Chiedi luta contra dificuldades
Localizada a 24 quilómetros da sede municipal de Namacunde, no Cunene, a comuna do Chiedi, com mais de 43 mil habitantes, enfrenta uma grave crise alimentar. Para sobreviver, a população dedica-se à produção e venda de “kaporroto” e carvão na Namíbia. Devido ao estado avançado de degradação das vias secundárias e terciárias, muitas localidades estão isoladas
Mergulhada numa fome severa, como consequência da seca, a população da comuna do Chiedi, a 24 quilómetros da sede do município de Namacunde, no Cunene, sobrevive graças ao fabrico e venda de aguardente caseiro, vulgo “kaporroto”, e carvão na República da Namíbia.
O comércio quase não existe. Na sede, funcionam apenas três minúsculas cantinas com as prateleiras quase sempre vazias. O pequeno mercado de uma dúzia de barracas vende apenas bebidas tradicionais fermentadas e carne de vaca cozida para petisco. A energia eléctrica não se faz sentir há meses, porque o único gerador está avariado.
O administrador comunal, José Graciano Hikelwa, referiu que a fome não poupa ninguém no Chiedi. Por isso, acrescenta, cada um busca a melhor saída para salvar a sua família.
As reservas de massango há muito esgotaram. Há quem nem sequer um grão para semente guardou para a época agrícola 2019/2020. Como solução, uma boa parte dos mais de 43 mil habitantes do Chiedi aposta na produção de “kaporroto” e de carvão para sobreviver à fome. A produção de carvão está proibida pelas autoridades, devido à devastação desenfreada das árvores.
A Namíbia tem sido o principal mercado do consumo de “kaporroto” e do carvão produzido no Chiedi. O “kaporroto”, fabricado à base de frutos silvestres, como o eñghunya-mbabi e o maboque, é muito apreciado no país vizinho.
Verdiana Ndeutala vive na localidade de Eedi, a sete quilómetros da sede comunal. À reportagem do Jornal de Angola, conta que centenas de pessoas percorrem longas distâncias em busca de frutos silvestres para produzir o “kaporroto”. Muitos, acrescenta, instalam-se nessas zonas durante vários dias.
Nesses locais, explica, o trabalho começa com a recolha de frutos, que depois são fermentados em gran-des recipientes até estarem prontos para serem destilados. Depois disso, o produto é transportado em bidões e, posteriormente, é comercializado na Namíbia, onde é vendido em dólar namibiano. O dinheiro ga-nho serve para o sustento da família.
Marta Ndalenguanaso, vendedora no pequeno mercado do Chiedi, afirma que se trata de um negócio que requer sacrifício. “Todos os dias, vamos e voltamos a pé da Namíbia, onde vendemos a nossa bebida caseira. Isso cansa, mas precisamos de sobreviver à fome”, conta.
Apoios são insignificantes
Um pouco por todo o país há uma onda de solidariedade para com as vítimas da seca no Sul de Angola. A província do Cunene tem recebido milhares de toneladas de bens diversos para a população afectada pelo fenómeno natural. Mas, na comuna do Chiedi, essa ajuda chega a conta-gotas. A população revela ter beneficiado apenas duas vezes dessa ajuda, consubstanciada em pequenas quantidades de fuba de milho, arroz, feijão e óleo de cozinha, que duraram apenas dois dias.
Mariano Ngenasho, da aldeia de Eedi, refere que os apoios contra a fome não têm chegado aos habitantes da sua zona, que enfrenta uma grave crise alimentar.
O administrador José Graciano Hikelwa, assegura terem recebido apenas cerca de 15 toneladas de bens alimentares e outros, disponibilizados pela Administração Municipal de Namacunde, no quadro do programa de emergência de apoio às vítimas da fome e da seca.