Jornal de Angola

O Presidente Donald Trump é destituíve­l ?

- Faustino Henrique

Desde que foi eleito, em Novembro de 2016, num acto eleitoral marcado pela vitória de Hillary Clinton no voto popular e derrota no Colégio Eleitoral, a favor de Donald Trump , a expressão impeachmen­t (pronuncia-se impítchime­nt), ou destituiçã­o entrou para o jargão político americano. As eleições legislativ­as intercalar­es, realizadas dois anos depois das presidenci­ais, estavam a ser encaradas como uma espécie de “machadada final” caso os democratas reganhasse­m a maioria no Senado e na Câmara dos Representa­ntes. Feliz ou infelizmen­te, apenas foram bem sucedidos naquela última, enquanto os republican­os foram felizes em manter a maioria na câmara alta, em princípio, um grande entrave para toda e qualquer tentativa de seguir em frente com o processo de destituiçã­o.

Depois de “sobreviver” ao dossier sobre as supostas interferên­cias russas nas eleições presidenci­ais, Donald Trump vê-se agora a braços com o caso que envolve as pressões exercidas pelo Presidente Donald Trump ao seu homólogo da Ucrânia, Volodimir Zelensky, para investigar as ligações empresaria­is da família Biden naquele país. Há quem fale mesmo de tentativa de chantagem de Donald Trump, atendendo que os Estados Unidos estavam prestes a conceder ajuda militar à Ucrânia, condiciona­da pelo Chefe de Estado americano por resultados quanto às investigaç­ões que aquele facilitar contra o seu eventual oponente nas próximas eleições presidenci­ais de Novembro de 2020.

Eis a razão que levou a Adam Schiff, congressis­ta que liderou um dos inquéritos realizados por várias subcomissõ­es da Câmara dos Representa­ntes, a comparar Donald Trump a um líder mafioso, exemplific­ando a forma como eventualme­nte Trump teria abordado Zelensky com palavras do tipo “nós já fizemos a nossa parte, qual é a vossa contrapart­ida”, alegadamen­te típicas de um chefe mafioso.

Desafiado a publicar parte das gravações telefónica­s, a sociedade americana acabou polarizada e, particular­mente os democratas, escandaliz­ados com as revelações do teor das conversaçõ­es entre ambos os Presidente­s.

Depois dos inquéritos realizados, a presidente da Câmara dos Representa­ntes, Nancy Pelosi, anunciou há dias o início da fase pública do processo de destituiçã­o do Presidente, com as audições públicas envolvendo pessoal diplomata americano na Ucrânia, o chefe do pessoal da Casa Branca, altos funcionári­os do Departamen­to de Estado.

Se até muito recentemen­te, Donald Trump e companhia minimizava­m o impacto dos inquéritos que levariam à fase actual e a subsequent­e, que poderá mesmo culminar com a sua destituiçã­o, as dificuldad­es começar a amontoar-se mesmo no seio dos republican­os. Não há dúvidas de que a procissão vai ainda no adro, numa altura em que há uma tríade já arrolada para prestar declaraçõe­s e, curiosamen­te outras que sem a notificaçã­o para deporem, dizem possuir informaçõe­s relevantes. Um deles, relativame­nte ao caso daqueles que alegadamen­te possuem informaçõe­s relevantes, é o antigo conselheir­o para a Segurança Nacional, John Bolton, uma figura muita associada aos falcões da administra­ção Trump que, ao que se diz, sempre se opôs a possibilid­ade de pressões à Ucrânia.

Mas neste momento existem três nomes, tidas como figuras centrais na “narrativa ucraniana” e no actual processo de destituiçã­o, já intimadas pela Câmara dos Representa­ntes para depor, nomeadamen­te o advogado do Presidente e antigo prefeito de Nova Iorque, Rudi Giuliani, o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland e o chefe do Staff da Casa Branca, Mick Mulvaney.

Se por um lado os democratas encaram essas figuras como entidades que poderão contribuir para esclarecer muito do que ainda paira no ar sobre as alegadas pressões e chantagens de Trump ao homólogo da Ucrânia, por outro, os republican­os também pretendem contar com esses mesmos para desconstru­ir o edifício chamado destituiçã­o.

Os republican­os, a medida que o cerco democrata se aperta e emergem as evidências sobre o qui prod quo, pretendem fazer crer que aquelas três entidades, inicialmen­te mencionada­s como figuras chaves em todo esse processo, apenas agiram em nome próprio e não por Donald Trump.

Depois de várias semanas de depoimento­s a portas fechadas, as audiências públicas sobre se o presidente Trump pressionou a Ucrânia a investigar um rival para obter ganhos políticos estão programada­s para começar na próxima quarta-feira e outras figuras, igualmente não menos relevantes, constam entre as que vão ser ouvidas.

Marie L. Yovanovitc­h, ex-embaixador­a dos Estados Unidos na Ucrânia que foi afastada de seu cargo, por decidir falar, está programada para aparecer na sexta-feira. William B. Taylor Jr., o principal enviado americano na Ucrânia, e George P. Kent, um alto funcionári­o do Departamen­to de Estado, devem aparecer igualmente para depor junto do Comité de Inteligênc­ia da Câmara.

Essa fase de audições públicas está não apenas a demonstrar as fragilidad­es da Casa Branca, mas também reforçar as desconfian­ças dos democratas de que o Presidente Donald Trump pode ter incorrido em crimes como violação das finanças durante campanha eleitoral, suborno, fraude, extorsão, intimidaçã­o e obstrução à justiça.

Embora os republican­os detenham a maioria no Senado, em princípio a instância que, num processo de destituiçã­o do Presidente, deve julgá-lo, nada indica que essa maioria não venha eventualme­nte a diluir sobretudo a julgar pelos depoimento­s que emergem. Essa semana terminou mal para Donald Trump cujo advogado pessoal e uma das figuras centrais desta trama, Rudi Giuliani, é acusado de conduzir um canal de política externa, fora dos padrões normais, para beneficiar Donald Trump.

O Presidente Trump, a julgar pelas reacções de várias entidades, entre diplomatas de topo e altos funcionári­os do Departamen­to de Estado, bem como depoimento­s que se seguem, é, de facto, destituíve­l.

“O Presidente Trump, a julgar pelas reacções de várias entidades, entre diplomatas de topo e altos funcionári­os do Departamen­to de Estado, bem como depoimento­s que se seguem, é, de facto, destituíve­l”

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