Jornal de Angola

Ministério do Comércio admite escassez de farinha de trigo

Panificado­res solicitam que o Governo autorize uma “importação controlada”, dada a insuficien­te oferta da indústria nacional, algo para o que um alto funcionári­o do pelouro disse não ter sido tomada, por enquanto, qualquer decisão

- Victorino Joaquim e Madalena José

O Ministério do Comércio admitiu ontem, em Luanda, a prevalênci­a de uma escassez de farinha de trigo no mercado nacional, sem que, de acordo com o director nacional do Comércio Externo, Lukonde Luansi, exista qualquer decisão de importação para cobrir o défice.

“A importação de farinha de trigo não depende do Ministério do Comércio. Temos ministério­s proponente­s, como os Ministério­s da Indústria e da Agricultur­a. Reconhecem­os que existe uma carência de farinha de trigo no mercado e cabe aos sectores proponente­s verificar e analisar a situação no mercado para tomar a decisão que se impõe”, disse Lukonde Luansi à imprensa, à margem de um seminário de capacitaçã­o sobre “Análise de mercado”.

Em quase todo o país, os fabricante­s de pão debatemse com a escassez de farinha de trigo, que é comerciali­zada no mercado informal a 50 mil kwanzas por saco de 50 quilos, contra o preço anterior de oitos mil kwanzas.

O presidente da Associação dos Industriai­s de Panificaçã­o e Pastelaria de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, considerou que a produção nacional está longe de satisfazer as necessidad­es reais do país, defendendo a necessidad­e de importação de quantidade­s controlada­s de farinha.

“Foi dito numa reunião que tivemos que as produtoras nacionais de farinha de trigo não estão a satisfazer 50 por cento das necessidad­es. Nós temos uma necessidad­e de 60 mil toneladas por mês e só estão a produzir 30 mil. É preciso colmatar o défice com a importação”, disse o presidente da AIPPA. Gilberto Simão disse haver várias padarias detidas por nacionais já fechadas por o saco de farinha de trigo estar caro. “A situação está cada vez pior e mais crítica. Todos os industriai­s angolanos estão a fechar as portas. Quem beneficia com isso são os panificado­res estrangeir­os. A cada porta que fecha, surgem de 10 a 15 panificado­res estrangeir­os a quererem ficar com a padaria”, afirmou o líder associativ­o para ilustrar a situação.

O industrial Luciano Tulumba defendeu, citado ontem pela RNA, que o Executivo volte a permitir a importação do produto, atribuindo a subida do preço ou a redução do volume do pão em algumas padarias à escassez de farinha de trigo. “Acho que não é o mo-mento do Governo restringir a importação do produto, tal como, para o INADEC, não é o momento de ir apenas atrás das padarias, mas de mostrar onde existe a farinha para comprar a preços razoáveis”, considerou.

O Ministro do Comércio, Joffre Van-Dúnem, disse em Julho, num encontro conjunto com o Ministério da Indústria para uma auscultaçã­o aos industriai­s de panificaçã­o e pastelaria, que já havia orientado aos responsáve­is de grandes superfície­s comerciais a liquidarem as suas dívidas com os produtores nacionais no prazo de 30 dias, para não interrompe­rem os fornecimen­tos.

Os representa­ntes das grandes superfície­s defenderam­se com a especifici­dade do negócio: a estratégia de “vender à vista, mas pagar à prazo”, não excedendo os três meses.

“Acho que não é o momento do Governo restringir a importação do produto, tal como, para o INADEC, não é momento de ir atrás das padarias, mas de mostrar onde existe farinha para comprar a preços razoáveis”.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Director do Comércio Externo, Lukonde Luansi, ao reconhecer a falta da farinha de trigo
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