Jornal de Angola

Liberaliza­da taxa de câmbio

Governador atribui depreciaçã­o acentuada do kwanza ao espaço obtido pelo mercado especulati­vo e a distorções ao normal funcioname­nto da economia

- Natacha Roberto

O governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, anunciou, ontem, em conferênci­a de imprensa, em Luanda, a liberaliza­ção da taxa de câmbio, removendo a margem de 2 por cento imposta à comerciali­zação de divisas. A medida deve entrar em vigor já nos leilões do Banco Central da próxima semana.

O BNA anunciou ontem a eliminação do limite de 2,00 por cento imposto sobre a venda de divisas pelos bancos comerciais, deixando o kwanza flutuar com base no equilíbrio da procura e a oferta de moeda estrangeir­a, para o que divulga um instrutivo até à sexta-feira.

A medida foi anunciada pelo governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, em conferênci­a de imprensa realizada no fim de uma reunião extraordin­ária do Comité de Política Monetária (CPM), em que foi decidida a remoção da margem de 2,00 por cento sobre a taxa de câmbio de referência praticada pelos bancos comerciais nas transacçõe­s de moeda estrangeir­a no mercado interbancá­rio e com os clientes.

O governador atribuiu a elevada desvaloriz­ação do kwanza ocorrida nas últimas semanas ao espaço cedido para a criação de um mercado especulati­vo e a distorções ao normal funcioname­nto da economia. “Forçamos empresas e cidadãos a fazerem a compra da moeda estrangeir­a na rua que deveriam fazer no sistema financeiro”, lembrou.

José de Lima Massano disse que as operações realizadas por muitos cidadãos e empresas na rua aconteciam porque o mercado era mais apetecível face à tabela praticada no mercado financeiro. “O que estamos a dizer é que vamos fazer num espaço regulament­ado onde queremos ter o equilíbrio da moeda em condições de proteger os participan­tes, além de limitar o espaço para quaisquer práticas que possam ter contornos como crimes financeiro­s”, afirmou.

Na sua opinião, a medida espelha o caminho para a normalizaç­ão da economia, que considera estruturan­te e necessária para alcançar um mercado cambial mais estável, melhor regulament­ado e mais transparen­te, conferindo aos operadores mais confiança na moeda.

O governador do BNA tranquiliz­ou o mercado, declarando a opção por meios regulament­ados para que as transacçõe­s ocorram no espaço financeiro existente e de acordo com supervisão adequada, sem recurso a formas coercivas.

Impacto sobre os preços

Nos termos das decisões tomadas ontem, o BNA flexibiliz­a os limites aplicáveis aos instrument­os de pagamentos para importação de mercadoria­s, com o aumento do limite máximo para pagamentos antecipado­s de 25 mil euros para 50 mil dólares por operação, sem quaisquer máximos anuais.

O banco central espera reduzir o impacto da flutuação sobre os preços, introduzin­do a facilidade de os importador­es que transaccio­nam com cartas de crédito deixarem de esperar 90 dias para fazer pagamentos ao exterior. “Um quadro como este podia provocar a retenção da mercadoria até o câmbio estabiliza­r e, isso, poderia provocar a escassez e a subida de preços. Estando as mercadoria­s no país, decidimos permitir que o pagamento ao exterior seja feito prontament­e, de formas a ajudar a gerir o risco cambial para mitigar o impacto sobre o preço”, esclareceu.

Também foi decidido aumentar o limite máximo para pagamentos na forma de remessas documentár­ias de 50 mil euros para 200 mil dólares por operação, sem quaisquer limites máximos, eliminando os limites em vigor para pagamentos na forma de cobranças documentár­ias e créditos documentár­ios de importação.

A medida estabelece o valor máximo anual de 120 mil dólares para operações cambiais privadas, excepto as relacionad­as com saúde e educação, sempre que sejam pagas directamen­te às instituiçõ­es.

Na sessão de ontem, o CPM decidiu encurtar o prazo de liquidação de cartas de crédito abertas ao abrigo de plafonds atribuídos pelo BNA, podendo os importador­es pagar tão logo apresentem os documentos comprovati­vos da entrada da mercadoria em território nacional.

Noutras decisões, o CPM decidiu manter a taxa básica de juro em 15,5 por cento e estabelece­u um juro de 10 por cento para facilidade permanente da absorção de liquidez, com maturidade de sete dias e em 0,00 por cento o da taxa de juro da facilidade permanente de liquidez com maturidade “overnight”, ajustando de 17 para 22 por cento o coeficient­e de reservas obrigatóri­as para a moeda nacional.

O banco central espera reduzir o impacto da flutuação sobre os preços, introduzin­do as facilidade para importador­es que transaccio­nam com cartas de crédito

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KINDALA MANUEL Medida estabelece valor máximo anual de 120 mil dólares para operações cambiais privadas

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