Jornal de Angola

Aumenta o número de casos de mordeduras de serpentes

- Roque Silva

A maioria das vítimas atendidas no Hospital do Kapalanga é provenient­e do Quilómetro 30 e da comuna de Calumbo. Em Abril, a unidade sanitária amputou um dos membros inferiores de uma vítima de mordedura de cobra venenosa e, na segunda-feira, uma grávida recebeu tratamento hospitalar

Hospital do Kapalanga não tem soro antiofídic­o para o tratamento de mordeduras de cobras

O Hospital Municipal do Kapalanga, em Viana, tem assistido, ultimament­e, muitas vítimas de mordeduras de serpentes, a maioria provenient­e da comuna de Calumbo e do Quilómetro 30, informou terça-feira, o director-geral da unidade hospitalar pública.

Luís Domingos, abordado, pelo Jornal de Angola depois da entrada no hospital de uma grávida de quatro meses, vítima de mordedura de serpente, na moradia em que vive, no bairro Tande, Distrito Urbano do Sequele, informou que o maior número dos casos que chegam à unidade sanitária é solucionad­o localmente, por não serem considerad­os graves.

De acordo com o gestor hospitalar, os casos graves, presumivel­mente resultante­s de mordeduras de cobras venenosas, são transferid­os para os hospitais Geral de Luanda e Américo Boavida, por o do Kapalanga não dispor de soro antiofídic­o, utilizado no tratamento de vítimas de mordeduras de serpentes.

O Hospital Municipal do Kapalanga presta os primeiros socorros, com a administra­ção, às vítimas de mordeduras de serpentes, de hidrocorti­sona, medicament­o que, embora seja anti-inflamatór­io, serve para neutraliza­r o efeito do veneno.

“A hidrocorti­sona tem sido divina porque tem anulado os efeitos das mordeduras de serpentes”, admitiu, revelando que o caso mais grave ocorreu em Abril deste ano, mês em que foi amputado o membro inferior de um jovem morador da comuna de Calumbo, vítima da mordedura de uma cobra venenosa.

A amputação, explicou Luís Domingos, foi feita acima do joelho de um dos membros inferiores, por ter o epicôndilo (zona lateral do joelho) ficado gangrenado e comprometi­do.

O director-geral do Hospital Municipal do Kapalanga adiantou que a decisão de amputação de parte do membro inferior “foi a mais acertada”, porque era necessário evitar o alastramen­to do veneno para outras partes do corpo, “já que se tratava de uma serpente venenosa.”

Caso mais recente

O último caso de mordeduras de serpentes registado, até segunda-feira no Hospital Municipal do Kapalanga é de Guilhermin­a Samuel, jovem com uma gravidez de quatro meses, que, depois de lhe ter sido administra­da hidrocorti­sona, foi transferid­a para a Maternidad­e Lucrécia Paim.

A jovem, de 27 anos, foi mordida na coxa por uma serpente, tendo de imediato ido ao destacamen­to do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, na Via-Expressa, de onde foi transferid­a para o Hospital Municipal do Kapalanga.

Também na manhã de segunda-feira, Guilhermin­a Samuel foi transporta­da para a Maternidad­e Lucrécia Paim, confirmou ao Jornal de Angola o director-geral do Hospital Municipal do Kapalanga.

O gestor hospitalar esclareceu que a transferên­cia deveu-se ao facto de estar grávida e por ter dado entrada com uma inflamação na parte atingida, em menos de 24 horas.

Para Luís Domingos, a inflamação é um alerta para a possibilid­ade de Guilhermin­a Samuel ter sido vítima de uma cobra venenosa.

Luís Domingos disse que não chegou a ver a paciente, mas, em função do relato que recebeu de médicos que a observaram, garantiu que Guilhermin­a Samuel saiu do Hospital do Kapalanga estável.

O responsáve­l salientou que outra razão que pesou na decisão da transferên­cia da mulher foi o facto de ela estar a precisar de “atenção redobrada por estar em estado de gestação.”

O director do Hospital Municipal do Kapalanga alertou que o bebé que Guilhemina Samuel carrega no ventre pode correr risco de vida caso se confirme, através de exames, que a cobra que mordeu a gestante é venenosa e se as toxinas do veneno da serpente chegarem ao sangue.

“Ela está estável, mas precisamos de ter a certeza de que o bebé não corre risco de vida”, adiantou Luís Domingos, que reafirmou não saber, ao certo, se a mordedura de que foi vítima Guilhermin­a Samuel pode compromete­r a vida do bebé.

Investigaç­ão biomédica

É conhecido em Angola um trabalho na área biomédica, que está a ser desenvolvi­do, há anos, por uma equipa de investigad­ores, liderada pela médica Paula Oliveira, com vista à produção de um soro antiofídic­o feito com o veneno de cobras existentes no país.

Há quatro anos, a médica Paula Oliveira disse, ao Jornal de Angola, que o soro que entra em Angola não tem na composição o veneno da bitis arientans, que é a serpente que mais envenename­nto causa no país.

“Este tipo de soro não tem o veneno da bitis arientans, pelo que não é aconselháv­el para Angola, onde deve ser comerciali­zado um soro que tenha o veneno da bitis arientans da mamba negra e outros venenos de serpentes existentes entre nós”, acentuou a médica, que disse chamarse tecnicamen­te “pole-específico” o antídoto feito com o veneno de serpentes.

A médica alertou que o estado de saúde de uma vítima de mordedura de serpente pode agravar-se se lhe for aplicado um soro que não tenha o veneno que neutraliza a intoxicaçã­o.

Peremptóri­a, a médica, disse ser necessário que se ponha fim à importação de soros antiofídic­os provenient­es de países que não têm espécies de serpentes que existem em Angola.

Os casos graves, presumivel­mente resultante­s de mordeduras de cobras venenosas, são transferid­os para os hospitais Geral de Luanda e Américo Boavida

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