Irão mantém retenção de petroleiro britânico
O Governo iraniano disse que o navio britânico “Stena Impero” vai continuar retido no Irão, enquanto durar o processo judicial, e avisou os Estados Unidos para não tentarem deter o petroleiro “Grace 1” recentemente libertado pelas autoridadaes de Gibraltar
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Moussavi, garantiu, ontem, em conferência de imprensa, não haver qualquer relação entre a detenção desses dois navios, apesar de o “Stena Impero” ter sido capturado pela Guarda Revolucionária duas semanas após a Marinha britânica ter arrestado o petroleiro iraniano.
“Temos de aguardar por uma ordem judicial para libertar o navio infractor britânico, que cometeu três violações marítimas”, disse Abbas Moussavi.
Na quinta-feira, o Tribunal de Gibraltar decidiu libertar o petroleiro que estava retido desde o início de Julho, tendo os Estados Unidos pedido para o navio ser detido novamente devido a alegadas violações das sanções aplicadas a Teerão.
O “Grace 1”, que mudou o nome para “Adrian Daria”, partiu no domingo à noite para o porto grego de Kalamata.
O petroleiro iraniano tinha sido detido em Gibraltar no início de Julho, acusado de violar as sanções da União Europeia (UE) contra a Síria, por alegadamente transportar 2,1 milhões de barris de petróleo para aquele país, o que Teerão sempre rejeitou.
“A acção do Governo britânico e do Governo de Gibraltar para tomar posse do ‘Grace1’ foi ilegal e já declarámos este acto como pirataria e que nenhuma lei internacional concederá permissão”, disse o porta-voz do MNE iraniano.
Abbas Moussavi considerou ainda ter ficado demonstrado que Gibraltar já não segue as ordens de Washington, quando rejeitou o pedido feito na sextafeira pelos Estados Unidos para que o Governo de Gibraltar voltasse a deter o petroleiro iraniano.
Gibraltar demarca-se
As autoridades de Gibraltar responderam no domingo que não podem cumprir a ordem porque as sanções dos EUA ao Irão não se aplicam à legislação do Reino Unido e do resto da União Europeia, que não considera a Guarda Revolucionária como um grupo terrorista.
Perante outras manobras possíveis dos Estados Unidos, Abbas Moussavi explicou que Teerão fez as advertências necessárias às autoridades norte-americanas, “através dos canais oficiais e especialmente através da Embaixada da Suíça (que representa os interesses de Washington em Teerão), para que não fossem cometidos nenhuns erros.”
O porta-voz acrescentou que, se for tentada novamente a detenção do petroleiro, “haverá consequências graves.”
O “Stena Impero”, cuja captura agravou a crise diplomática entre Teerão e Londres, está, desde 19 de Julho, no porto de Bandar Abas, acusado de não respeitar as regras de navegação, algo que a empresa de navegação nega.
“Temos de aguardar por uma ordem judicial para libertar o navio infractor britânico, que cometeu três violações marítimas”, declarou um porta-voz iraniano
O porta-voz da diplomacia do Irão disse ontem que não se tratou de uma medida de represália e que aguarda uma “rápida” decisão judicial sobre o petroleiro britânico.
A tensão entre o Irão e os Estados Unidos tem estado alta desde que o Presidente dos EUA, Donald Trump, retirou o país do acordo sobre o programa nuclear do Irão de 2015 e voltou a impor sanções a Teerão.
A isto, somou-se uma série de incidentes no Golfo Pérsico, onde se regista ataques a petroleiros e cargueiros desde Maio, além de derrube de drones.
O Governo de Gibraltar recusou o pedido dos EUA para reter o petroleiro, autorizado por um tribunal a sair das águas territoriais do Reino Unido, no Sul da Espanha.
“Ao abrigo do Direito europeu, Gibraltar está impossibilitado de prestar a assistência pedida pelos Estados Unidos”, que querem a detenção do petroleiro em virtude das sanções norte-americanas ao Irão, explicaram as autoridades gibraltinas num comunicado.