou.
O antigo director executivo da Revista Talentos, Nambi Wanderley explicou que parte dos fotógrafos que surgiram de 1992 em diante receberam experiência e ensinamentos dos mais velhos da época anterior, 1975 a 92.
Para o professor, que lecciona a cadeira de Escrita para os media, Fotojornalismo e Técnicas de Imprensa, no Instituto Superior e Politécnico de Angola (ISIA), a terceira época, de 1992 ao tempo actual, é considerada era do “boom” da fotografia em Angola. Taxa como o período em que se registou o surgimento e massificação de fotógrafos, com maior destaque para Luanda.
“Com o êxodo populacional do interior para as grandes cidades, devido ao recrudescimento da guerra em 92, os médicos de nacionalidade vietnamita, que trabalhavam em Angola, viram no grupo de jovens em idade activa, concentrados em Luanda, a oportunidade de investirem na fotografia. Importaram laboratórios fotográficos, máquinas semi-profissionais e profissionais e instalaramse em pontos estratégicos da cidade. Venderam máquinas a baixo custo e lançaram preços atraentes nos laboratórios”.
Desta forma, resume, surgiram vários fotógrafos que ploriferaram os jardins, conservatórias, festas de aniversário e de casamento, campos de futebol e outros lugares, sustentando famílias, através do “click” da máquina fotográfica, numa profissão em que muitos ainda persistem até ao momento.
De acordo com o docente universitário, em Angola não há escolas para ensino específico da fotografia. Revelou existirem associações que têm contribuído para o efeito, na vertente prática e direccionada aos associados. Dada a sua importância, o fotojornalista considera que o ensino da fotografia deveria ser implementado nas escolas a partir do ensino primário.
Quanto ao associativismo fotográfico em Angola, garante que é débil, a julgar pelo desempenho das poucas instituições que existem, tendo em conta a falta de projectos e programas que satisfaçam os interesses dos associados.
“Infelizmente, as pessoas ainda entram no associativismo fotográfico, pensando satisfazer interesses pessoais. Enquanto assim for, dificilmente teremos instituições capazes de ajudar o desenvolvimento da actividade em Angola” .