Ministério do Comércio admite escassez de farinha de trigo
Panificadores solicitam que o Governo autorize uma “importação controlada”, dada a insuficiente oferta da indústria nacional, algo para o que um alto funcionário do pelouro disse não ter sido tomada, por enquanto, qualquer decisão
O Ministério do Comércio admitiu ontem, em Luanda, a prevalência de uma escassez de farinha de trigo no mercado nacional, sem que, de acordo com o director nacional do Comércio Externo, Lukonde Luansi, exista qualquer decisão de importação para cobrir o défice.
“A importação de farinha de trigo não depende do Ministério do Comércio. Temos ministérios proponentes, como os Ministérios da Indústria e da Agricultura. Reconhecemos que existe uma carência de farinha de trigo no mercado e cabe aos sectores proponentes verificar e analisar a situação no mercado para tomar a decisão que se impõe”, disse Lukonde Luansi à imprensa, à margem de um seminário de capacitação sobre “Análise de mercado”.
Em quase todo o país, os fabricantes de pão debatemse com a escassez de farinha de trigo, que é comercializada no mercado informal a 50 mil kwanzas por saco de 50 quilos, contra o preço anterior de oitos mil kwanzas.
O presidente da Associação dos Industriais de Panificação e Pastelaria de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, considerou que a produção nacional está longe de satisfazer as necessidades reais do país, defendendo a necessidade de importação de quantidades controladas de farinha.
“Foi dito numa reunião que tivemos que as produtoras nacionais de farinha de trigo não estão a satisfazer 50 por cento das necessidades. Nós temos uma necessidade de 60 mil toneladas por mês e só estão a produzir 30 mil. É preciso colmatar o défice com a importação”, disse o presidente da AIPPA. Gilberto Simão disse haver várias padarias detidas por nacionais já fechadas por o saco de farinha de trigo estar caro. “A situação está cada vez pior e mais crítica. Todos os industriais angolanos estão a fechar as portas. Quem beneficia com isso são os panificadores estrangeiros. A cada porta que fecha, surgem de 10 a 15 panificadores estrangeiros a quererem ficar com a padaria”, afirmou o líder associativo para ilustrar a situação.
O industrial Luciano Tulumba defendeu, citado ontem pela RNA, que o Executivo volte a permitir a importação do produto, atribuindo a subida do preço ou a redução do volume do pão em algumas padarias à escassez de farinha de trigo. “Acho que não é o mo-mento do Governo restringir a importação do produto, tal como, para o INADEC, não é o momento de ir apenas atrás das padarias, mas de mostrar onde existe a farinha para comprar a preços razoáveis”, considerou.
O Ministro do Comércio, Joffre Van-Dúnem, disse em Julho, num encontro conjunto com o Ministério da Indústria para uma auscultação aos industriais de panificação e pastelaria, que já havia orientado aos responsáveis de grandes superfícies comerciais a liquidarem as suas dívidas com os produtores nacionais no prazo de 30 dias, para não interromperem os fornecimentos.
Os representantes das grandes superfícies defenderamse com a especificidade do negócio: a estratégia de “vender à vista, mas pagar à prazo”, não excedendo os três meses.
“Acho que não é o momento do Governo restringir a importação do produto, tal como, para o INADEC, não é momento de ir atrás das padarias, mas de mostrar onde existe farinha para comprar a preços razoáveis”.