Segurança reforçada junto ao Palácio do Governo
Com o objectivo de evitar perturbações, o Governo guineense decidiu, ontem, reforçar a segurança junto ao Palácio onde funciona e que a partir de agora passa a estar também guardado por militares da força da CEDEAO
A segurança junto ao Palácio do Governo da Guiné-Bissau foi, ontem, reforçada, disse à agência Lusa fonte do Executivo liderado por Aristides Gomes.
“A segurança foi reforçada no Palácio do Governo”, confirmou a fonte, adiantando que o Governo de Aristides Gomes está a “controlar os ministérios para evitar eventuais distúrbios”.
A Lusa constatou no local o reforço da presença das forças policiais e da Ecomib, força de interposição da Co-munidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). No local, estavam também funcionários que foram impedidos, pelas forças de segurança, de entrar no complexo, que junta uma série de ministérios e secretarias de Estado, incluindo o gabinete do Primeiro-Ministro.
A Guiné-Bissau vive um momento de grande tensão política, tendo o país neste momento dois governos e dois primeiros-ministros, nomeadamente Aristides Gomes e Faustino Imbali.
O Presidente guineense deu posse no dia 31 de Outubro a um novo Governo, depois de ter demitido o Governo liderado por Aristides Gomes em 28 de Outubro, e afirmou no domingo que a decisão “é irreversível”.
O general Umaro Sissoco Embaló, candidato às presidenciais de 24 de Novembro, apoiado pelo Movimento para a Alternância Democrática da Guiné-Bissau, disse, terçafeira, que o país “está no chão” e que está muito preocupado com a actual situação.
“Uma coisa que eu sei é que a Guiné-Bissau está no chão, a nossa soberania, a nossa dignidade está no chão. A única pessoa que não tem compromisso com ninguém e que pode falar com qualquer outro estadista na Guiné-Bissau, sem compromisso, é Umaro Sissoco Embaló”, afirmou o general na reserva citado pela Lusa, quando falava aos jornalistas momentos após ter aterrado no Aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, depois de ter estado ausente do país várias semanas.
“Infelizmente hoje estamos a ver nas nossas instituições da República tropas estrangeiras e para mim é uma invasão, independentemente do acordo. Quem é que trouxe essas forças? O Mário Vaz tem essas forças com ele, Domingos Simões Pereira tem, eu enquanto fui Primeiro-Ministro disse que não, que era guineense e confio nos guineenses, porque os votos que vou pedir é aos guineenses”, salientou.
Nas declarações aos jornalistas, o candidato do MademG15 criticou também a actuação do embaixador dos Estados Unidos para a Guiné-Bissau, Tulinanbo Mushingi, que afirmou que a comunidade internacional “não vê nenhuma razão para a mudança do Governo”, a 20 dias das eleições presidenciais.
Posição de Pedro Pires
O ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires considerou, terça-feira, que a Guiné-Bissau ainda paga o “custo da luta armada que fez”, na influência política nas Forças Armadas e lamentou que “as melhores lideranças” não tenham podido chegar ao poder.
“Acompanho o que acontece na Guiné-Bissau, acompanho as evoluções, discuto por vezes com as pessoas, procuro compreender as causas. Por vezes, tenho a impressão que a Guiné-Bissau paga até agora o custo da luta armada que fez, criou umas Forças Armadas com influência política, depois dificuldades de afastar as Forças Armadas de decisões políticas. Há vários factores que se entrecruzam e tornam a liderança e a gestão do país mais complicada”, apontou Pedro Pires.
A posição foi assumida pelo antigo Chefe de Estado cabo-verdiano (2001 a 2011) em entrevista à Lusa a propósito do último “Relatório sobre a Governação Africana da Fundação Mo Ibrahim”, instituição que lhe atribuiu o Prémio de boa governação em 2011.
Na mesma entrevista à Lusa, o antigo Presidente Pedro Pires admitiu ter “relações muito especiais de afectividade” com a Guiné-Bissau, países (juntamente com Cabo Verde) que partilharam o processo de luta anticolonial.
“Acompanho a situação, essa transição na Guiné-Bissau tem sido difícil, transição de colónia para país soberano, a construção do Estado soberano, depois a transição de regime monopartidário para regime pluripartidário, são transições que exigem também gestão, as lideranças têm de fazer a gestão de modo a conseguir aderir, integrar toda a gente. Por vezes isso não acontece”, apontou, alertando ainda para um dos “factores externos” que vai ameaçando a estabilidade do país.
“Por exemplo, na GuinéBissau toda a gente fala de um factor externo complicado que é o narcotráfico. São vários elementos que conduzem a uma maior complexidade da gestão da governação”, disse um dos heróis da guerra da Independência do país, ao lado de Amílcar Cabral.
A diversidade étnica e cultural do país, sublinha, é “outro aspecto” a levar em conta na Guiné-Bissau. “Nessa base, não estou em condições de condenar, de apontar o dedo a alguém, o mesmo esforço é no sentido de compreensão neste momento do que se passa, será possível? Acredito que, apesar das dificuldades actuais, das tensões políticas actuais, que os guineenses vão encontrar o caminho. Não têm tido sorte na questão das lideranças, e as melhores lideranças não têm podido chegar ao poder. Vamos ver se é desta”, enfatizou Pedro Pires.