O regresso a pé dos refugiados congoleses
Setenta e duas horas depois da comemoração do Dia Internacional da Ajuda Humanitária, somos hoje confrontados com informações que apontam para o regresso voluntário, e contra todas as expectativas de um processo organizado envolvendo o Estado angolano, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), de oito mil refugiados congoleses. Abandonaram a localidade do Lóvua, na Lunda-Norte, para caminharem voluntariamente até ao país natal, República Democrática do Congo (RDC), numa altura em que se encontrava já calendarizada, de acordo com acerto entre as autoridades angolanas, congolesas e o ACNUR, para iniciar em Setembro.
Os oito mil cidadãos congoleses não estão a ser “forçados” a regressar nas condições em que estão a fazer, tratando-se de uma decisão unilateral e esta decisão está inclusive estampada em cartazes que os mesmos ostentaram para indicar que estão irredutíveis no regresso.
Em francês, constava de um cartaz com dizeres como os seguintes “Refugié - D´abord Retour Au Congo", (Refugiado - Em primeiro lugar o regresso ao Congo), numa das concentrações do referido contingente, tal como retratada na foto da edição de ontem do Jornal de Angola.
Atendendo aos desafios, sobretudo de segurança e humanitários, que as populações vão enfrentar na caminhada a pé até entrarem no território da RDC, num contingente que envolve velhos, crianças e mulheres em estado de gestação, não há dúvidas de que podem surgir problemas.
Tudo estão ainda a fazer as autoridades provinciais no sentido de demoverem as populações da decisão de seguirem para o país natal, solicitação que encontra resistência no seio dos refugiados.
É preciso que fique claro para a opinião pública angolana, congolesa e internacional que os refugiados não estão a partir de regresso à RDC por qualquer outra razão se não a decisão unilateral de regressar, como reconheceu o responsável do ACNUR na Lunda-Norte, Roger Tam.
Na verdade, tudo quanto as autoridades provinciais, na Lunda-Norte, e o ACNUR estão a fazer é procurar instar os refugiados a respeitarem os compromissos acordados para o cumprimento do calendário que aponta para o mês de Setembro. Mas em todas estas diligências, está-se a respeitar também a vontade e decisão unilateral daqueles que antecipadamente pretendem fazer-se à estrada para, como dizem os seus cartazes “antes de tudo, regressar ao Congo”.
Apenas esperemos que o regresso corra bem e tal como prometeu, no dia 29 de Julho, o governador da província congolesa do Kassai Central, dando garantia das condições criadas para o acolhimento dos seus compatriotas, todos os retornados cheguem são e salvos na RDC.
Regressar a pé para as diferentes localidades da RDC, partindo do Lóvua, na Lunda-Norte, não vai ser uma tarefa simples, segura e saudável para pessoas vulneráveis como velhos, crianças, mulheres grávidas, sendo os refugiados que decidiram partir antecipadamente os únicos responsáveis pelas consequências.