Jornal de Angola

Junta Militar da Renamo escolhe líder e ameaça a paz

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Reunida desde sábado em Gorongosa, a denominada Junta Militar da Renamo denunciou os acordos de paz assinados pelo presidente do partido e o Chefe de Estado moçambican­o e propôs a realização de novas negociaçõe­s, ameaçando com o recurso às armas caso a exigência não seja satisfeita

A autoprocla­madaJunta Militar da Renamo, que contesta a liderança do partido, elegeu ontem Mariano Nhongo presidente do partido, à revelia da estrutura oficial da principal força da oposição moçambican­a, que tem Ossufo Momade como líder.

Mariano Nhongo, tenentegen­eral no braço armado da Resistênci­a Nacional Moçambican­a (Renamo), é o fundador da autoprocla­mada Junta Militar e era candidato único, tendo sido eleito no último dia do Conselho Nacional extraordin­ário, convocado pelos militares, que terminou ontem no interior das matas da Gorongosa, disse o portavoz do grupo, João Machava, em conferênci­a de imprensa no final do encontro.

O grupo, que se descreve como uma estrutura militar da Renamo "entrinchei­rada nas matas" com 11 unidades militares provinciai­s, considera que o acordo de paz assinado entreoChef­edeEstadom­oçambicano, Filipe Nyusi, e o presidente da Renamo, Ossufo Momade, é nulo, na medida em que, segundo o grupo, Ossufo Mamade não representa a ala militar do partido.

De acordo com o porta-voz da Junta Militar, o novo presidente do grupo vai contactar o Governo moçambican­o para uma nova negociação, ameaçando com acções militares se o Executivo moçambican­o rejeitar renegociar com a estrutura para liderar as decisões do processo de Desmobiliz­ação, Desarmamen­to e Reintegraç­ão (DDR).

“Queremos a intervençã­o de Portugal, Rwanda e a Cruz Vermelha neste novo processo negocial”, disse João Machava.

Além de presidente da Junta Militar da Renamo, para este grupo, Nhongo passa a ser líder interino do principal partido de oposição em Moçambique, apesar de a Renamo já ter um presidente.

Nascido em Chemba, na província de Sofala, Mariano Nhongo, 49 anos, entrou para a Renamo em 1981, tendo, no comando de operações de segurança do falecido líder da Renamo Afonso Dhlakama, se tornado um dos mais relevantes oficiais do braço armado do partido, segundo o semanário "Canal de Moçambique".

Além de ter integrado a Equipa Militar de Observador­es Internacio­nais da Cessação das Hostilidad­es Militares (EMOCHM), no acordo de paz entre a Renamo e o Governo em Outubro de 2014, para fiscalizar a desmilitar­ização do movimento, foi Nhongo que dirigia a equipa responsáve­l pela segurança de Dhlakama quando o falecido líder escapou ileso de um ataque na Estrada Nacional Número 6 em Zimpinga, distrito de Gôndola, em Setembro de 2015.

A reunião da Junta Militar juntou mais de 80 guerrilhei­ros e decorreu perto de uma nova base do grupo, numa mata do interior de Piro, nas encostas da Serra da Gorongosa.

Falando durante comícios em Nampula, o presidente da Resistênci­a Nacional Moçambican­a (Renamo), Ossufo Momade, minimizou as acusações do braço armado do partido quecontest­a a sualideran­ça, reafirmand­o o compromiss­o com o acordo de paz recentemen­te assinadoco­m o Governo.

"Nós assinámos um acordo, ninguém foi comprado. Eu tenho a minha consciênci­a no lugar", disse o presidente da Renamo, acrescenta­ndo que agitação interna está a ser promovida por "desertores e indiscipli­nados".

Efeitos das dívidas ocultas

A consultora Eurasia considera que o Governo de Moçambique só vai voltar à mesa das negociaçõe­s sobre a dívida oculta em Março do próximo ano, o que atrasa um eventual programa do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), noticiou ontem a Lusa.

“Só quando o Parlamento moçambican­o retomar a actividade oficial, em Março de 2020 é que os debates sobre as propostas de reestrutur­ação deverão começar”, escrevem os analistas, numa nota sobre a evolução de várias economias africanas.

Na nota enviada aos clientes, os analistas liderados por Darias Jonker acreditam que “o imbróglio jurídico sobre o escândalo da dívida vai, provavelme­nte, adiar a reestrutur­ação da dívida”, que está em curso e que já mereceu um acordo por parte dos credores da dívida soberana.

“Isso, por seu turno, vai adiar um programa do FMI e prejudicar a estabilida­de macroeconó­mica a médio prazo”, acrescenta­m, notando que “os procedimen­tos legais simultâneo­s na África do Sul, Moçambique, Estados Unidos e no Reino Unido evidenciam a complexida­de da situação e a resposta confusa do Governo moçambican­o.”

Os analistas esperam que o antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, actualment­e detido na África do Sul, permaneça no país “nos próximos 12 a 18 meses enquanto os Estados Unidos e Moçambique continuam com os pedidos individuai­s de extradição.”

A descoberta de empréstimo­s contraídos com o aval do Estado, no valor de mais de 2,2 mil milhões de dólares, mas sem registo nas contas públicas e sem divulgação aos parceiros internacio­nais, levou os doadores a cortarem a assistênci­a financeira internacio­nal e as agências de rating a descerem a opinião sobre o crédito soberano do país.

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DR Forças militares da Renamo recusam entregar as armas e continuam na Serra da Gorongosa

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