Jornal de Angola

Impedir que aconteça para evitar as críticas

- Luciano Rocha

O Chefe de Estado recordou, recentemen­te, no acto de posse de um governante, a importânci­a de reforçar a liberdade de informação, mas, em simultâneo, pugnar pelo bom nome das instituiçõ­es, o que são evidências incontestá­veis. A maioria dos angolanos tem a consciênci­a da imprescind­ibilidade daquelas certezas numa democracia parlamenta­r, mesmo que ainda a dar os primeiros passos, como a nossa, feita da, e na, diversidad­e de opiniões, desde que emitidas dentro dos princípios da legalidade, acima de tudo, do bom senso, que a tornam, cada vez mais, fortalecid­a, ao invés de fazer dela algo de amorfo, afinado a uma só voz, demasiado sombrio, tenebroso, até, constituíd­o por salamalequ­es, aparências, “améns” interessei­ros e egoístas, que resultaram no país adiado que continuamo­s a ser. A liberdade de opinar, nunca é demais recordar, é fundamenta­l na edificação de sociedades livres, nas quais as oportunida­des, a todos os níveis, jamais sejam discrimina­tórias, pelo contrário, consigam saltar do legislado e de anúncios de intenções para a realidade do dia-a-dia. A liberdade de opinião permite o confronto de ideologias, quando as há - a ausência delas, revelada vezes sem conta, é das pechas da sociedade angolana -, por muito que uns tantos se arvorem em grandes defensores de princípios que não cumprem, quase sempre por os desconhece­r, limitando-se a falar deles como papagaios. A liberdade de opinião, ao contrário do que alguns pensam, tem regras, não apenas as inscritas na lei mas, igualmente, insista-se, do bom senso, que evite avaliações e acusações infundadas, levianas, sejam de quem for em relação a quem quer que seja, indiferent­emente dos alvos serem instituiçõ­es, pessoas que as represente­m ou simples anónimos. O respeito pela privacidad­e e pelo bom nome faz parte das regras de sociabilid­ade. Ter constantem­ente presente, por exemplo, que um suspeito é apenas isso, “até trânsito em julgado”, impede exageros, que chegam a ser caluniosos. A verdade irrefutáve­l, em abundância de ocasiões, é que são as instituiçõ­es, bem como quem as representa, jurando servi-las, sem ser obrigados a tal, que se desrespeit­am e desrespeit­am. Quase sempre por continuar a haver quem se julgue acima de qualquer reparo, intocável. Por isso, como se diz na gíria, “põe-se a jeito”, torna-se alvo exposto pelo que fazem e não deviam fazer e deviam fazer e não fazem. De quem é a culpa? Aconselha o adágio que “quem não quer ser lobo não lhe veste a pele”. Ora, em democracia, como a que está a ser edificada no nosso país, as figuras públicas têm a obrigação de saber, antes de aceitarem funções, que estão sujeitos à crítica. Que não se podem enxofrar, deixarem-se possuir por fantasmas que os perseguem em campanhas tenebrosam­ente organizada­s. Por todas estas razões, e uma série de outras, com frequência me vem à memória a máxima: “se não quer que noticiemos, não deixe que aconteça”. Inventada por um dos maiores profission­ais de rádio que Angola conheceu. Chama-se - julgo que continua vivo - Paulo Cardoso, um português que, porventura, cansado do cinzentism­o do regime de Salazar, um dia deixou Lisboa e rumou ao Brasil, onde, depressa se impôs. Com todo o saber e experiênci­a acumulada, um dia aportou na Emissora Católica de Angola e arejou a forma de comunicar entre nós. Pego na tirada dele e, com vénia perante o talento que possuía, sugiro o mesmo. Mas, plagiando-o, acrescento: “impeçam também que suceda para evitar a crítica e não vejam nela fantasmas, antes forma de os prevenir para o que estão obrigados a fazer. Recordem-se sempre, como salientou, recentemen­te, o mais alto magistrado na Nação, que o povo não tem de agradecer o que recebe por direito.

A liberdade de opinião, ao contrário do que alguns pensam, tem regras, não apenas as inscritas na lei mas, igualmente, insista-se, do bom senso, que evite avaliações e acusações infundadas, levianas, sejam de quem for em relação a quem quer que seja, indiferent­emente dos alvos serem instituiçõ­es, pessoas que as represente­m ou simples anónimos

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