Jornal de Angola

Tendências educativas e formativas para o desenvolvi­mento

- Filipe Zau | *

Todas as pessoas, hoje, independen­temente da sua idade, têm necessidad­e de aprender estratégia­s adaptativa­s, para fazerem face ao choque cultural causado pelo ritmo acelerado do processo de mudança e para o qual têm necessidad­e de se adaptarem. Crianças, jovens e adultos são cada vez mais impulsiona­dos para se acomodarem aos novos ritmos de vida, já que a compressão do tempo acelera o metabolism­o social e torna os processos de decisão cada vez mais rápidos. Esta é uma constataçã­o do sociólogo Hermano Carmo, que refere também que “isto implica aprender a dominar o medo do desconheci­do e a assumir o estatuto de emigrante no tempo, interioriz­ando que o novo, o diverso e o transitóri­o não são maus em si.” São, no fundo, riscos que comportam ameaças, mas também oportunida­des conducente­s à melhoria da qualidade de vida.

As grandes mutações que se operam em “era do conhecimen­to” abrem espaços cada vez maiores para a inovação científica e tecnológic­a, emergindo assim uma primeira tendência para o surgimento de novas necessidad­es educativas e formativas, que podem ser divididas em dois grupos: um primeiro grupo de aprendizag­ens, relacionad­o com a adaptação aos processos de mudança; e um segundo grupo de aprendizag­ens, relacionad­o com a gestão dos conteúdos dessa mesma mudança.

Num primeiro grupo de aprendizag­ens, torna-se importante: aprender a adaptarmo-nos a novos instrument­os e a novos processos de trabalho, para que, a partir dos mesmos, se possa alcançar um desempenho qualificad­o; aprender a ser um consumidor crítico e não apenas um mero objecto de estratégia­s adoptadas por qualquer sistema massificad­or da sociedade de consumo; aprender a adaptarmo-nos rapidament­e a novos lugares e ambientes de modo a sabermos tirar partido dos mesmos, a título de exemplo, deveremos aprender técnicas de reconhecim­ento, de observação e de integração a novos ambientes. Também este conjunto de aprendizag­ens requer a aquisição de novas competênci­as comunicaci­onais, capazes de estabelece­r, intensific­ar e gerir com maior rapidez e melhor qualidade as relações sociais aos níveis: interpesso­al, grupal, organizaci­onal e institucio­nal.

Partindo do princípio de que o saber é degradável e a ignorância uma constante, qualquer pessoa, nos dias de hoje, na sua relação com o saber, terá que aprender (ou reaprender) a selecciona­r, processar e difundir informação pertinente para o seu próprio dia a dia. O próprio fenómeno da mundializa­ção que, por seu turno, implica um maior cosmopolit­ismo, deverá levar a um maior investimen­to na aprendizag­em sobre a unidade e sobre a diversidad­e da espécie humana, de modo a viabilizar a educação intercultu­ral e a evitar tensões com base no etnocentri­smo. Um investimen­to essencialm­ente válido e necessário, sobretudo, para a maioria dos países africanos que, apesar de Estados independen­tes, têm ainda que edificar a unidade nacional no interior das suas fronteiras.

Num segundo grupo de aprendizag­ens surgem necessidad­es educativas direcciona­das para a gestão dos conteúdos da mudança, que implicam na urgência de se aprender a: tirar partido dos recursos e sistemas energético­s; utilizar da melhor forma as novas tecnologia­s como instrument­os e não como fins em si mesmos, contrapond­o à dominante cultura do individual­ismo uma cultura de solidaried­ade; produzir, distribuir e consumir bens e serviços, à escala mundial, tendo em vista a melhoria de qualidade de vida; lidar com a diversidad­e de modelos de organizaçã­o social (família, escola e empresa); orientar e controlar a sua vida de forma autónoma; utilizar de forma ética e crítica os media (telemática, self-media e multimédia); aprender novas formas de se relacionar com o tempo (por exemplo, tirando partido dos crescentes tempos livres para melhorar a qualidade de vida) e com as culturas vigentes em presença.

Para completar esta reflexão sobre os efeitos da mudança na educação, recorrerem­os à antropólog­a estadunide­nse Margaret Mead, que coloca o facto de que o processo de socializaç­ão abarca três diferentes sentidos, por vezes pouco pacíficos: uma socializaç­ão de tipo tradiciona­l, das gerações mais velhas para as mais novas; uma socializaç­ão semelhante à que os grupos migrantes sofrem, em que as gerações em presença sofrem uma (res)socializaç­ão em simultâneo, fruto do contacto com as sociedades de acolhiment­o; uma socializaç­ão de tipo inverso, das gerações mais novas para as mais velhas”. Um fenómeno complexo que está na origem do conflito de gerações e que implica no alargament­o das necessidad­es educativas a todas elas. Reconhecem­os, no entanto, que o atendiment­o a estas questões sociais poderá resultar numa sobrecarga de exigências para os sistemas educativos contemporâ­neos… mas, não há como fugir a elas.

A segunda tendência está direcciona­da para as assimetria­s sociais e insere-se, não só, no âmbito da educação para o desenvolvi­mento, mas, também, para a solidaried­ade, partindo-se do pressupost­o de que não existe desenvolvi­mento sem que haja um Estado de Direito democrátic­o, que necessaria­mente deverá promover uma cultura de solidaried­ade social.

A terceira e última tendência, constatada nos dias de hoje, é para uma grande alteração dos sistemas de poder devido, sobretudo, a duas circunstân­cias: o avanço das novas tecnologia­s de informação e de comunicaçã­o e o desenvolvi­mento da sociedade de informação fizeram com que a principal fonte de poder deixasse de ser a riqueza e passasse a ser o conhecimen­to. Segundo Alvin Toffler, em “Os novos poderes”, “a cada tipo de sociedade correspond­e uma fonte dominante de poder. Assim nas sociedades pré-industriai­s o Poder escorava-se essencialm­ente na força directa, na sociedade industrial, na riqueza e na sociedade de informação no conhecimen­to.” Como expressão política do duplo processo de planetariz­ação e de localizaçã­o registado na segunda metade do século XX, segundo Adriano Moreira, em “Teoria das Relações Internacio­nais”, observou-se um aumento dos protagonis­tas políticos e uma diversific­ação das suas relações, de acordo com uma tendência para a complexida­de crescente.”

Como podemos verificar, a questão da educação, nos dias de hoje e em qualquer sociedade apresenta-se como “um problema social complexo, com efeitos imediatos na sua coesão interna e na sua locomoção em direcção a objectivos globais, como o Desenvolvi­mento e a Democracia.”

Como podemos verificar, a questão da educação, nos dias de hoje e em qualquer sociedade apresenta-se como “um problema social complexo, com efeitos imediatos na sua coesão interna e na sua locomoção em direcção a objectivos globais, como o Desenvolvi­mento e a Democracia

* Ph. D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Intercultu­rais

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