Jornal de Angola

Época chuvosa anima agricultur­a

- Miguel Gomes | Cuito

É uma capital de província onde a actividade económica demonstra sinais de enorme estagnação e falta de oportunida­des. As ruas do Cuito estão cheias de semáforos funcionais mas poucas viaturas. São as crianças, os jovens estudantes e a vida administra­tiva que seguram o dia-a-dia. Mas as verdadeira­s oportunida­des estão na agricultur­a.

Já não são visíveis os prédios e as casas derrubadas pela força do desentendi­mento que virou guerra civil. A cidade-mártir já renasceu e agora chega a fase de cuidar do que está feito e programar o que está por vir.

Desde o início de Setembro já caíram duas boas e promissora­s cargas de água - a última aconteceu de sábado para domingo - quando estamos no início de mais uma campanha agrícola.

Não havendo indústrias nem os grandes investimen­tos privados ao nível da prestação de serviços (até porque não há poder de compra no mercado local) a prioridade deve estar no desenvolvi­mento agrícola e na interligaç­ão logística com outras províncias (Huambo, Benguela, Moxico, Cuando Cubango). Depois de terem sido investidos mais de 70 milhões de dólares para recuperar a cidade dos escombros no pós-2002, o processo de desenvolvi­mento entrou em estagnação, sobretudo depois de 2004. A crise económica e financeira que o país vive limita as perspectiv­as de futuro.

Um dos maiores problemas é a falta de estradas, dizem-nos, ainda que algumas ligações com os municípios estejam operaciona­is, o que acaba por limitar o progresso económico na região.

Factores como o Caminho-de-Ferro de Benguela, historicam­ente importante no último século e que atravessa a província, não têm grande impacto na vida dos 1,7 milhões de habitantes do Bié (mais de 550 mil pessoas vivem no município do Cuito).

São ainda poucas as viagens que a empresa ferroviári­a disponibil­iza entre os diversos pontos estratégic­os ao longo da linha. Mesmo assim é um cenário mais agradável do que a paralisaçã­o total do serviço, como aconteceu durante uma boa parte do período de conflito militar.

Chegar à sede do município do Cuemba, por exemplo, pode representa­r cerca de 5 horas de carro para um percurso de 160 quilómetro­s. Chega-se bem ao Andulo apesar de um ou outro incovenien­te pelo caminho.

Só o comércio resiste

Não é fácil encontrar um restaurant­e ou acomodação de boa qualidade e preço justo na cidade do Cuito. Acabada a era dos grandes investimen­tos públicos para restaurar a vida normal, sobrou apenas o pequeno comércio em forma de cantina ou mini-mercado e o comércio de materiais de construção.

Fora deste contexto só mesmo uma ou outra excepção, como a abertura, em Dezembro de 2018, de um hotel de três estrelas na capital provincial.

Até no mercado municipal, no centro da cidade, é por estes dias difícil de encontrar produtos frescos. Sobra a banana, a jinguba, algumas tangerinas de preço elevado, a melância, as ramas e o tomate. Há mais bancadas de produtos acabados do que frescos. Também regista-se pouco movimento de clientes para uma segundafei­ra a meio do mês.

Apesar dos escombros terem desapareci­do dos olhares mais atentos, muitos dos edifícios antigos - a cidade foi fundada, oficialmen­te, em 1935, mesmo que a presença humana seja bem anterior - continuam a necessitar de cuidados intensivos. Alguns prédios viram o andar térreo recuperado mas os restantes pisos continuam tracejados pelas balas e outros projécteis.

O prédio mais alto da cidade ainda deve ser o Gabiconta, agora quase totalmente recuperado e habitado.

Não havendo redes funcionais de transporte­s públicos, ganham as motorizada­s e os táxis colectivos - com prejuízo para os cidadãos, que chegam a pagar 2500 kwanzas por pessoa apenas para chegar à cidade do Huambo, a pouco mais de 150 quilómetro­s do Cuito.

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FERNANDO CUNHA | EDIÇÕES NOVEMBRO Camponeses receberam apoio e esperam boas colheitas caso chova com regularida­de

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