Entre promessas e busca de oportunidades
Desde China, em Setembro do ano passado, à Sochi, os líderes africanos discutiram, igualmente, programas, projectos e oportunidades de cooperação com o Japão, em Agosto último, e os Estados Unidos, em Junho. Com a União Europeia, a Cimeira deve decorrer em 2021, por ocasião da Presidência Portuguesa, como anunciou o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Eis os eventos de cooperação e as principais decisões:
Fórum de Cooperação China África Setembro de 2018
Além de uma promessa de mais 60 mil milhões de dólares em investimentos, sem contrapartidas políticas, a China anuncia perdão de dívida para os países mais pobres do continente, além de um plano de acção para fortalecer a cooperação a nível do Comércio, Saúde, Indústria e Infraestruturas. A ideia é relançar a conhecida Rota da Seda (Nova Rota da Seda) com a construção de portos, aeroportos, auto-estradas ou malhas ferroviárias ao longo da Europa, Ásia Central, África e sudeste Asiático.
O crédito de 60 mil milhões de dólares deve ser aplicado em três anos, no formato de assistência governamental e através do investimento e financiamento por instituições financeiras e empresas. Do valor, 15 mil milhões são disponibilizados em empréstimos isentos de juros ou com condições preferenciais, 20 mil milhões em linhas de crédito, 10 mil milhões num fundo especial para o desenvolvimento de mecanismos financeiros e 5 mil milhões para financiar importações oriundas do continente.
O líder chinês estabeleceu ainda outros objectivos da cooperação para os próximos anos, a implementação de 50 programas de assistência para a agricultura, assistência humanitária aos países afectados por desastres naturais, 50 mil bolsas de estudo para estudantes de países africanos, apoio no combate à luta contra o terrorismo e a pirataria e criação de um fundo para impulsionar a cooperação em matéria de missões de paz e manutenção da ordem.
Cimeira Japão –África Agosto – 2019
O Governo japonês promete: “fará todos os esforços possíveis para que o poder do investimento privado japonês de 20 mil milhões de dólares, em três anos, seja, novamente, superado nos próximos anos, a cada dia que passa”.
Na Conferência Internacional de Tóquio para o Desenvolvimento Africano (TICAD-7), em Yokohama, diante de representante de 50 países africanos, o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinha que “a falta de investimento suficiente em Educação, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática pode travar o crescimento de África e privar o seu uso de oportunidades”.
A mais alta figura da ONU aponta a TICAD 7 como impulso para ajudar África a aproveitar o poder da tecnologia e da inovação para o seu desenvolvimento sustentável. “É imperativo que trabalhemos em conjunto para eliminar o fosso digital e tirar proveito dos avanços tecnológicos para permitir que as nações e as economias africanas prosperem”.
O Primeiro-Ministro japonês, Shinzo Abe, promete mais cooperação e lembra que nos últimos três anos, o Japão investiu mais de 23 mil milhões de euros no continente africano. Em Angola, por exemplo, e segundo a embaixada nipónica em Luanda, o investimento foi de cerca de 558 milhões de euros alocados para o porto no Namibe e para o parque escolar.
Cimeira EUA-África Junho – 2019 - Maputo
Sem o Presidente Donald Trump nem um membro de topo do Governo norte-americano, a Cimeira EUA-África teve a participação de vários Chefes de Estado africanos e cerca de mil representantes dos sectores económicos africano e norte-americano.
Nomescomo Paul Kagame, Presidente do Rwanda, e Uhuru Kenyatta, do Quénia, estiveram entre os oradores do evento organizado para relançar o comércio entre norte-americanos e africanos. Com as trocas entre África e os Estados Unidos a representar apenas 1,5 por cento do comércio exterior de Whashington, os participantes agarraram-se na estratégia dos EUA para África, anunciada em Dezembro, cujo objectivo é aumentar o comércio e o investimento, combater o terrorismo e a instabilidade e procurar mais estabilidade.
Sob o lema “Promover uma parceria resiliente e sustentável”, a cimeira Estados Unidos-África discutiu estratégias, visões e iniciativas para a promoção de empresas e investimentos. Em destaque estiveram a Agricultura, a Energia, a Saúde, as Infra-estruturas e as Finanças. Sexto maior parceiro comercial de África, os Estados Unidos “gabamse” de ser os primeiros em termos de investimento directo no continente. Calcula-se que só na África do Sul há 600 empresas norteamericanas, incluindo algumas das maiores dos EUA.
Em 2016, os Estados Unidos investiram quase 10 milhões de dólares em ajuda ao continente.
A Agência norte-americana para o Comércio e o Desenvolvimento já anunciou que quer apoiar o sector privado na África sub-sahariana, para que não fique tão dependente do desenvolvimento dos Estados Unidos ou da assistência humanitária.
Cimeira União Europeia-África Primeiro semestre de 2021
Com a visão de "carimbar novo acordo" entre os dois continentes, centrada na cooperação e não mais na ajuda ao desenvolvimento. De acordo com uma resolução da União Africana, estas relações continente a continente devem abranger quatro vectores: comercial, climático, migrações e paz e segurança.
“Está-se a tentar destrinçar aquilo que são as relações entre a Europa e alguns países africanos, centradas na ajuda ao desenvolvimento - e não temos nada contra a ajuda ao desenvolvimento - e aquilo que devem ser as relações continente a continente”, comentou recentemente o académico Carlos Lopes, que foi Secretário-geral adjunto das Nações Unidas na liderança de Kofi Annan, acrescentando que “a cimeira UE-África, em 2021, pode ser um marco”, nas relações entre os dois continentes.
O Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, garantiu que a próxima presidência portuguesa da União Europeia, em 2021, terá como tema fundamental o das relações entre a União Europeia e continente africano.
A mais alta figura da ONU aponta a TICAD 7 como impulso para ajudar África a aproveitar o poder da tecnologia e da inovação para o seu desenvolvimento sustentável