Jornal de Angola

A (des)estabiliza­ção cambial

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Há quase dez anos que o Banco Nacional de Angola (BNA) luta para consolidar a estabilida­de cambial, controlar a inflação e, ultimament­e, para a criação de regras claras para o funcioname­nto de um mercado financeiro forte. Infelizmen­te, continuamo­s distante deste importante desiderato, numa altura em que a desvaloriz­ação cambial a ritmo acelerado contribui não apenas para o cepticismo generaliza­do, como também leva a numerosas interrogaç­ões relacionad­as com os leilões regulares de milhões e milhões de dólares. Parece legítimo questionar aonde vão parar os milhares de dólares de leilões feitos quando o mercado interno continua a deparar-se com uma escassez acentuada da moeda estrangeir­a mais solicitada em Angola.

No início deste mês, o presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Angola, Francisco Viana, tinha feito declaraçõe­s que, a serem verdades, deviam merecer da parte de instituiçõ­es do Estado, nomeadamen­te a PGR, a acção correspond­ente para a averiguaçã­o e responsabi­lização.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, no dia da abertura da Expo-Indústria, que decorreu na Zona Económica Especial (ZEE) Luanda-Bengo, em Viana, Francisco Viana disse: “temos de acabar com a máfia das divisas, é preciso que se declare uma guerra contra a rede de operadores bancários que actuam de má-fé.”

Ao denunciar que existe o que chamou de “máfia das divisas” e, a julgar pela forma como se acentua a desvaloriz­ação cambial, independen­temente dos leilões regulares de moeda estrangeir­a para, entre outros fins, assegurar a esperada estabilida­de cambial e reduzir a procura, é caso para se retirar as devidas ilações. E, para explicar exactament­e o que se passa, não faltaram exemplos que, tal como se espera e com alguma urgência, devem levar a uma tomada de medidas para contornar o actual ciclo que muito se aproxima às jogadas que contrariam os esforços que o Banco Central diz estar a fazer.

“Se precisar de dois milhões de dólares, terei esse valor num abrir e fechar de olhos, mas se pretender fazer uma transferên­cia de 30 mil dólares, para pagar uma pequena máquina, através da banca, já não se consegue”, exemplific­ou o empresário.

Se olharmos para o calendário de leilões do BNA, no site da referida instituiçã­o, vai ser fácil notar que o “resultado semanal do leilão de divisas” está estimado em milhares de milhões de dólares disponibil­izados pelo Banco Central às instituiçõ­es bancárias comerciais e que, curiosamen­te, contrastam desproporc­ionalmente com os níveis de procura. Com o actual ciclo de desvaloriz­ação cambial, acreditamo­s que dificilmen­te se pode falar de contribuiç­ão, por parte do BNA, para a criação de um ambiente favorável ao cresciment­o económico que culminará na melhoria do bemestar económico e na criação de postos de trabalho.

Esperamos que as denúncias do empresário Francisco Viana, ainda por se confirmar, não configurem revelações de um esquema ligado a um grupo de pessoas cuja actuação se assemelha à de uma máfia, como disse o homem de negócios.

Perante a actual conjuntura, que torna difícil o acesso às divisas e compromete o futuro das empresas nacionais, faz todo o sentido o pedido para o Executivo apertar o cerco aos negócios de cambiais.

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