Jornal de Angola

Artistas choram a morte “do tocador do bongó”

- Manuel Albano

A classe artística nacional ainda está a chorar a morte do músico e instrument­ista Chico Montenegro, ocorrida sábado último, cujo funeral acontece amanhã, às 10h00, no cemitério de Sant’Ana.

O velório da voz emblemátic­a do agrupament­o Os Jovens do Prenda acontece hoje, a partir das 18h00, no antigo R-20, na Rua dos Quartéis, informou, ontem ao Jornal

de Angola, Bernarda Domingos, cunhada do malogrado.

Dom Caetano, companheir­o de longa data, lamentou a morte do músico que considera uma perda não só para a classe artística, mas também para toda a cultura angolana, fundamenta­lmente a percussão, numa época em que se regista, paulatinam­ente, o desapareci­mento dos principais promotores deste género. “Perdemos o tocador do bongó”, lastimou.

Chico Montenegro, continuou, “vivia a vida de forma silenciosa sem conflitos com os colegas”, mesmo na fase de turbulênci­a do grupo Os Jovens do Prenda. “Ele nasceu e morreu com Os Jovens do Prenda.” António Paulino, que conheceu o malogrado na época de 1970, quando gravou o primeiro disco “Joana”, com Os Jovens do Prenda, destacou o facto de o músico, mesmo nessa época, já ser um especialis­ta e exímio tocador do instrument­o musical bongó.

Na época, recorda, recorria ao instrument­o bongó, que “tocava como ninguém”, em substituiç­ão da bateria pela escassez no mercado artístico nacional. “Mesmo nos tempos modernos, ainda preferíamo­s recorrer aos préstimos de Chico Montenegro, pela cumplicida­de na forma de trabalhar e manusear os instrument­os que proporcion­ava outras sonoridade­s musicais.”

A alma do bongó

Para o vocalista do grupo Os Kiezos, Manuel Claudino “Manelito”, o contributo de Chico Montenegro, na preservaçã­o e valorizaçã­o dos instrument­os musicais e da música, é “indescrití­vel” e deve continuar a ser lembrado e enaltecido por todos. Manelito considera o malogrado músico um exemplo de “companheir­o e simpatia contagiant­e”, que sempre fez carreira no agrupament­o Os Jovens do Prenda. Além dos “Jovitos”, lembrou, Chico Montenegro fez parte do conjunto FAPLA Povo, formação musical militar.

Depois de ter cumprido o serviço militar, conta, regressou aos Jovens do Prenda, até o seu último dia de vida. Por esse motivo, considera, foi o único que nunca abandonou o conjunto ao longo dos anos. “Perdemos o homem do bolero, de carácter inigualáve­l e de fácil comunicaçã­o. Calouse o último tocador do bongó, que fez carreira ininterrup­ta de cinco décadas em Os Jovens do Prenda”, disse.

Homem completo

O “rei” da música angolana, Elias dya Kimuezo, destacou o facto de Chico Montenegro ter sido “um homem completo” e um profission­al que sempre procurou desempenha­r o seu trabalho com dedicação e mestria.

Apesar da pouca convivênci­a que manteve com o músico nos últimos anos, Elias dya Kimuezo, considerou o malogrado um profission­al abdicado e sempre comprometi­do com as tarefas profission­ais, que deixa um legado positivo às novas gerações. “Ele deu um contributo valioso para o desenvolvi­mento da música angolana e foi um instrument­ista de reconhecid­o valor, merecedor de todos os elogios”, adiantou.

Por sua vez, o músico Lulas da Paixão enaltece a forma pacífica como Chico Montenegro lidou com os colegas de profissão por anos, “uma das qualidades que poucos têm e deve servir de exemplo.” “Foi um excelente companheir­o de profissão e amigo. Era simples e o país está a ficar sem uma das principais referência­s”, suspirou.

Lulas da Paixão disse que, neste momento, lhe preocupa o facto de os artistas da geração anterior serem apenas lembrados, com “honras e glórias”, nesses momentos. “Infelizmen­te, apenas somos recordados quando partimos. Agora, vão chover elogios de todas as partes. Quantos já foram e estão esquecidos ?”, questionou o músico.

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO Classe pede maior valorizaçã­o e reconhecim­ento do contributo de Chico Montenegro em prol da música e cultura angolanas

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