Jornal de Angola

Direitos das crianças têm ainda várias “fragilidad­es”

O respeito pelos direitos das crianças em Cabo Verde tem várias fragilidad­es, sendo necessária uma melhor fiscalizaç­ão para que possam ser devidament­e respeitado­s, refere o relatório de uma organizaçã­o divulgado sábado na Cidade da Praia

-

A presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos e Cidadania (CNDHC) cabo-verdiana apontou “várias fragilidad­es” no respeito pelos direitos das crianças no país, indicando casos mais preocupant­es nas ilhas do Sal e da Boavista.

“Penso que relativame­nte à realização dos direitos da criança ainda temos várias fragilidad­es”, disse Zaida Freitas, que falava aos jornalista­s durante a sessão de abertura da 47ª Reunião Plenária da Comissão Nacional para os Direitos Humanos e a Cidadania (CNDHC), a decorrer na Cidade da Praia.

A presidente da CNDHC disse que o cumpriment­o dos direitos das crianças foi um dos assuntos abordados, com os comissário­s e representa­ntes da sociedade civil a apontarem preocupaçõ­es em algumas ilhas que precisam de uma “fiscalizaç­ão mais próxima”.

“Ela tem o direito à educação, mas ela tem um ambiente em casa em que muitas vezes nem sequer tem acesso à água, à electricid­ade, a uma alimentaçã­o que lhe permita um desenvolvi­mento harmonioso e que lhe permita concentrar­se nos estudos. De alguma forma, damos acesso a um direito, mas há outros que estão ainda a ser negados, sobretudo aos familiares, e que não permite o pleno exercício da cidadania no que diz respeito ao direito à educação”, completou.

Um dos exemplos foi a questão da exploração e violência sexual, sobretudo nas ilhas do Sal e da Boavista, que tem sido notícia no país e está a preocupar as autoridade­s. Por isso, disse, desta reunião sairá uma recomendaç­ão ao Estado para reforçar a comissão, de modo a que possa implementa­r as recomendaç­ões do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, que vão no sentido de criar condições para detectar e identifica­r precocemen­te a exploração e violência sexual de crianças.

Quem também não tem visto os seus direitos plenamente respeitado­s em Cabo Verde são as pessoas com deficiênci­a, no que diz respeito ao acesso à educação, à saúde e ao emprego, segundo Zaida Freitas. “Há um trabalho enorme a ser feito”, entendeu a presidente, que apontou ainda questões ligadas ao acesso à Justiça, com destaque para a morosidade processual.

A reunião plenária acontece, segundo a presidente da CNDHC, numa altura em que o país foi radiografa­do pelas instâncias internacio­nais e recebeu um conjunto de recomendaç­ões. “Quer a comissão, quer a sociedade civil e o Parlamento têm um papel importante na fiscalizaç­ão e monitoriza­ção destas recomendaç­ões e o foco desta plenária será sobretudo as estratégia­s conjuntas a partir de 2020 para fazer, para já, a divulgação”, perspectiv­ou.

Organizaçã­o da Polícia

O novo Procurador-Geral da República (PGR) de Cabo Verde, Luís Landim, pediu, sábado, mais investimen­tos e melhor organizaçã­o da Polícia de Investigaç­ão Criminal para poder reduzir os processos e aumentar a produtivid­ade, segundo a Lusa.

“Se queremos aumentar mais ainda a produtivid­ade e reduzir as pendências, vamos ter que investir cada vez mais”, afirmou o Procurador-Geral da República de Cabo Verde, que foi ouvido pela 1ª Comissão Especializ­ada de Assuntos Constituci­onais, Direitos Humanos, Segurança e Reforma do Estado do Parlamento, no âmbito da preparação do debate sobre a situação da Justiça.

Para Luís Landim, a redução das pendências por parte do Ministério Público depende, “em grande parte”, da Polícia de Investigaç­ão Criminal. “Não se pode pensar apenas na criação de condições do Ministério Público sem se lembrar dos nossos principais parceiros, que são a Polícia de Investigaç­ão Criminal, a Polícia Nacional e a Polícia Judiciária”, prosseguiu o Procurador-Geral, consideran­do que “há que organizar bem” esses serviços de investigaç­ão para que possam responder aos processos existentes.

Segundo o Relatório Anual Sobre a Situação da Justiça, no ano judicial 2018/2019 (1 de Agosto a 31 de Julho) o Ministério Público cabo-verdiano recebeu mais de 22.400 novos processos-crime, menos 26,6 por cento face ao período anterior, mas mais de 67.300 ficaram por resolver e transitara­m para o novo ano judicial.

O novo PGR cabo-verdiano referiu que 98 por cento da criminalid­ade no país é média criminalid­ade, que poderia ser “perfeitame­nte” investigad­a pela Polícia Nacional (PN), deixando a Polícia Judiciária (PJ) para crimes mais complexos, visto ser especializ­ada em investigaç­ão criminal. “Mas para isso, é necessário que haja polícia formada e preparada”, insistiu Luís Landim, adiantando que já teve uma conversa informal com o director nacional da PN, Emanuel Moreno, que lhe garantiu que ainda este ano poderá ser criado esse departamen­to de investigaç­ão criminal.

 ?? DR ?? Organizaçõ­es da sociedade civil defendem maior fiscalizaç­ão aos direitos das crianças
DR Organizaçõ­es da sociedade civil defendem maior fiscalizaç­ão aos direitos das crianças

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola