ARTE NO “CAMÕES”
Nova mostra retoma o tema da conflitualidade social e seus afluentes económicos e transfigura, em primeiro plano, a dimensão filantrópica e solidária da pessoa humana
Don Sebas Cassule mostra criatividade em exposição
Detentor de um pincel humanista que percorre preocupações de natureza social e interventiva, Don Sebas Cassule recolheu várias informações, pesquisou arquivos de viagens, consultou jornais, revistas, fotografias , visitou o Arquivo Histórico Nacional, socorreu-se de aspectos da memória colectiva angolana, incluindo informações de familiares, para a finalização da sua exposição, designada, “Memórias de viagens e geografia de afectos”, que será inaugurada, amanhã,patente ao público até o dia 5 de Novembro, no CamõesCentro Cultural Português.
Don Sebas Cassule explica os contornos conceptuais e estéticos do seu trabalho, nos seguintes termos, “Nesse processoque me levou à criação de quinze obras, reuni um conjunto de temas autoreferenciais, utilizando artefactos e objectos encontrados e adquiridos, que testemunham a minha passagem física, emocional e espiritual, por zonas geográficas diferenciadas pelo mundo. Aí, visitei e explorei diversos espaços, desde comerciais, turísticos,artísticos e culturais, que vieram a influenciar a minha linha discursiva”.
A exposiçãoé uma reflexão transculturalque inclui instalação, fotografias, técnicas com acrílicos, colagens, entre outras, onde o autor pretende reflectir sobre o efeito da transculturalidade, a partir de experiências e narrativas intimistasque explicam a influência dos artistas africanos na construção de obras de referênciade origem europeiae americana. Inspirado em algumas dessas obras, Don Sebas Cassule empreende um processo de intertextualização plástica que abre uma multiplicidade de possibilidades estilísticas e modalidades discursivas.Contudo, “a intenção primeira é a identidade”, sustenta o artista.
Em “Memórias de viagens e geografia de afectos”,o artista recorre a várias expressões artísticas, sobretudo a pintura, por via do autoconhecimento, baseandose, igualmente, nos alicerces da nossa memória colectiva.
Origens
Don Sebas Cassule explica, de forma muito original, as suas origens, “Sou da Aldeia Nova, Comuna de Camabatela, Município de Ambaca, Província do Kwanza-Norte. Por volta dos 7 ou 8 anos, os meus pais e familiares próximosrevelaram que eu tinha nascido na cadeia de Missombo, ex-Serpa Pinto, actual Cuando-Cubango. Porque considerei o lugar uma zona franca e porque nunca me identifiquei com ele, nunca alterei o registo feito pelos meus pais. Hoje, em retrospectiva, vejo o local da cadeia como uma espécie de aeronave virtual, que me proporcionou a primeira viagem. Um voo inicial que me levaria a abraçar uma profissão ligada ao ramo da aviação. A minha motivação e inspiração, como artista, funda-se na necessidade de revelar os arquivos da minha memória. O tema principal desta minha décima segunda exposição individual é a transculturalidade. Uma contextualização histórica sobre pessoas, espiritualidade, ambientes, momentos, lugares, acontecimentos e objectos. Tudo isto eu trago para o espaço de exposição para partilhar com o público”.
Percurso
Filho de Joaquim Pedro Cassule e de Suzana Zacarias Ndebela, Sebastião Joaquim Ndebela Cassule, Don Sebas Cassule nasceu no dia 12 de Março de 1968. Militar na reserva oriundo das extintas, FAPLA, Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, com a patente de Capitão, Don Sebas Cassule é membro da UNAP, União Nacional de Artistas Plásticos, e da Associação Internacional de Artes Plásticas l'Aigle de Nice, com sede em Nice, França.Artista prestigiado fora de Angola, arrebatou o segundo prémio, Prix 5ème Conselho Regional PACA “Ville de Roubion”, 2ème Prix L'Invité d'Honneur Alexis MORI, no Grande Prémio Internacional de Artes Plásticas,l'Aigle de Nice, em Nice, em 1998. Em Novembro de 2007 foi agraciado, no mesmo evento, com o Prémio de Mérito e Dedicação Francesa, pela Associaçãohomónima, em França.
Colectivas
Don Sebas Cassule participou em mais de sessenta exposições colectiva sem Angola, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão, Portugal, Zâmbia e Zimbabwe, com destaque para, Feira de Arte de Paris, 2019, representado pela Galeria Open Art Exchange B.V. International Art Center, que representa exclusivamente o artista nos países baixos, Bélgica e Luxemburgo, Benelux, incluindo, Alemanha e França. Foi convidado em duas edições da Trienal de Luanda, 2007 e 2010, nas nove edições do COOPEARTE, Galeria Celamar, e sétima e oitava Bienal de Arte Contemporânea de Florença,Itália, em 2009 e 2011, respectivamente.
Individuais
Don Sebas Cassule realizou várias exposições individuais, com destaque para, “Nove momentos de gestação de ideias”, MAAN, Memorial Dr.António Agostinho Neto, 2017, “Diálogos, personagens, territórios e situações”, ELA, Espaço Luanda Arte, 2015, “A singularidade proverbial do imbondeiro”, Centro Cultural Português, 2012, “Trabalho versus crise, crises vswork”, Centro Cultural Português, 2007, “Exposição retrospectiva”, SIEXPO, Salão Internacional de Exposições, 2003, “De volta às origens”, SIEXPO, 2001, “A Mulembeira Há-de florir”, Galeria Le Bistrot, 1999, “Luz e transparências”, Centro Cultural Português, 1998, “Nós somos aqueles de quem se espera”, Vila ESPA, 1997, “Despertar”, Hotel President Meridien, 1994, “Tons riscos e encantos”, Hotel Trópico.
Colecções
O prestígio de Don Sebas Cassuledes dobra-se e está presente em várias colecções institucionais, corporativas e privadas, tanto em Angola como no estrangeiro, comdestaque para, o BAI, Banco Angolano de Investimentos, BFA, Banco de Fomento Angola, Banco Sol, ESSO Angola - Petrolífera, Sonangol EP, Vaticano, Itália - Roma, Sede da FAO - ONU - Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, Itália - Roma , Estação de Metro de Kyta, Yokohama - Japão.