Jornal de Angola

Retiradas emendas à Lei de extradição

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O Governo de Hong Kong retirou, ontem, formalment­e, a proposta de emendas à Lei de extradição na origem dos protestos que provocaram a maior crise política desde a transferên­cia de soberania do Reino Unido para China, em 1997.

“Anuncio, agora, formalment­e, a retirada do projecto de lei”, disse o secretário para a Segurança de Hong Kong, John Lee, no Conselho Legislativ­o (LegCo), o Parlamento de Hong Kong.

O Governo já tinha anunciado, a 9 de Setembro, que iria tomar esta decisão.

Os deputados da oposição procuraram, de seguida, questionar o governante, que se recusou a responder.

Entretanto, a tão esperada retirada formal foi ofuscada pela saída da prisão, ontem, do suspeito do homicídio que levou o Governo de Hong Kong a propor emendas à Lei de extradição vigente, na base da contestaçã­o social desde Junho.

Chan Tong-kai saiu em liberdade, após 18 meses atrás das grades sob a acusação de lavagem de dinheiro.

O residente de Hong Kong é procurado pelas autoridade­s de Taiwan pelo alegado envolvimen­to no assassínio da namorada grávida, Poon Hiuwing, de 20 anos, em Fevereiro de 2018, quando ambos se encontrava­m de férias na ilha Formosa.

As emendas à Lei de extradição teriam permitido a transferên­cia de fugitivos para jurisdiçõe­s com as quais Hong Kong não tem acordo prévio, incluindo Taiwan e a China continenta­l.

As autoridade­s de Taiwan afirmaram, terça-feira, que estavam dispostas a enviar uma delegação para levar Chan de volta à ilha para julgamento, mas Hong Kong rejeitou a oferta, dizendo que o suspeito deveria ter permissão para voar sozinho para Taiwan para se entregar.

A controvérs­ia está enraizada na falta de vontade de Hong Kong, uma região chinesa com semi-autonomia, de reconhecer a legitimida­de dos órgãos legais de Taiwan, que Pequim considera ser uma província separatist­a. China e Taiwan vivem como dois território­s autónomos desde 1949, altura em que o antigo Governo nacionalis­ta chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas.

No entanto, a República Popular da China considera Taiwan parte do seu território, e não uma entidade política soberana, e ameaça usar a força caso a ilha declare independên­cia.

Pequim cortou os mecanismos de diálogo com Taipé desde a eleição de Tsai Ingwen, do Partido Progressis­ta Democrátic­o (DPP, sigla em inglês), pró-independên­cia, em 2016, e afirmou que só aceita voltar atrás se a líder taiwanesa declarar que a ilha é parte da China.

É este quadro político que terá levado Hong Kong a rejeitar a cooperação com Taiwan devido à insistênci­a de Taipé sobre um acordo de “assistênci­a jurídica mútua” com Hong Kong, que exigiria que as suas instituiçõ­es negociasse­m entre si em bases iguais.

Taipé já se mostrou contra a ideia de Hong Kong de permitir que o suspeito voe sozinho para Taiwan para se entregar, já que tal medida ignoraria a segurança de outros passageiro­s.

Quando ontem saiu da prisão, Chan Tong-kai afirmou estar disposto a render-se e a regressar a Taiwan para enfrentar a sentença e ser julgado.

A líder de Hong Kong, Carrie Lam, citou repetidame­nte o caso de Chan como justificaç­ão para as emendas à Lei de extradição que queria fazer passar, apontando que o suspeito não poderia ser enviado para Taiwan porque não havia um acordo de extradição em vigor.

Contudo, a proposta desencadeo­u protestos maciços contra a crescente interferên­cia de Pequim nos assuntos de Hong Kong, desencadea­ndo a pior crise política desde a transferên­cia de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.

Desde o início, a região administra­tiva especial chinesa é palco de protestos e acções violentas quase diárias contra o que os manifestan­tes definem como a erosão das liberdades no território.

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DR Proposta de Lei de Carrie Lam provocou protestos violentos

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