Choveu no Cunene
Quase um ano depois de uma seca severa, que provocou a morte de dezenas de milhares de cabeças de gado, abandono escolar e de algumas zonas habitacionais devido à escassez de água, a chuva voltou a cair na noite de domingo para a madrugada de segunda-feira, no Cunene, para gáudio da população.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inamet), a província do Cunene poderá registar, entre Outubro e Dezembro deste ano, chuvas acima do normal.
O volume de água poderá estar acima dos 800 milímetros, 200 a mais em relação ao normal (600 milímetros) para aquela região do país.
Caso se concretize a previsão, advertiu o Inamet, poderá haver transbordo do rio Cuvelai e causar inundações no Cunene, que registou chuva moderada, na noite de domingo, com 13.5 milímetros de volume de água.
A chuva caiu sobre os municípios do Cuanhama, Namacunde, Ombadja e Cuvelai.
Segundo dados do Inamet, somente nos meses de Janeiro a Março de 2020 a intensidade da chuva irá diminuir, atingindo o nível normal de 600 milímetros de água.
O responsável do Inamet no Cunene, António Pereira, citado pela Angop, afirmou que o retorno da chuva e as previsões são animadoras, pelo facto de a população afectada pela seca e os animais poderem ter água e pasto.
Devido a escassez de chuva no Cunene, a campanha agrícola 2018/2019 ficou comprometida, sem colheita nos 205 mil hectares onde estiveram envolvidos 99 mil camponeses.
Na cidade de Ondjiva e arredores, a chuva, embora fraca, começou a cair no início da noite de domingo e só terminou na manhã de segunda-feira, tendo deixado várias ruas alagadas e pequenas lagoas na zona periférica.
Muitos habitantes de Ondjiva sem água canalizada ou fontanários aproveitaram a água que caía das chapas de cobertura das moradias para encherem os recipientes, num sentimento de algum alívio, já que têm que percorrer longas distâncias à procura do líquido.
O regresso das chuvas está a ser comemorado, sobretudo, pelos criadores de gado, que já tinham perdido a esperança da sobrevivência dos animais à calamidade que parecia não ter fim.
Para o criador de gado tradicional José Tyileinge, da localidade de Oipembe, a dez quilómetros de Ondjiva, a chegada das chuvas é sinónimo do fim do longo período de sofrimento na procura de pasto e de água para os animais.
José Tyileinge conta que perdeu vinte cabeças de gado devido à seca e as poucas que sobraram encontram-se muito debilitadas. "Se continuar a chover acho que o gado vai sobreviver, já que o capim de que se alimenta vai desenvolver".
David Hinekwandunge, outro criador, tem o gado na zona de transumância de Oshimolo, a mais de 150 quilómetros de Ondjiva, onde existiam as mínimas condições de pasto. Com o início das chuvas já pensa em trazer de volta os animais, mas admite que estes devem antes recuperar para aguentarem a longa caminhada.
No Sul do país, onde não chove desde Outubro do ano passado, cerca de 2,3 milhões de pessoas nas províncias de Namibe, Huíla, Bié e Cunene estão a ser afectadas pela seca.