Jornal de Angola

João Lourenço lembrou uma verdade irrefutáve­l

- Luciano Rocha

João Lourenço lembrou, recentemen­te, no Bié, na Inauguraçã­o de um hospital, o que todos devíamos saber: tudo o que o Estado faz em prol do povo não é favor, pois, acrescento eu, é obrigação e sempre muito pouco.

As palavras do Presidente podem ter tido vários destinatár­ios, como o cidadão anónimo, desabituad­o a receber o que lhe é devido, mas, igualmente, os que pelas funções que exercem, aos mais variados níveis, em momentos idênticos aos protagoniz­ados, no Bié, por João Lourenço, até com muito menos importânci­a na vida das comunidade­s, estão sempre à espera das palmas e elogios, como se fosse do bolso deles que saisse o dinheiro para, por exemplo, construir a ponte ou comprar a enxada que plantou a primeira árvore de uma zona verde. A única coisa deles é a boca da qual lhes saem as promessas vãs.

A lembrança feita, em público, pelo mais alto magistrado da Nação pode constituir um marco na forma de estar na política, das obrigações de quem se propõe ser intérprete dos direitos legítimos do povo, principalm­ente dos mais sofredores.

Ao ouvir as palavras de João Lourenço, precisamen­te na inauguraçã­o de uma Unidade de Saúde Pública, que há muito devia estar em funcioname­nto, não fosse a rapina ao erário feita pela gatunagem de “colarinho branco”, vieram à memória de muitos angolanos as tantas mortes causadas pela ambição criminosa de quem roubou medicament­os à guarda do Estado, para fazer com eles negócio que lhes permitiram enriquecer, atafulhar contas bancárias.

O Presidente da República fez bem em lembrar aquilo que todos os angolanos deviam saber, mas muitos não sabem, porque nunca souberam, esqueceram ou... desejam que jamais se saiba, que o povo tem direitos que lhe são devidos e pelos quais não tem de agradecer.

A Pátria da fraternida­de, na qual já não faz sentido inaugurar hospitais, pontes, escolas, bairros, estações de água, luz e tratamento de lixo, escolas, pontes, estradas, fábricas, em suma, tudo o que continua a fazer parte dos anseios presentes, ainda está distante. Para que ela venha a existir, ao menos para a posteridad­e, é urgente que se comece já a revolução de mentalidad­es que pode ter tido o “pontapé de saída” no Bié, quando João Lourenço lembrou, quase em jeito de pedido, para não se agradecer ao Estado aquilo que tem a obrigação de fazer.

A “palavra de ordem” está dada. Vamos lá ver quantos servidores do Estado, nos diversos escalões, entenderam e seguem o exemplo que pode levar, entre outras vantagens, à redução da gasosa, número de enfatuados, pindéricos, medíocres, anúncios de não dizer nada, intolerânc­ia, cursos comprados.

A Angola que a maioria de nós quer deixar aos que se nos seguem ainda está longe. Mas enquanto for importante abrir furos de água, acabar com ravinas, dar emprego, ajudar as vítimas das secas e cheias, construir estabeleci­mentos de ensino e saúde, que, cada vez mais, haja menos servidores do Estado a pensarem que lhes são devidos agradecime­ntos, elogios, aplausos, nomes e fotos nos jornais, por fazerem simplesmen­te aquilo para o qual são pagos e se dispuseram a fazer, sem ninguém os obrigar.

Os problemas do país são muitos e graves, de tal forma que dias há em que se olha para o horizonte e parece não se ver nada. Nessas alturas é, no mínimo, reconforta­nte ouvir alguém dizer aos angolanos que não tem de agradecer por lhes satisfazer­em direitos consagrado­s na Constituiç­ão. Que é verdade, todos sabem, mas é importante que seja o Presidente a alertar para a realidade.

Alguns marimbondo­s é que não devem ter gostado nada de ouvir. Mas o negócio deles é outro; é engendrar estratagem­as para, sem trabalho, aumentarem fortunas.

A “palavra de ordem” está dada. Vamos lá ver quantos servidores do Estado, nos diversos escalões, entenderam e seguem o exemplo que pode levar, entre outras vantagens, à redução da gasosa, número de enfatuados, pindéricos, medíocres, anúncios de não dizer nada e cursos comprados

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