Centro para toxicodependentes é construído em breve no Dundo
Pretende-se que as acções de psicoterapia incluam actividades de artes e ofícios
O Instituto Nacional de Luta Anti-Drogas (Inalud-Instituto Público) pretende, a partir deste mês, instalar na cidade do Dundo, capital da província da Lunda-Norte, a primeira “Casa Dia No País”, uma unidade específica destinada à desintoxicação, tratamento, acompanhamento e reinserção social dos toxicodependentes, por via de acções de psicoterapia.
O coordenador da Unidade de Intervenção do Inalud na Lunda-Norte, Manuel Borges, disse ao Jornal de Angola que se pretende, com a criação da primeira “Casa Dia No País", que as acções de psicoterapia dos toxicodependentes sejam eficazes, com actividades socialmente úteis, por intermédio de artes e ofícios.
Manuel Borges explicou que a intenção da instalação da “Casa Dia” no Dundo foi abordada no passado mês de Outubro, num encontro de cortesia entre uma delegação do Inalud, chefiada pela sua directora-geral, Ana Graça, que trabalhou na Lunda-Norte, com o vicegovernador para os Serviços Técnicos e Infra-estruturas, Lino dos Santos, em que se ressaltou a importância de que se reveste a criação dos referidos serviços.
Para o ambicioso projecto, que visa fundamentalmente reforçar o combate às drogas e à toxicodependência, que tanto mal fazem à saúde humana, o Inalud necessita apenas de instalações, referiu o responsável, para acrescentar que a mesma unidade vai também atender pessoas de outras províncias.
Manuel Borges adiantou que a direcção-geral do instituto endereçou uma carta às estruturas centrais da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas, para a cedência, em regime de arrendamento, das antigas instalações deste organismo, localizadas no Distrito Urbano do Dundo, para servirem de unidade de desintoxicação, tratamento e reinserção social dos toxicodependentes.
Manuel Borges disse que no encontro entre a delegação do Inalud e as autoridades da Lunda-Norte ficou patente que, caso seja concretizado o projecto de instalação da “Casa Dia”, a mesma vai privilegiar a reabilitação e reinserção social dos toxicodependentes, mediante actividades produtivas, das artes e dos ofícios, em detrimento da exclusão.
“O Inalud defende a necessidade de uma cooperação multidisciplinar indispensável à implementação dos projectos da instituição, principalmente no que respeita à agricultura, para a reabilitação dos toxicodependentes, uma patologia decorrente da falta de afecto e auto-estima, bem como sobre a instalação, em breve, de uma “Casa Dia” no Dundo, que vai privilegiar a reinserção social”, afirmou.
Durante a sua jornada de trabalho na Lunda-Norte, segundo Manuel Borges, a delegação da directora-geral do Inalud reuniu também com a administradora municipal adjunta do Chitato para a área Política, Social e Comunidades, Helena Sapalo, onde se tratou a questão ligada à concessão de uma área para a exploração agropecuária e instalação dos projectos de artes e ofícios, como serviços integrados à “Casa Dia”, para suporte à reintegração social dos toxicodependentes.
Consumidores
O coordenador da Unidade de Intervenção do Inalud na Lunda-Norte, Manuel Borges, esclareceu que a instituição não tem uma base em termos de estatísticas consolidadas sobre o número de pessoas que fazem o consumo de drogas e substâncias psicotrópicas, uma vez que deviam ser as unidades sanitárias a ter o tal controlo.
Não obstante a ausência de estatísticas, o responsável disse que as informações prestadas pela Polícia Nacional e a sociedade civil apontam que os principais consumidores de bebidas alcoólicas e outras drogas, sobretudo a “cannabis” (liamba), são jovens e adolescentes.
Manuel Borges disse que, no município do Lucapa, por exemplo, onde a delegação do Inalud reuniu com o administrador municipal adjunto para a área Financeira e Orçamental, Nápoles Cambinda, foi passada a informação de que naquela circunscrição diamantífera da Lunda-Norte há registos de acentuados índices de consumo abusivo de bebidas alcoólicas e de cannabis. No município do Lucapa, acrescentou Manuel Borges, as denúncias das autoridades locais indicam que as pessoas ligadas à actividade de extracção e tráfico ilícito de diamantes (garimpeiros) são as que mais consomem cannabis.
Manuel Borges disse, citando a directora-geral do Inalud, Ana Graça, que no referido encontro com as autoridades municipais do Lucapa foi manifestada a preocupação do consumo de drogas por parte da juventude; que, no continente africano, o álcool e a liamba constituem as substâncias psicotrópicas mais usadas, cujos danos colaterais redundam em gravidez precoce, doenças como a tuberculose, o VIH/Sida, a precariedade da higiene e o empobrecimento das famílias. Ressaltou que o fenómeno “mataaulas” é uma das consequências do consumo de drogas por parte da juventude e adolescentes. A Unidade de Intervenção do Instituto Nacional de Luta Anti-Drogas na Lunda-Norte, acrescentou, vai, nos próximos dias, promover concursos de desenho e de redacção e o incremento de palestras nas escolas, com vista a sensibilizar a juventude e adolescentes a absterem-se do consumo de drogas.
Entre as estratégias traçadas para afastar a juventude das drogas, Manuel Borges destacou também a parceria que vai ser estabelecida com a Emissora Provincial da Rádio Nacional de Angola, para a inserção, na sua grelha de programas, de uma rubrica permanente de sensibilização, tanto em português como nas línguas nacionais mais faladas na Lunda-Norte, e com o Gabinete local da Educação, sobre acções de prevenção nas escolas.
A província da LundaNorte é bastante vulnerável à entrada de cannabis, devido à extensão da fronteira de 770 quilómetros, dos quais 120 fluviais, que partilha com a República Democrática do Congo (RDC), disse Manuel Borges, para acrescentar que esta informação foi prestada à delegação do Inalud pelos responsáveis dos serviços de Migração e Estrangeiros (SME) e de Investigação Criminal (SIC) locais.
Além de vulnerável, a fronteira é difícil de patrulhar, devido à escassez de recursos técnicos e humanos, disse. A Lunda-Norte faz fronteira com quatro províncias da RDC, habitadas por mais de trinta milhões de pessoas, contra os cerca de 800 mil da Lunda-Norte, conforme determinou o censo geral da população e habitação, realizado em 2014, pelo Governo angolano, sublinhou Manuel Borges.