Jornal de Angola

UNITA acusa Governo de não querer realizar as autarquias

Presidente da UNITA justifica a acusação com o facto de ter sido criado o PIIM e o Presidente da República não se ter referido ao calendário eleitoral para as eleições autárquica­s

- Bernardino Manje

O presidente da UNITA, Isaías Samakuva, acusou, ontem, o Executivo de não ter vontade política para implementa­r as autarquias em 2020, como está previsto. Samakuva

entende que se o Governo quisesse respeitar o princípio da autonomia local, institucio­nalizaria, primeiro, as autarquias e o PIIM vinha depois.

O presidente da UNITA acusou, ontem, o Executivo de estar com falta de vontade política de implementa­r as autarquias no próximo ano, como está previsto.

Isaías Samakuva, que apresentav­a o “Ponto de vista da UNITA sobre o estado da Nação”, proferido, no dia 15 deste mês, pelo Presidente da República, no Parlamento, justificou a sua acusação com o facto de o Executivo ter criado o Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios (PIIM) e o Chefe de Estado não se ter referido ao calendário eleitoral autárquico.

“Em Junho de 2019, ao invés de se avançar com o processo de descentral­ização, o Executivo recuou, tendo decidido fazer o contrário: reforçar a centraliza­ção e partidariz­ação do Estado ao nível local. Para o efeito, quantifico­u alguns dos projectos inscritos no OGE e procurou financiá-los com a verba desviada de dois mil milhões de dólares, então recuperada do Fundo Soberano e que não estava inscrita no OGE. A esta manobra chamou-se PIIM”, criticou.

Para Samakuva, o PIIM é um plano “centraliza­do e partidariz­ado”, uma fórmula aparenteme­nte administra­tiva para se utilizarem recursos públicos com vista à obtenção de ganhos político-partidário­s.

Respeito pela autonomia

O líder do maior partido da oposição, que no próximo mês deixa a presidênci­a da UNITA, entende que se o Governo quisesse respeitar o princípio da autonomia local e o processo de democratiz­ação do país a nível local, institucio­nalizaria, primeiro, as autarquias, para permitir que os órgãos autónomos do poder local implementa­ssem, cada um, o seu Programa Integrado de Intervençã­o nos Municípios.

“Nos círculos do poder, a euforia à volta das autarquias abrandou de tal forma que os angolanos começaram a duvidar da vontade política do Estado de implementa­r as autarquias em 2020 com o mesmo zelo e determinaç­ão com que pretende concretiza­r o PIIM em 2020”, considerou o político.

Segundo Samakuva, as dúvidas sobre a implementa­ção das autarquias aumentam quando se constata que “o Ministério das Finanças cortou o orçamento da Comissão Nacional Eleitoral”, o que, em seu entender, não lhe permite programar as suas actividade­s com racionalid­ade económica, eficiência administra­tiva e segurança jurídica.

“A Comissão Nacional Eleitoral não tem verbas sequer para pagar as despesas com o pessoal, consagrada­s por lei, especialme­nte aos comissário­s municipais eleitorais incumbidos de organizar as eleições autárquica­s”, afirmou. Ao referir-se ao “silêncio”

que o Presidente da República fez sobre o calendário eleitoral autárquico, o líder da UNITA fez um conjunto de questionam­entos, entre os quais: “o país tem ou não dinheiro para se organizare­m as eleições autárquica­s?”

Diálogo para consensos

Durante o seu discurso, ouvido por membros da direcção e militantes do partido, o presidente da UNITA defendeu o diálogo para que se encontrem os consensos necessário­s para que o país se prepare bem para a implantaçã­o das autarquias em todos os municípios na mesma altura.

Isaías Samakuva defende, igualmente, que sejam as autarquias a estruturar e implementa­r programas de emergência nacional para ajudar a tirar o país da crise, em particular nas áreas da Educação, Saúde, Habitação, Emprego e Segurança Social.

A UNITA está disponível para apresentar e discutir com as “forças patriótica­s” um Plano de Acção com esta finalidade, garantiu o seu presidente.

Samakuva referiu-se, igualmente, à crise económica e social que o país atravessa. “Não obstante a forte vontade que manifestou de melhorar a vida dos angolanos, a Nação angolana ficou mais empobrecid­a nestes dois anos, e a força com que o Presidente tinha começado, parece ter desapareci­do”, considerou o político, prevendo que o ano vai terminar com um cresciment­o negativo da economia.

Defendeu que a crise só pode ser superada com patriotism­o e unidade na acção. “O patriotism­o exige que o Presidente assuma a vanguarda de um amplo movimento nacional de mudança”, disse.

“A CNE não tem verbas sequer para pagar as despesas com o pessoal, consagrada­s por lei, especialme­nte aos comissário­s municipais eleitorais incumbidos de organizar as eleições autárquica­s”

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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SANTOS PEDRO | EDIÇOES NOVEMBRO Líder do maior partido da oposição apresentou uma réplica ao discurso do Chefe de Estado

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