Reabilitação de estrada encurta distância entre Cuito e o Cuemba
Quando nos propusemos a percorrer os 162 quilómetros de estrada entre os municípios do Cuito e do Cuemba estávamos conscientes das dificuldades que encontraríamos.
Se, por um lado, há paisagens maravilhosas, por outro temos o espectro deixado pela guerra e uma população carente de bens e serviços. Mas o nosso propósito foi mesmo inspeccionar uma estrada muito importante para estes dois municípios do Bié, e não só.
Durante a nossa caminhada, logo no quilometro 17, podemos observar que ela recomeçou a ser construída. A Estrada Nacional 250, que liga a cidade do Cuito ao município do Cuemba, a oeste, começou a ser reabilitada na última terça-feira, 15. Homens e máquinas começaram a movimentar-se ao longo da via, fazendo terraplanagem. Um trabalho que se encontrava paralizado há cerca de um ano.
Logo à entrada da comuna da Chipeta, no município de Catabola, a nossa equipa de reportagem fez a primeira paragem para falar com um grupo de adolescentes que saía da escola e se dirigia à sede comunal.
Manuel Chagas, adolescente de 16 anos, afirmou desconhecer o que estão a fazer na estrada, mas admitiu ter visto algumas máquinas pesadas a passar. “Seria bom se as obras da estrada começassem. A estrada está muito mal. Para nos deslocarmos ao Cuito demora-se muito, por causa dos buracos”, disse. Continuando a nossa viagem, Centro Geodésico de Camacupa onde está a estátua de Cristo Rei depois de 10 quilómetros de estrada, encontramos mais uma brigada da empresa Engevia, encarregada da reabilitação da estrada CatabolaCamacupa, num percurso de quase 20 quilómetros. Até aqui a estrada é muito péssima e vai dar até à aldeia do Chikuekue. Daí para a localidade de Kalombambu encontramos um desvio de cerca de cinco quilómetros, onde paramos para conversar com um dos encarregados de obra.
Depois de uma breve apresentação, o encarregado de obra explicou que, devido ao tempo chuvoso, poderão levar mais de três meses para terraplanar os 17 quilómetros restantes até ao município de Camacupa. “Agora estamos a colocar a sub-base, depois a base e só mais tarde vamos colocar o asfalto”, explicou o responsável de obras, de nacionalidade brasileira, mas que não aceitou identificarse. A matéria-prima, sublinhou, não será problema, pois têm a pedreira junto do local onde começaram as obras. De resto, a nossa reportagem pôde verificar no local. Retornando a nossa viagem, até ao município de Camacupa, podemos percorrer cerca de 10 quilómetros em estrada de terra batida, mas em bom estado. A nossa velha Toyota Land-Cruiser chegou a atingir a velocidade de 100 quilómetros por hora.
Satisfação de taxistas
A reabilitação do trajecto Cuito-Catabola deixa alguns taxistas satisfeitos, pois as viaturas que necessitavam de trocar os acessórios com regularidade irão deixar de o fazer. Ernesto Tomás, taxista há oito anos na via CuitoCatabola, mostrou-se satisfeito pelo facto da viagem ser mais cómoda.
“Desde terça-feira que as viagens deixaram de ser muito penosas. Estão a terraplanar a estrada e isso nos facilita muito. Agora basta apenas nós fazermos a nossa parte e não acelerarmos muito, porque podem surgir outros problemas, como acidentes”, disse, por sua vez, um condutor de um velho Toyota Corola, que o encontramos a lotar o seu carro, na paragem do bairro Lundumba, na sede de Catabola.
O lotador, André Pedro, de 27 anos, exerce esse tipo de actividade com mais três colegas e disse que ganham por dia entre cinco a sete mil kwanzas, valor que é dividido por ambos.
“Tenho formação de nível médio, mas não consigo emprego. Trabalhar aqui já me ajuda muito. Não temos constrangimentos, porque mensalmente pagamos aos fiscais da administração dois a três mil kwanzas”, afirmou o jovem, que tem mulher e duas filhas. “Deste trabalho sai o sustento da família”, disse. Encontramos o senhor Jorge Artur Dias no interior de um Toyota Land-Cruiser e nos confidenciou que vai ao Cuito para receber uma visita. Afirmou que dificilmente viaja por estrada devido ao mau estado da via e da idade.
“Raramente viajo, mas quando o faço sinto muito pelo mau estado das estradas. Vejo que estão a fazer algum trabalho, mas recomendo já que façam valas de drenagem ao longo da via”, alertou.
Fernando Machado, taxista há sete anos, afirmou que cobrar pela passagem mil kwanzas por cabeça é o mínimo que lhes permite repor as peças que se estragam por causa do mau estado da estrada. “Não podemos cobrar mais porque as pessoas têm pouco dinheiro, o estado da via não facilita”, lamenta Fernando, 36 anos, que tem sob sua dependência a esposa e oito filhos. O taxista espera que as obras não voltem a parar, para não dificultar a vida da população.
"Marco zero" reabilitado
À entrada da sede municipal de Camacupa, a nossa equipa de reportagem fez um desvio e fomos até ao conhecido "Marco zero de Angola", no famoso Centro Geodésico de Camacupa, onde está a estátua do Cristo Rei. Vimos no local alguns homens a reabilitar o recinto e, segundo o chefe de obras, Celestino Inácio, a empreitada, que consiste na reabilitação dos muros, pintura e colocação da vedação, teve início há seis meses. "Ainda esta semana vamos fazer a entrega da mesma à Administração”, garantiu.
O Centro Geodésico de Camacupa poderia servir de fonte de receita para as actividades turísticas. A sede municipal, também a precisar de reabilitação urgente, tem as suas infra-estruturas ainda com aspecto do tempo da guerra, apesar de existirem novas estruturas, como escolas e hospitais. Aqui em Camacupa, o comboio do CFB tem servido para o transporte de pessoas e bens. À saída do município não foi possível abastecer a viatura. A ideia era atestar o depósito, já que o próximo destino, o Cuemba, não tem um único posto de abastecimento de combustível.