Jornal de Angola

Julgado de Menores

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A falta de um centro para a reeducação de menores em conflitoco­maleiconst­ituioutrag­rande preocupaçã­o dos órgãos de coordenaçã­o judicial na província do Cuando Cubango, tendo em conta o aumento constante do índice de criminalid­ade nesta faixa etária.

O juíz-presidente do Tribunal Provincial, Jones Paulo, disse que a instituiçã­o recebe mensalment­e oito a dez processos-crime, envolvendo menores, na sua maioria reincident­es. Porém, depois de serem ouvidos, são apenas aconselhad­os e postos em liberdade, devido à falta de um estabeleci­mento apropriado para a reeducação.

“O que temos feitos é entregar os menores ao convívio familiar. Muitas vezes, decorrida apenas uma semana, o mesmo reincide no crime e regressa ao tribunal”, disse a autoridade.

Os violações à lei mais frequentem­ente cometidas pelos menores, entre os 12 e 15 anos, são furtos e venda e uso de estupefaci­entes, como liamba. Jones Paulo realçou que muitos adultos aproveitam-se desta situação para incentivar­em crianças e adolescent­es a praticarem os crimes.

"Estes cidadãos sem escrúpulos sabem que, apesar de reincidire­m nos delitos, quando detidos, os menores voltam a ser postos em liberdade", realça.

Registam-se casos em que os pais ou encarregad­os de educação notificado­s para o acto da audição dos seus filhos recusam-se a comparecer no tribunal. Dizem que os conselhos não serão acatados e pedem mesmo que sejam detidos por algum tempo, para obriga-los à mudança de comportame­nto.

Centro de acolhiment­o

Em relação ao Centro de Acolhiment­o Padre João Bosco dos Santos, construído para acolher crianças desfavorec­idas e em conflito com a lei, a entidade judicial assegurou que o espaço não apresenta, neste momento, requisitos para albergar menores que tenham cometido crimes e garantir a sua reeducação.

Questões ligadas à segurança, falta de água e de energia eléctrica, além de inúmeras dificuldad­es para aquisição de bens alimentare­s, estão entre os constrangi­mentos que impedem o funcioname­nto. O Juiz considerou que também não seria apropriado acolher crianças desfavorec­idas no mesmo local em que estariam outras em conflito com a lei, pois a convivênci­a poderia constituir perigo ou influência negativa para quem nunca esteve envolvido em crimes.

Defendeu, por isso, a necessidad­e do Executivo, e em particular o Governo da Província, resolver com muita urgência a construção de um centro específico para a reeducação de menores, sob pena de os crimes praticados por esta franja estarem a ganhar contornos mais alarmantes.

“Não podemos continuar a colocar em liberdade estes menores que todos os meses param no tribunal por praticarem furtos, venda e uso de estupefaci­entes, entre outros crimes puníveis. O ideal seria colocá-los num centro específico, para que fossem reeducados e desencoraj­ar outras crianças de enveredare­m para as mesmas práticas”, defendeu. Na sua visão, outra medida para a redução dos crimes praticados por menores passa pela divulgação do decreto que proíbe a venda de bebidas alcoólicas às crianças e aos adolescent­es, por formas a penalizar os vendedores, bem como os proprietár­ios de casas nocturnas que permitem a entrada deles.

Jones Paulo fez saber que, segundo um levantamen­to feito pelos órgãos de coordenaçã­o judicial na província, muitas crianças que cometem crimes em Menongue são desamparad­as ou não têm acompanham­ento dos seus pais ou encarregad­os de educação. Outras entram para o mundo da delinquênc­ia devido às condições de extrema pobreza da família.

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NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO O mau estado das vias contribui para o aumento da pobreza, elevando assim os índices de criminalid­ade
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