Incêndio, medicamentos e responsabilidade
Há dias, o Hospital Geral do Lobito foi alvo de incêndio, provocado por fogo de origem ainda desconhecida, que causou uma quebra no stock da referida unidade hospitalar e, mal as cinzas tinham baixado, começaram a surgir informações pouco abonatórias sobre a questão dos medicamentos. Pouco depois do incidente, “choveram” nas redes sociais informações segundo as quais aquela unidade hospitalar dizia sempre aos enfermos e familiares que enfrentava falta de medicamentos. Argumentavam as más línguas, através das redes sociais, que “o hospital que não tinha medicamentos viu toneladas de fármacos a incendiarem” e como foi possível se os produtos hospitalares, danificados pelas labaredas, correspondiam exactamente aos que, eventualmente e em casos pontuais, se alegava falta… Nenhuma unidade hospitalar tem tudo e, não raras vezes, como sucede em determinadas circunstâncias, até o básico pode temporariamente estar em falta, quer por razões ligadas ao processo de importação quer por fornecimento, distribuição e gestão de stock.
É verdade que, em muitas circunstâncias, já ocorreram incidentes relacionados com o mau aproveitamento de fármacos, que acabaram deteriorados atendendo aos prazos previstos e, outras vezes, por mau acondicionamento. Mas não faz qualquer sentido, relativamente ao sucedido no Hospital Geral do Lobito, passar-se a ideia de que “foram exactamente os medicamentos que arderam os que as entidades hospitalares sempre alegaram não existir em stock.” Embora se trate de um caso de polícia, a investigação do incêndio e a devida responsabilização, devemos todos augurar que as causas do incêndio sejam esclarecidas e possamos todos aprender com o que sucedeu. Devemos igualmente esperar que as entidades hospitalares sejam capazes, seguindo todas as normas para melhor acondicionamento dos fármacos, de reduzir significativamente os riscos e vulnerabilidades.
De qualquer modo, valeu a iniciativa do Ministério da Saúde ao apetrechar com vinte e seis toneladas de medicamentos e material gastável o Hospital Geral do Lobito, para atenuar a escassez de remédios provocada pelo incêndio de segunda-feira na farmácia da unidade hospitalar.
É tempo de as instituições da Saúde e seus parceiros ultrapassarem situações, algumas vezes recorrentes, de fármacos que se deterioram nos contentores e armazéns, sem responsabilização.
Acreditamos que o processo de importação de medicamentos tem de prever todas as questões elementares ligadas aos “timings”, além da observação rigorosa da relação entre os compostos, a temperatura e o lugar de acondicionamento dos medicamentos. Colaborar para ver melhorado o nosso Sistema Nacional de Saúde passa mais pelas sugestões e contribuições concretas e menos pela alimentação de falsas informações sobre factos que se passam ou deixam de passar. Esperamos que a experiência ocorrida no Lobito sirva para que se reforce os mecanismos de segurança e a responsabilidade para que se não desperdice o pouco que muita falta nos faz.