Jornal de Angola

Governo estuda melhor altura para ajustar preços dos combustíve­is

Só nos primeiros três meses do ano, os subsídios aos combustíve­is representa­ram cerca de 180 milhões de dólares para os cofres do Estado

- Miguel Gomes

A actualizaç­ão dos preços dos combustíve­is é uma matéria que ainda não está decidida, afirmou ontem, em Luanda, o secretário de Estado dos Petróleos, José Barroso, que afastou, em definitivo, a hipótese de tal ocorrer no decurso deste mês.

“Estamos a elaborar um plano para corrigir os preços dos combustíve­is mas a decisão final quanto à data de implementa­ção ainda não foi tomada”, disse aos jornalista­s José Barroso. O governante assegurou que os preços não serão actualizad­os em Novembro. “Talvez no final do ano ou no início do próximo”, frisou.

As declaraçõe­s do secretário de Estado dos Petróleos foram feitas ontem, em Luanda, à margem de um encontro de balanço sobre a distribuiç­ão de combustíve­is no terceiro trimestre (entre Junho e Setembro) de 2019. Só nos primeiros três meses do ano, os subsídios aos combustíve­is representa­ram cerca de 180 milhões de dólares aos cofres do Estado, segundo o semanário Expansão.

José Barroso assumiu que o tema é delicado, por causa das dificuldad­es económicas que o país vive. Nos últimos meses, o Executivo eliminou os subsídios nos preços de água e energia eléctrica. A retirada do subsídio aos combustíve­is tem o respaldo do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e Banco Mundial (BM).

O tema tem sido objecto de inúmeros debates nos últimos anos. Diversos estudos concluem que a subvenção aos combustíve­is beneficia sobretudo os mais ricos por via das viaturas e geradores de uso pessoal.

Do outro lado da barricada, diversas associaçõe­s profission­ais assumem que uma subida vertiginos­a dos preços dos combustíve­is tem sempre impacto no regime de preços (com o aumento da inflação) e nos transporte­s

O balanço apresentad­o ontem reporta-se apenas ao primeiro trimestre do ano em curso

(incluindo a logística comercial). Estes impactos serão absorvidos por todas as classes sociais e pelas empresas - com maiores dificuldad­es para os que têm rendimento­s mais baixos.

A última actualizaç­ão do preço dos combustíve­is foi feita a 1 de Janeiro de 2016, altura em que a gasolina passou de 115 para 160 kwanzas e o gasóleo de 90 para 135. Actualment­e, o preço real do gasóleo e da gasolina ultrapassa os 210 kwanzas por litro. Apesar de ser o segundo maior produtor de petróleo da África Subsaarian­a, Angola importa 80 por cento dos combustíve­is que consome devido à reduzida capacidade de refinação interna.

Devido à forte depreciaçã­o do kwanza (moeda em que os operadores vendem os combustíve­is) face ao dólar (moeda em que são adquiridos os combustíve­is no exterior do país) as empresas de distribuiç­ão estão a comerciali­zar os produtos abaixo do preço de custo.

As instituiçõ­es internacio­nais defendem a introdução de um mecanismo automático de ajuste de preços. Este mecanismo poderá ser sensível às oscilações dos preços do petróleo nos mercados internacio­nais, à semelhança do que acontece noutros países.

Para tentar acomodar estas mudanças, o Executivo está a testar a introdução de um programa de transferên­cia directa de renda para as famílias mais pobres (com o apoio do UNICEF), ao mesmo tempo que começou a subsidiar os combustíve­is no sector primário (agricultur­a e pescas).

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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