“É verdade que o modelo de cooperação pode mudar”
A doutrina do regime chinês é fácil de descortinar: o modelo político e de desenvolvimento é definido pelo Partido Comunista Chinês (PCC) e fora da retórica oficial não há espaço para o debate. As mudanças são, portanto, anunciadas pela voz oficial. Li Chong é um dos três directores-gerais do Departamento de Assuntos Africanos do Ministério das Relações Exteriores da China e reconheceu, em conversa com o Jornal de Angola, que o modelo de cooperação com o nosso país está a ser repensado.
Os motivos para a mudança têm vindo a fermentar ao longo dos últimos anos e respondem, em certa medida, às dificuldades e críticas que o anterior modelo (baseado na construção de infra-estruturas com financiamento garantido pelos recursos provenientes do petróleo) recebeu.
Com a queda dos preços do petróleo e a crise económica e financeira que o país vive desde 2014 o pagamento da dívida soberana está em risco - o endividamento do Estado já subiu até aos 90 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) e com a rápida desvalorização do Kwanza pode ultrapassar os 100 por cento do PIB.
Neste momento, os carregamentos de petróleo angolano para pagar a dívida com a China limitam a liquidez do país. Li Chongconhecebemestasquestões, até porque já trabalhou nasrepresentaçõesdiplomáticas chinesas em Bissau e Luanda.
“Em relação aos problemas com o pagamento da dívida... É verdade que o modelo de cooperação pode mudar. Pretendemos implementar um modelo focado na sustentabilidade”, disse.
Na relação com o continente africano, a China faz questão de se colocar ao mesmo nível (a China descreve-se oficialmente como “país em desenvolvimento”) e de traçar uma linha de amizade antes de falar em interesses comuns.
“No passado, a China estava apenas focada na cooperação económica, mas percebemos que entrámos numa situação nova e que Angola está com o foco na diversificação da economia. Angola é um país que está nas prioridades da agenda chinesa. A China está engajada nesta perspectiva”, garantiu Li Chong.