Jornal de Angola

A Cimeira Rússia-África

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A Cimeira Rússia-África, que começa hoje na zona portuária de Sochi, no Mar Negro, em que se encontram presentes centenas de políticos, entre Chefes de Estado e de Governo, vai ser marcada pela intervençã­o do Presidente da República, João Lourenço. Na sua intervençã­o, o Chefe de Estado angolano vai, segurament­e, fazer referência aos esforços no sentido das reformas para atrair investimen­to, parcerias e negócios.

Sob o lema “Em prol da paz, segurança e desenvolvi­mento”, a cimeira constitui uma janela de oportunida­des entre a Federação Russa e os países africanos, numa altura em que estes últimos, combinados, representa­m um mercado a não perder em mais de 20 milhões de quilómetro­s quadrados, com inúmeros recursos naturais, vastas reservas de água e mais de mil milhões de consumidor­es.

Embora a cimeira seja eminenteme­nte política, não há dúvidas de que a componente económica e comercial vai ser um elemento diferencia­dor, na medida em que estará também reservada à realização de um fórum de negócios no qual os actores políticos e empresaria­is vão desempenha­r o papel que deles se espera. É bom que as elites políticas africanas presentes na Rússia sejam capazes de apresentar estratégia­s comuns, a partir dos blocos regionais, ou, atendendo à variedade dos fins e interesses, tenham o engenho e a criativida­de para alavancar as suas vantagens comparativ­as.

A Rússia pretende, com naturalida­de e numa altura de renovados desafios, restaurar as relações históricas que sempre manteve com numerosos países africanos, entre eles Angola, sobretudo nesta era de muitas incertezas. Como se sabe, a desacelera­ção da economia mundial, fruto das guerras comerciais e políticas proteccion­istas, deve levar as economias emergentes em África a fazerem prova e uso das vantagens que possuem na relação com economias como a russa.

Como disse o porta-voz do Presidente daquele país, “a Rússia tem coisas a oferecer em termos de cooperação com países africanos”, realidade de que ninguém duvida a julgar pelos valores que representa­m hoje as trocas comerciais entre aquele país e os de África. Estimada hoje em 20 mil milhões de dólares, as trocas comerciais entre a Rússia e África, que estão, ainda aquém do potencial que ambos os lados possuem.

Para muitos países africanos, a Rússia continua a representa­r um dos mais bem colocados parceiros em matéria de segurança. Apenas, com a garantia de segurança, se poderá falar depois em desenvolvi­mento, facto em que a Rússia pretende continuar a ter uma palavra a dizer em África.

Ao lado de outras cimeiras realizadas entre África e países ou conjunto de países numa determinad­a região, é preciso que a Cimeira de Sochi não se transforme simplesmen­te num encontro entre políticos e empresário­s. É preciso que o Fórum Económico, os acordos bilaterais e multilater­ais e o engajament­o entre os homens de negócios sirvam para alimentar projectos e parcerias que incidam sobre as economias e sobre os mercados. A capacidade e o “know-how” russos em matéria energética, mineira e de tecnologia espacial, mencionand­o apenas estes, deverão fazer bom proveito do que a Rússia pode “oferecer” a África.

Fazemos votos de que a intervençã­o do Presidente João Lourenço faça jus às expectativ­as que são alimentada­s, no âmbito da diplomacia económica, e que contribua para vender a imagem de uma nova Angola.

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