UE condena a ofensiva e apela ao cessar-fogo
O Pentágono anunciou, ontem, a retirada das tropas norte-americanas do Nordeste da Síria
A União Europeia condenou, ontem, a ofensiva militar lançada pela Turquia contra milícias curdas na Síria e reitera o apelo a um cessar-fogo imediato da acção bélica naquele país.
“A União Europeia condena a acção militar da Turquia, que mina seriamente a estabilidade e a segurança em toda a região, leva ao sofrimento de mais civis, a novos deslocamentos e compromete seriamente o acesso à ajuda humanitária”, lê-se nas conclusões adoptadas, ontem, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros comunitários, reunidos no Luxemburgo.
Os chefes da diplomacia do bloco comunitário realçaram que a ofensiva turca torna “mais difícil” as perspectivas de sucesso do processo político liderado pela Organização das Nações Unidas para alcançar a paz na Síria.
A acção militar turca também “compromete significativamente” os progressos alcançados, até ao momento, pela coligação internacional para derrotar os fundamentalistas do Estado Islâmico (EI), que continuam a constituir “uma ameaça para a segurança europeia, assim como para a regional e internacional”, acrescentaram.
“Os contínuos esforços da comunidade internacional, incluindo do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para parar esta acção militar unilateral são urgentemente necessários”, salientam, apelando a uma reunião ministerial da coligação internacional para debater como deve actuar no contexto actual.
Nas conclusões, os chefes da diplomacia europeia sublinham ainda o facto de alguns Estados-membros do bloco comunitário terem decidido “pôr termo com efeito imediato”, à exportação de armas para a Turquia.
A Turquia lançou, na quarta-feira, uma operação militar, que inclui alguns rebeldes sírios, contra a milícia curda Unidades de Protecção Popular (YPG), grupo que considera “terrorista”, mas que é apoiado pelos ocidentais para combater o grupo extremista EI.
Desde o início da ofensiva turca, pelo menos 104 combatentes curdos e cerca de 60 civis morreram, na sequência dos confrontos, segundo o mais recente balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
A ofensiva turca no Nordeste da Síria já provocou cerca de 130 mil deslocados, de acordo com a ONU.
O Ministério da Defesa turco tem afirmado, em diversas ocasiões, que todas as medidas necessárias foram tomadas no âmbito desta operação para evitar baixas civis.
Segundo Ancara, a operação militar visa “os terroristas das YPG e do Daesh (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico)” e pretende estabelecer uma “zona de segurança” no Nordeste da Síria.
Nova frente de guerra
A ofensiva de Ancara abre uma nova frente na guerra da Síria que já causou mais de 370 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados desde que foi desencadeada em 2011.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, elogiou, ontem, o anúncio feito pelo Pentágono sobre a retirada de mil soldados norte-americanos do Nordeste da Síria, onde Ancara está a conduzir a ofensiva contra os curdos.
“Esta é uma abordagem positiva”, disse Erdogan numa conferência de imprensa, em Istambul, após o anúncio da retirada, feito pelo chefe do Pentágono, Mark Esper, no domingo.
Após o anúncio da retirada dos militares dos EUA, as YPG chegaram a um acordo com Damasco que, segundo as autoridades curdas, prevê o destacamento do Exército sírio no Nordeste da Síria.
Segundo o jornal do Governo sírio AlWatan, o acordo prevê “a entrada do Exército sírio nas cidades de Minbej e Ain al-Arab (o nome árabe de Kobane)”, localizadas no Nordeste da Síria e que poderão estar entre os objectivos da Turquia.
A Turquia pede, há meses, a retirada das forças curdas de Minbej, o que foi ontem novamente solicitado por Erdogan.
“Quando Minbej estiver vazia, não seremos nós, a Turquia, que vamos entrar. Serão os nossos irmãos árabes, que são os verdadeiros proprietários (...). A nossa abordagem para isso é fazer que voltem e garantam a sua segurança”, disse Erdogan.
“A nossa decisão foi tomada sobre Minbej, agora, estamos na fase de implementação”, acrescentou.