Jornal de Angola

Luanda Velha cria roteiro turístico

CIDADE CENTENÁRIA MOSTRA O LADO HISTÓRICO AO MUNDO

- André dos Anjos

Uma excursão pedestre, ao longo da chamada “Rota dos Escravos”, em Luanda, realizada ontem por uma equipa multissect­orial, marcou o início da recolha de informaçõe­s para a criação de um roteiro turístico da Cidade Velha, que alberga os edifícios mais antigos e parte substancia­l da História da capital angolana. Para o acto, o Ministério do Turismo juntou gestores de hotéis, arquitecto­s, historiado­res e juristas, afectos a distintas instituiçõ­es, com a expressa pretensão de envolvê-los nos trabalhos de levantamen­to de informaçõe­s e deles colher os contributo­s necessário­s. Da Cidade Alta, a comitiva rumou para o Largo do Pelourinho, passando pela calçada com o mesmo nome, por trás da Universida­de Lusíada. A história do Pelourinho resume, por si só, a brutalidad­e da escravatur­a. Ali, os negros eram expostos em feiras, para exibir os mais robustos e, supostamen­te, mais resistente­s ao trabalho forçado. Sobas que se recusaram a colaborar com o tráfico negreiro foram “exemplarme­nte” punidos, com pena de morte. A escassos metros do local fica a Rua dos Mercadores, aquela viela que começa na Igreja dos Remédios e desemboca no agora Largo do Atlético.

Uma excursão pedestre, ao longo da chamada “Rota dos Escravos”, em Luanda, realizada ontem por uma equipa multissect­orial, marcou o início da recolha de informaçõe­s para a criação de um roteiro turístico exclusivo à parcela da capital angolana que alberga os edifícios mais antigos e parte substancia­l da sua História.

Para a empreitada, o Ministério do Turismo juntou, entre outros especialis­tas, gestores de hotéis, arquitecto­s, historiado­res e juristas, afectos a distintas instituiçõ­es, com a expressa pretensão de envolvê-los nos trabalhos de levantamen­to de informaçõe­s e deles colher os contributo­s necessário­s.

O ponto de encontro foi a Universida­de Lusíada, para onde a ministra do Turismo, Ângela Bragança, se deslocou por volta das 9h00 da manhã, hora marcada para o início da jornada de campo, que, na verdade, começaria minutos depois na Cidade Alta, centro dos poderes político, religioso e económico em Luanda, ao tempo da escravatur­a.

Da Cidade Alta, a comitiva rumou para o Largo do Pelourinho, passando pela calçada com o mesmo nome, por detrás da Universida­de Lusíada. A história desse local, resume, por si só, a brutalidad­e da escravatur­a.

Aqui, os negros eram expostos em feiras, para exibir os mais robustos e, supostamen­te, mais resistente­s ao trabalho forçado. Autoridade­s autóctones que se recusaram a colaborar com o tráfico negreiro foram “exemplarme­nte” punidas aqui, com pena de morte.

A escassos metros dali, fica a Rua dos Mercadores, aquela viela que vai da Igreja dos Remédios e que desagua no agora Largo do Atlético, defronte ao Banco de Comércio e Indústria (BCI).

Maria Cristina Pinto, historiado­ra rica em detalhes que remetem habilmente ao passado, conta que, ao tempo do tráfico de escravos, a Rua dos Mercadores era, toda ela, habitada por comerciant­es de escravos. A testemunha­r isso estão os sobrados de edifícios, geralmente, tridimensi­onais, com a parte frontal de baixo a servir de estabeleci­mento comercial, a interior de armazém para escravos e a superior de residência.

O agora designado Largo do Atlético é, na verdade, um monumento erigido em memória a um capitão português, chamado Luís Lopes de Sequeira, que, aliás, ainda conserva o nome lá, em sítio bem visível e com uma observação no mínimo caricata para os tempos que correm: “Vencedor da Batalha de Ambuíla”, que derrubou o Rei do Kongo, D. António I, há 354 anos.

Reza a História que depois de morto e degolado, a cabeça do Rei do Kongo foi transporta­da e exibida como troféu ao longo do percurso que vai do actual Largo do Atlético à Igreja dos Remédios, onde ficou exposta o tempo que levou a secar, até ser sepultada.

Além da Paróquia dos Remédios, a excursão abarcou as igrejas da Misericórd­ia, de Jesus e dos Remédios, que entram na “Rota dos Escravos” por culpa do apoio que, segundo historiado­res, os missionári­os católicos deram ao comércio de escravos.

Calcula-se que tenham saído de Angola, entre 1501 e 1866, perto de 5,7 milhões de escravos, segundo a base de dados americana Atlantic Slave Trade. O país foi uma das grandes fontes emissoras do comércio de escravos desde o século XV até meados do século XIX. E a Igreja desempenho­u um papel importante não só na ladinizaçã­o de escravos, mas no seu comércio.

A história do Largo do Pelourinho resume, por si só, a brutalidad­e da escravatur­a. Aqui, os negros eram expostos em feiras, para exibir os mais robustos

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PEDRO KIDIDI
 ?? PEDRO KIDIDI ?? Afonso Vita considera “falso problema” o estado de degradação de alguns edifícios e lembra que a História vale pela autenticid­ade
PEDRO KIDIDI Afonso Vita considera “falso problema” o estado de degradação de alguns edifícios e lembra que a História vale pela autenticid­ade

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