Tendências educativas e formativas para o desenvolvimento
Todas as pessoas, hoje, independentemente da sua idade, têm necessidade de aprender estratégias adaptativas, para fazerem face ao choque cultural causado pelo ritmo acelerado do processo de mudança e para o qual têm necessidade de se adaptarem. Crianças, jovens e adultos são cada vez mais impulsionados para se acomodarem aos novos ritmos de vida, já que a compressão do tempo acelera o metabolismo social e torna os processos de decisão cada vez mais rápidos. Esta é uma constatação do sociólogo Hermano Carmo, que refere também que “isto implica aprender a dominar o medo do desconhecido e a assumir o estatuto de emigrante no tempo, interiorizando que o novo, o diverso e o transitório não são maus em si.” São, no fundo, riscos que comportam ameaças, mas também oportunidades conducentes à melhoria da qualidade de vida.
As grandes mutações que se operam em “era do conhecimento” abrem espaços cada vez maiores para a inovação científica e tecnológica, emergindo assim uma primeira tendência para o surgimento de novas necessidades educativas e formativas, que podem ser divididas em dois grupos: um primeiro grupo de aprendizagens, relacionado com a adaptação aos processos de mudança; e um segundo grupo de aprendizagens, relacionado com a gestão dos conteúdos dessa mesma mudança.
Num primeiro grupo de aprendizagens, torna-se importante: aprender a adaptarmo-nos a novos instrumentos e a novos processos de trabalho, para que, a partir dos mesmos, se possa alcançar um desempenho qualificado; aprender a ser um consumidor crítico e não apenas um mero objecto de estratégias adoptadas por qualquer sistema massificador da sociedade de consumo; aprender a adaptarmo-nos rapidamente a novos lugares e ambientes de modo a sabermos tirar partido dos mesmos, a título de exemplo, deveremos aprender técnicas de reconhecimento, de observação e de integração a novos ambientes. Também este conjunto de aprendizagens requer a aquisição de novas competências comunicacionais, capazes de estabelecer, intensificar e gerir com maior rapidez e melhor qualidade as relações sociais aos níveis: interpessoal, grupal, organizacional e institucional.
Partindo do princípio de que o saber é degradável e a ignorância uma constante, qualquer pessoa, nos dias de hoje, na sua relação com o saber, terá que aprender (ou reaprender) a seleccionar, processar e difundir informação pertinente para o seu próprio dia a dia. O próprio fenómeno da mundialização que, por seu turno, implica um maior cosmopolitismo, deverá levar a um maior investimento na aprendizagem sobre a unidade e sobre a diversidade da espécie humana, de modo a viabilizar a educação intercultural e a evitar tensões com base no etnocentrismo. Um investimento essencialmente válido e necessário, sobretudo, para a maioria dos países africanos que, apesar de Estados independentes, têm ainda que edificar a unidade nacional no interior das suas fronteiras.
Num segundo grupo de aprendizagens surgem necessidades educativas direccionadas para a gestão dos conteúdos da mudança, que implicam na urgência de se aprender a: tirar partido dos recursos e sistemas energéticos; utilizar da melhor forma as novas tecnologias como instrumentos e não como fins em si mesmos, contrapondo à dominante cultura do individualismo uma cultura de solidariedade; produzir, distribuir e consumir bens e serviços, à escala mundial, tendo em vista a melhoria de qualidade de vida; lidar com a diversidade de modelos de organização social (família, escola e empresa); orientar e controlar a sua vida de forma autónoma; utilizar de forma ética e crítica os media (telemática, self-media e multimédia); aprender novas formas de se relacionar com o tempo (por exemplo, tirando partido dos crescentes tempos livres para melhorar a qualidade de vida) e com as culturas vigentes em presença.
Para completar esta reflexão sobre os efeitos da mudança na educação, recorreremos à antropóloga estadunidense Margaret Mead, que coloca o facto de que o processo de socialização abarca três diferentes sentidos, por vezes pouco pacíficos: uma socialização de tipo tradicional, das gerações mais velhas para as mais novas; uma socialização semelhante à que os grupos migrantes sofrem, em que as gerações em presença sofrem uma (res)socialização em simultâneo, fruto do contacto com as sociedades de acolhimento; uma socialização de tipo inverso, das gerações mais novas para as mais velhas”. Um fenómeno complexo que está na origem do conflito de gerações e que implica no alargamento das necessidades educativas a todas elas. Reconhecemos, no entanto, que o atendimento a estas questões sociais poderá resultar numa sobrecarga de exigências para os sistemas educativos contemporâneos… mas, não há como fugir a elas.
A segunda tendência está direccionada para as assimetrias sociais e insere-se, não só, no âmbito da educação para o desenvolvimento, mas, também, para a solidariedade, partindo-se do pressuposto de que não existe desenvolvimento sem que haja um Estado de Direito democrático, que necessariamente deverá promover uma cultura de solidariedade social.
A terceira e última tendência, constatada nos dias de hoje, é para uma grande alteração dos sistemas de poder devido, sobretudo, a duas circunstâncias: o avanço das novas tecnologias de informação e de comunicação e o desenvolvimento da sociedade de informação fizeram com que a principal fonte de poder deixasse de ser a riqueza e passasse a ser o conhecimento. Segundo Alvin Toffler, em “Os novos poderes”, “a cada tipo de sociedade corresponde uma fonte dominante de poder. Assim nas sociedades pré-industriais o Poder escorava-se essencialmente na força directa, na sociedade industrial, na riqueza e na sociedade de informação no conhecimento.” Como expressão política do duplo processo de planetarização e de localização registado na segunda metade do século XX, segundo Adriano Moreira, em “Teoria das Relações Internacionais”, observou-se um aumento dos protagonistas políticos e uma diversificação das suas relações, de acordo com uma tendência para a complexidade crescente.”
Como podemos verificar, a questão da educação, nos dias de hoje e em qualquer sociedade apresenta-se como “um problema social complexo, com efeitos imediatos na sua coesão interna e na sua locomoção em direcção a objectivos globais, como o Desenvolvimento e a Democracia.”
Como podemos verificar, a questão da educação, nos dias de hoje e em qualquer sociedade apresenta-se como “um problema social complexo, com efeitos imediatos na sua coesão interna e na sua locomoção em direcção a objectivos globais, como o Desenvolvimento e a Democracia
* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais