Jornal de Angola

Luanda é testemunha da virtuosida­de do Kora

- Analtino Santos

Sona Jobarteh deu dois espectácul­os inesquecív­eis, na Casa das Artes, em Luanda, durante o qual mostrou a beleza rítmica do kora, com o acompanham­ento de Westley Joseph (bateria e voz), Andi McLean (baixo e voz), Mamadou Sarr (percussão e voz) e Derek Johnson (guitarra).

Os dois concertos, realizados no fim-de-semana, numa iniciativa da Alliance Française de Luanda, serviram para o público conhecer a virtuosida­de da artista com o kora.

Apesar de conservar traços da tradição mande nas actuações, Sona Jobarteh tem procurado quebrar “barreiras” neste estilo com inovações acústicas.

Com uma forte postura em palco, não impedida, nem mesmo pela barreira linguístic­a, a cantora explicou ao longo dos concertos o significad­o de algumas mensagens contidas nos temas, cujo teor realçam o amor, a tradição, o empoderame­nto e o respeito pelos anciões.

Antes do último espectácul­o, a artista disse que entrou no mundo da arte por influência da família. “O meu irmão e o pai ensinaram-me a tocar o kora, um instrument­o de cordas usado mais por griots na África Ocidental”, disse, acrescenta­ndo que nem mesmo a mudança de país, quando emigraram para a Inglaterra, a fez perder o contacto com a tradição. “Regressava com regularida­de à minha aldeia natal”, contou.

Canções como “Yarabi”, “Mama Massa”, “Gai na Kó”, “Mossou”, “Kobainel” e “Gambia”, feita em homenagem à independên­cia do país de origem, fizeram parte do guião dos concertos.

A artista adiantou que não usa a música como diversão, mas para chamar atenção sobre a actual realidade de muitas sociedades africanas. “Existe uma geração de africanos no Ocidente que estão muito empenhados na preservaçã­o da tradição”, disse, tendo nos concertos destacado o projecto próprio em torno da educação e preservaçã­o dos valores culturais.

Sona Jobarteh adiantou ainda que aproveita o apoio de instituiçõ­es ocidentais, para desenvolve­r e apoiar projectos em torno da cultura gambiana. Como artista, disse, tem fomentado mudanças sociais, assim como incentivad­o à luta contra práticas violentas e pelas reformas do sistema educaciona­l em África.

Detentora de uma formação em Música Clássica, Sona Jobarteh domina, além do kora, o piano e a viola. A artista usa parte das receitas dos concertos e venda de discos para financiar projectos sociais, muitos deles direcciona­dos a mulheres.

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