Um dos pilares das relações entre a Rússia e os países africanos é a interacção no domínio da segurança regional
No passado, a cooperação técnico-militar entre Moscovo e os países africanos era muito privilegiada. Existem planos para ampliar a interacção neste domínio? Que planos concretos ou contratos para a discussão com os participantes na Cimeira?
É verdade que a nossa cooperação técnico-militar tem raízes profundas. Foi estabelecida ainda na fase inicial de formação dos Estados africanos. Teve um papel importante na luta dos povos deste continente pela independência. Isto é altamente valorizado pelos parceiros africanos.
Hoje estão em vigor acordos sobre a cooperação técnicomilitar com mais de trinta países africanos, aos quais fornecemos uma ampla gama de armas e equipamento. Com certeza, uma parte foi entregue gratuitamente, mas isto é uma prática normal dos grandes países. É de agrado que a parceria técnico-militar continue a desenvolver-se de forma activa. Aliás, em muitos casos, os países africanos estabelecem esta cooperação, percebendo que é necessário serem capazes de defender a independência e soberania, inclusive dos agrupamentos terroristas e extremistas. Daí, o estímulo adicional para a interacção com a Rússia, que tem a rica experiência de combate contra o terrorismo, inclusive na Síria. Os parceiros africanos participam activamente em fóruns e exercícios técnico-militares organizados pela Rússia, nos quais podem conhecer melhor as armas e material militar de excelência de produção russa. Da nossa parte, continuaremos a contribuir para a preparação do pessoal militar dos Estados africanos.
A cooperação nos domínios social e humanitário é um dos temas desta Cimeira. Porquê que a Rússia está a ajudar a África, quando dentro da própria Federação da Rússia muitos assuntos sociais ainda não estão resolvidos?
Muitos Estados prestam apoio humanitário à África. Entretanto, em nenhum deles – sejam EUA, França, China ou outros – os problemas na esfera social, quer dizer, na área da Saúde, Educação, Cultura estão resolvidos.
A Rússia também fornece apoio humanitário aos Estados africanos. O nosso povo é caracterizado pela solidariedade, apoio em situações difíceis. Vou dar um exemplo recente. A Rússia, como muitos outros Estados, prestou apoio aos países africanos atingidos pelo ciclone tropical Idai, em Abril de 2019. Zimbabwe, Malawi e Moçambique receberam ajuda humanitária russa. Cada país recebeu 30 toneladas de produtos alimentares, além de enormes quantidades de tendas. Desde Outubro de 2017, tem-se implementado em Moçambique, com a participação russa, o projecto do Programa Alimentar Mundial da ONU, destinado a criar o sistema de alimentação escolar no valor de 40 milhões de dólares. Em Madagáscar, temse realizado o projecto de introdução das novas tecnologias e do equipamento de desinfecção no valor de 15 milhões de dólares. Também ajudamos aos nossos amigos africanos no desenvolvimento da área de Saúde, porque as doenças infecciosas não conhecem fronteiras. Por exemplo, a Rússia esteve entre os primeiros a reagir à epidemia da febre hemorrágica ébola, tendo alocado 60 milhões de dólares para combater o vírus. Hoje, na Guiné funciona o Centro de Pesquisa Microbiológica e de Tratamento das Doenças Epidemiológicas. A Rússia contribuiu com 20 milhões de dólares para o programa do Banco Mundial destinado à realização da Iniciativa Global contra Malária. A participação da Rússia no combate à pobreza, doenças perigosas, outras ameaças de carácter global, minimização dos riscos potenciais, como se diz, “nas linhas remotas”, corresponde plenamente aos nossos interesses nacionais.
Em alguns países africanos a questão de segurança é crítica. Isto põe obstáculos ao trabalho das empresas russas na região. Pretende colocar, no quadro da Cimeira, os assuntos da segurança e propor medidas de reforço? Como é que a Rússia pode ajudar na solução de conflitos no continente?
Um dos pilares importantes das relações entre a Rússia e os países do continente africano é a interacção no domínio da segurança regional. Não é por acaso que o lema da nossa Cimeira é “Pela paz, segurança e desenvolvimento”. Sem a resolução destes problemas não é possível haver avanço. A situação, em muitas regiões do continente, continua instável: não foram resolvidos conflitos intra-nacionais e étnicos e mantém-se as crises políticas e económico-sociais graves. Numerosas organizações terroristas, inclusive Daesh, AlQaeda, Boko Haram, Al-Shabaab, estão muito activas na África do Norte, na zona do Sahel e Saara, naregiãodoLagoChade,noCorno deÁfricaetc.As Forças Armadas e órgãos policiais de alguns países africanos, não são capazes sozinhos de enfrentar as organizações e precisam de ajuda substancial. Continuaremos a ampliar a rede de contactos entre os serviços especiais e estruturas policiais da Rússia e dos países africanos para combater o terrorismo, crime organizado, tráfico de drogas, branqueamento de capitais, imigração ilegal, pirataria.
É bem-vinda a capacitação do pessoal militar nacional e dos funcionários dos órgãos policiais africanos, inclusive em condições preferenciais ou gratuitas. Por exemplo, só nos últimos cinco anos, mais de 2,5 mil militares dos países africanos foram licenciados em instituições de ensino militar do Ministério da Defesa da Rússia. Os parceiros africanos participam activamente em vários eventos organizados pela Rússia, como o Fórum Internacional Técnico-Militar, encontros dos altos representantes para a segurança. A última edição dos Jogos Internacionais de Exército “ArMI-2019” contou com a participação de 11 países africanos. Todos estes programas são destinados a um único objectivo: ajudar os africanos a resolver, por si mesmos, os problemas da segurança, o que contribuirá para a consolidação dos estados, da sua soberania e independência. Quer dizer, que a situação no mundo em geral estará mais estável.
Desde Outubro de 2017 tem-se implementado em Moçambique, com a participação russa, o projecto do Programa Alimentar Mundial da ONU, destinado a criar o sistema de alimentação escolar no valor de 40 milhões de dólares. Em Madagáscar, tem-se realizado o projecto de introdução das novas tecnologias e do equipamento de desinfecção no valor de 15 milhões de dólares. Também ajudamos os nossos amigos africanos no desenvolvimento da área de Saúde, porque as doenças infecciosas não conhecem fronteiras