Nações Unidas temem tragédia humanitária
A situação de insegurança no Burkina Faso voltou a agravarse com uma nova onda de ataques "terroristas", que voltam a colocar o país à beira de uma tragédia humanitária
Pelo menos 29 pessoas morreram, segunda-feira, no Burkina Faso, em dois ataques diferentes, alegadamente perpetrados por extremistas, disse o porta-voz do Governo.
Uma caravana, que transportava alimentos e passageiros entre as localidades de Kelbo e Dablo, na região Centro-Norte do país, foi atacada por homens não identificados, causando a morte a 14 pessoas, indicou o mesmo responsável, citado ontem pela agência de notícias Efe.
Na sequência deste ataque, o Governo procurará que as caravanas humanitárias que viajam nas zonas afectadas sejam acompanhadas por escolta armada, informou o gabinete de imprensa do Governo.
No segundo incidente, 15 pessoas morreram e seis ficaram feridas na província de Sanmantega, no Norte do país, quando um camião de transporte comunitário pisou uma mina, indicou o ministro da Comunicação Social, Remis Fulgance Dandjinou.
Desde 2015, a empobrecida região do Sahel, no Norte do Burkina Faso, que partilha fronteira com o Mali e o Níger, luta contra uma onda crescente de ataques jihadistas, que nos últimos tempos se estendeu também ao Leste, próximo da fronteira com o Togo e o Benin.
A deterioração da segurança levou as autoridades de Ouagadougou a declararem o estado de emergência em Dezembro de 2018 em várias províncias do Norte limítrofes com o Mali.
Num dos incidentes, no passado dia 19 de Agosto, pelo menos 24 militares morreram num “ataque de grande envergadura” perpetrado por membros de grupos "terroristas" não identificados no Norte do Burkina Faso, referiu na altura o Exército.
A maioria dos ataques, na antiga colónia francesa, são atribuídos ao grupo local Ansarul Islam, fundado em Dezembro de 2016, e ao Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM), leal à AlQaeda no Magrebe Islâmico.
Deslocamentos em massa
As Nações Unidas anunciaram ontem que, devido a estes incidentes, cerca de 300 mil pessoas tiveram de deixar as casas e passar a viver em centros de acolhimento no Burkina Faso.
Os ataques armados e a insegurança continuam a afectar as zonas Norte e Leste do país, obrigando a um deslocamento forçado das populações, refere o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, em comunicado.
Segundo o documento, 289 mil pessoas vivem em comunidades de acolhimento em vários pontos do país, com cada vez mais pessoas a procurarem refúgio em centros urbanos como Djibo, Dori e Kaya, explicam as Nações Unidas.
Segundo estimativa das Nações Unidas, o número de deslocados no Burkina Faso mais do que triplicou em relação ao início do ano (82 mil em Janeiro).
Já o Comité Internacional da Cruz Vermelha alertou, na segunda-feira, para a difícil situação que as pessoas no Burkina Faso enfrentam a nível da saúde, frisando que mais de 500 mil estão “privadas de assistência” nos últimos seis meses, devido à violência armada.
“Cerca de 125 centros de saúde foram afectados pela violência armada em Agosto, com 60 a fecharem e 65 a estarem apenas parcialmente operacionais. Muitos profissionais deixaram as áreas rurais afectadas pela violência”, explica a Cruz Vermelha.
O presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Peter Maurer, afirmou que o acesso a cuidados de saúde em algumas regiões do Burkina Faso tornou-se “um desafio”, devido aos ataques, lembrando que a fome é outra das grandes preocupações.
Segundo estimativa das Nações Unidas, o número de deslocados no Burkina Faso mais do que triplicou em relação ao início do ano (82 mil em Janeiro)