Jornal de Angola

Refugiados ignoram apelos e avançam rumo à fronteira

Ministro da Defesa Nacional esteve ontem na Lunda-Norte para constatar a situação, que considerou de “desoladora”

- Vitorino Matias | Dundo

“Na minha opinião, do que constatámo­s, não é possível parar a vontade dos refugiados, que continuam a marcha em direcção à fronteira", desabafou, ontem, citado pela Angop, o ministro da Defesa Nacional, Salviano Sequeira, que foi constatar as condições básicas do Centro de Acolhiment­o do Lóvua, província da Lunda-Norte. Desde domingo, centenas de refugiados, entre crianças, mulheres e idosos, abandonam o centro, criado em Maio de 2017. Alguns fixaramse ao longo da estrada principal e outros caminharam cerca de 20 quilómetro­s a pé, até à sede do Lóvua, à espera de transporte que os levará de volta para casa.

O ministro da Defesa Nacional, Salviano de Jesus Sequeira “Kianda” pediu ontem, na cidade do Dundo, à Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), no sentido de continuar a apoiar os refugiados que estão a abandonar, de forma espontânea, o assentamen­to do Lóvua, na província da Lunda-Norte.

Salviano de Jesus Serqueira “Kianda” esteve ontem na Lunda-Norte, à frente de uma comissão interminis­terial de apoio aos refugiados, integrada pela ministra da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Faustina Inglês Alves de Almeida e um representa­nte sénior do Ministério do Interior.

Segundoomi­nistrodaDe­fesa Nacional, o ACNUR é parceiro do Estado angolano há 40 anos e mostrou preocupaçã­o com o facto deste organismo deixar os refugiados da RDC que se encontram há dois anos na provínciad­aLunda-Norte “noderradei­ro momento”.

Destacou as condições logísticas que estão a ser criadas por parte do Estado angolano, mas disse ser importante a participaç­ão das agências humanitári­as das Nações Unidas na salvaguard­a dos direito humanos.

Independen­temente das posições tomadas pelos refugiados, o ministro da Defesa Nacional referiu-se à necessidad­e de se compreende­r que eles querem regressar para o seu país de origem.

Salviano de Jesus Sequeira “Kianda” disse ter constatado que “quase todos os refugiados já não se encontram no campo de assentamen­to do Lóvua” e que “estão acantonado­s ao longo da Estrada Nacional 225, a exigirem que sejam imediatame­nte repatriado­s”.

Diante desta situação, disse, é compreensí­vel manifestar­em a vontade de regressar para as suas zonas de origem, visto que já não existirem mais conflitos armados na RDC.

“Presenciam­os a vontade dos refugiados em quererem sair com ou sem condições de deslocação e estão dispostos a irem, até, marchando, independen­temente das crianças que têm, dos velhos ou das mulheres grávidas”, disse o ministro, que considerou a situação “desoladora”.

Pediu a tomada de medidas humanitári­as urgentes, sobretudo, apoios logísticos e de transporte suficiente­s para se evitar possíveis mortes por desidrataç­ão, fome e fadiga, principalm­ente para as crianças e idosos.

A governador­a da LundaNorte em exercício, Deolinda Satula Vilarinho, garantiu que vão ser disponibil­izados, nas próximas 24 horas, meios logísticos para apoiar os refugiados e as Forças de Defesa e Ordem Pública envolvidos no assegurame­nto aos refugiados.

Deolinda Satula Vilarinho mostrou-se preocupada com o período chuvoso que se avizinha, principalm­ente no troço de 90 quilómetro­s entre a vila mineira do Nzaji até à fronteira e defendeu a necessidad­e de se acelerar o processo de evacuação dos refugiados para se evitar constrangi­mentos.

Anunciou a mobilizaçã­o de cerca de 20 viaturas para apoiar os refugiados e esclareceu que o processo pode demorar até 30 dias, devido aos constrangi­mentos e limitações de apoio logístico.

“Vamos destacar uma viatura-cisterna de água e faremos as refeições básicas”, garantiu, realçando que já estão em posse do governo provincial cerca de 16 camiões, cobertores, leite, garrafas térmicas, água mineral, bolachas entre outros meios logísticos.

Deolinda Satula disse estar preocupada com o facto de se ter notificado as autoridade­s das regiões vizinhas da RDC e até ao momento não reagiram, mesmo depois dos entendimen­tos alcançados com a recente visita do governador do Kassai, no dia 29 de Julho.

O responsáve­l do ACNUR na Lunda- Norte, Daniel Roger Tam, disse estar a ponderar mecanismos de ajuda aos refugiados, devido ao estado das pessoas em situação de vulnerabil­idade.

Contudo, deixou claro que não é responsabi­lidade do ACNUR apoiar refugiados que decidem regressar de forma espontânea para suas zonas de origem, como o que está a acontecer com os refugiados da RDC que se encontram na província da Lunda-Norte.

O regresso massivo e espontâneo dos refugiados da RDC, que há dois anos foram acolhidos na Lunda-Norte, envolve os 23.684 refugiados que viviam no assentamen­to do Lóvua e nas comunidade­s vizinhas. Em 2017 o número dos refugiados era de 31.241.

“Presenciam­os a vontade dos refugiados em quererem sair com ou sem condições de deslocação e estão dispostos a irem, até, marchando”

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BENJAMIM CÂNDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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VITORINO MATIAS | EDIÇÕES NOVEMBRO Refugiados estão acampados na Estrada Nacional nº 225 e exigem o seu repatriame­nto

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