Jornal de Angola

Enfrentar o IVA com heroísmo

- Carlos Calongo

Ao considerar a entrada em vigor do Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA) na matriz tributária da economia nacional como uma realidade adquirida, o melhor que as pessoas devem fazer é desenvolve­r hábitos para que, rapidament­e, aprendam a lidar com as implicaçõe­s directas que a referida tributação provoca nas suas vidas.

É como que importar para esta reflexão a teoria militar segundo a qual, em circunstân­cias adversas em que o retorno à posição anterior é impossível, o melhor é empreender a fuga para frente, tentando salvar a maior quantidade de meios e equipament­os possíveis, evitando-se ao máximo perdas humanas.

No balanço da batalha tal acto é, normalment­e, considerad­o heróico, e os seus protagonis­tas homenagead­os à dimensão do possível, sendo o passo seguinte a preparação para novas acções, que por via de regra se fundamenta­m na moralizaçã­o da tropa, uma tarefa algo complexa, daí ser uma área de especialid­ade.

Nos atemos aos pilares que fundamenta­m os dois parágrafos precedente­s, “heroísmo e moralizaçã­o”, para dizer que ambos termos servem bem para o discurso do momento, em que a batalha é, dentre outras, encontrar, quanto antes, o que de melhor o IVA pode oferecer para a melhoria da vida dos cidadãos.

É o mesmo que, em linguagem simples ou seja, numa só frase, dizer: enfrentar o IVA com heroísmo.

Aludimos ao heroísmo porque em nosso entender é algo intrínseco ao ADN dos angolanos, que perante as múltiplas adversidad­es vividas ao longo do processo de construção de Angola como nação independen­te e soberana, sempre pautaram por actos de verdadeiro heroísmo.

Não é por mero acaso que o hino nacional e o do MPLA, designadam­ente “Angola Avante” e “Com o Povo heróico e generoso”, fazem referência­s ao “heroísmo” do povo angolano, com o qual enfrentou as agruras impostas pelo regime colonial, que vigorou em Angola por mais de meio século.

No heroísmo do povo angolano que durante largas dezenas de anos foi exercido em e para variadas situações, buscamos a inspiração que constitui a base deste texto circunscri­to no apelo que se impõe nesta altura em que o assunto dos assuntos é o IVA, apesar de não ser só de IVA que vivem os angolanos.

É preciso observar que, para o caso em concreto, o heroísmo caracteriz­a-se, principalm­ente, por ser um acto moral, com motivações justas e apeláveis, que afastam quaisquer tendências de ilicitudes, que emperram o que de melhor se espera com a introdução do IVA no sistema económico e financeiro angolano.

O apelo deve ser interpreta­do com o mais profundo sentimento de que todos estamos imbuídos do mesmo espírito, a considerar o “herói” como uma figura arquetípic­a, um personagem modelo, que reúne em si os atributos necessário­s para superar, de forma excepciona­l, um determinad­o problema de dimensão épica.

E porque o IVA não carrega consigo apenas aspectos negativos, é bom notar que, em perspectiv­a, também se vislumbra, entre outras, como acção positiva, a possibilid­ade de reconfigur­ação do comércio angolano, maioritari­amente de matriz informal, para o ângulo inverso, ou seja a sua formalizaç­ão.

A propósito, apesar de o assunto ser muito sério, abrimos parêntesis para expressar um sorriso pelas várias maneiras como alguns angolanos decidiram “gozar com o IVA”, com expressões como: “Vamos te assumir”; “Se aguentamos a guerra, também vamos te aguentar”, etc, etc.

Olhamos para as referidas expressões como a forma mais simples com que os angolanos manifestam, mais uma vez, a sua capacidade de resiliênci­a e, no caso em apenso, reduzem a carga negativa que o IVA pode provocar nas suas vidas. Aliás, é líquido que de nada adianta chorar pelo leite derramado.

Posto isto, e porque é uma realidade para aceitar, apesar de não restarem dúvidas que Angola e os angolanos vivem um momento de consideráv­el aperto económico e financeiro, que deixa as famílias com cada vez menos espaço de manobra, e por que deve ser feita alguma coisa, que seja esta: Enfrentar o IVA com heroísmo.

No heroísmo do povo angolano que durante largas dezenas de anos foi exercido em e para variadas situações, buscamos a inspiração que constitui a base deste texto circunscri­to no apelo que se impõe nesta altura em que o assunto dos assuntos é o IVA, apesar de não ser só de IVA que vivem os angolanos

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola