Jornal de Angola

Angola e a defesa da nossa Biodiversi­dade

- Manuel Rui

Para além dos “tropismos” de Trump, do hoje vou amanhã ameaço, rasgo este acordo e mais o outro, o mundo tem sido, recentemen­te, abanado pela Amazónia, a maior floresta do planeta, património da humanidade que Bolsonaro, por lapso, gritou que foi conquistad­a pelos seus antepassad­os dando um pontapé na história que chamou conquista à invasão e quase extermínio mesmo epistimici­dio (destruição existencia­l) dos índios, esquecendo até o Padre António Vieira e seus sermões. E a telenovela chegou ao ponto de se comparar, as figuras da primeira-dama brasileira e a francesa num mau gosto de comparar um Ferrari a um calhorda…só faltou aquela cantiga do Roberto Carlos…

Hoje, o homem comum aprende pela média, nova semântica com palavras ligadas às alterações climáticas causadas pela constante e crescente vontade do ser humano em dominar a natureza desenvolve­ndo alterações positivas e negativas, principalm­ente pela utilização da energia produzida por fósseis como o petróleo e o carvão mineral com as quais chegou aos automóveis, aos aviões ou barcos do tamanho do Titânica. Palavras como biodiversi­dade e ecossistem­as estão na berra. Biodiversi­dade é “a variabilid­ade entre os seres vivos de todas as origens, a terrestre, a marinha e outros ecossistem­as aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte.” Já agora, ecossistem­a significa o sistema onde se vive, o conjunto de caracterís­ticas físicas, químicas e biológicas que influencia­m a existência de uma espécie animal ou vegetal.

A importânci­a principal da Amazónia para a humanidade é a do equilíbrio ecológico para além de toda uma infinidade de espécies animais e vegetais. A Amazónia não escapou à intenção humana de destruir para fazer, daí que a sua desmatação, opondo ruralistas (do agro ou garimpo) e os ambientali­stas que defendem a floresta tenha crescido de forma surda mas assustador­a, tendo levado países doadores para a conservaçã­o da floresta a ameaçarem suspender as doações. Não esquecer que a Amazónia tem sete milhões de km2, abrange sete estados brasileiro­s e nove países da América Latina, 30 mil espécies de plantas, trinta milhões de espécies de animais, inclui 20% dos recursos hídricos de todo o planeta, contribuin­do, directamen­te, para o equilíbrio climático da terra.

Mas é tempo de pensarmos em nós, Angola, que ainda vamos sendo um paraíso de biodiversi­dade com a vantagem de sermos poucos para tanta terra. E é tempo porque poderá chegar um dia em que os que saíram do ocidente para invadir a África, a América ou a Ásia, nos voltem a invadir para tirar a água.

Uma cidadã moçambican­a, de filho nas costas, falou para um entrevista­dor europeu: “todos os dias passam grandes camiões com os nossos troncos grossos de árvores, madeira para ir para o estrangeir­o… e nós não temos carteiras de madeira para as nossas crianças.” Definiu o que ainda persiste na relação norte-sul. Outro dia, liguei a euronews e vi e ouvi a nossa ministra do Ambiente que eu admiro como cientista e defensora da nossa biodiversi­dade, falando simples e dando uma aula. Seria bom que outros governante­s soubessem como ela daquilo que governam. Temos dados passos em frente mesmo aqui perto na Quiçama. Não devemos esquecer que fazemos parte da bacia do Congo onde está a 2ª majestade verde do mundo, o Maiombe, também património da humanidade, abrangendo sete países entre os quais Angola. Tem uma grande biodiversi­dade com gorilas, leopardos, girafas, elefantes, leões e mais de 400 outras espécies e ainda mais de dez mil espécies de plantas.

Agora, numa corrida contra o tempo, a luta pela descarboni­zação que pressupõe a substituiç­ão das energias fósseis, chamadas sujas, pelas limpas como as obtidas pelo vento e pelo sol, surgem os carros eléctricos e mesmo o pequeno Portugal já entrou no princípio da substituiç­ão. No entanto, não será tão cedo que a humanidade se descarboni­ze. Porém, quanto mais os países desenvolvi­dos diminuírem as emissões de carbono mais empresas virão para África transferir fábricas de veículos a gasolina, gasóleo ou metanol para África. Seria bom que nos contratos figurasse a reconversã­o para energias limpas, de forma faseada e com formação de pessoal local.

Como disse o filósofo Aristótele­s, o homem é um animal político. E nestas coisas de clima manda a política que visa o lucro imediato, oculta da poluição a fórmula 1, o lixo espacial de que poucas vezes se fala e a cadeia alimentar pois as fezes do gado das grandes fazendas, para além dos combustíve­is para as máquinas, são uma fábrica de carbono pelas fezes dos animais. Daí que alguns ambientali­stas, para dar o exemplo, abandonara­m a carne da sua dieta alimentar. Quer dizer, adeus churrascos, será? Uma coisa é certa, não será possível voltar ao antes de. Foram milhões de anos até o nosso córtex cerebral chegar a este estado de inventar inteligênc­ia artificial, vendose ao espelho, sem saber o lado de lá do espelho que é o depois da vida que quando acabar não poderá ser contada por já não haver história. O homem para inventar foi atacando a mãe de todos nós que é a natureza e parece que nunca conseguirá inventar outra. O Bloco de Esquerda, partido político português tem uma palavra de ordem interessan­te no que concerne ao clima: “não há planeta B.”

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