Jornal de Angola

Mitos sobre o que comer põem em risco qualidade de vida das pessoas afectadas

- Victória Ferreira

A falta de informação sobre a melhor alimentaçã­o para os portadores da anemia falciforme pode pôr em risco a qualidade de vida dessas pessoas, disse, em Luanda, a responsáve­l do centro de atendiment­o dessa doença a nível do Hospital Geral dos Cajueiros.

Cláudia Humbala falava numa palestra sobre a “Nutrição da criança com anemia falciforme - da teoria à prática”, realizada, sexta-feira, no Hospital Materno-infantil do Kilamba Kiaxi, promovido pela Fundação Lwini, em parceria com o Ministério da Saúde e Chevron.

“Na nossa sociedade existem vários mitos, porque as pessoas não estão muito informadas sobre a anemia falciforme, mas têm noção de que existe uma doença que as pessoas chamam de células ou celulose e vão criando algumas barreiras em relação à alimentaçã­o”.

De acordo com a responsáve­l, muitas pessoas com anemia falciforme vão parar aos hospitais, não pela sua condição de portador da doença, mas por outra patologia, nomeadamen­te a falta de nutrientes ou má nutrição, tendo em conta esses mitos que existem.

Cláudia Humbala afirmou que há famílias que restringem a alimentaçã­o dos portadores dessa doença, excluindo o feijão, kizaca e outros que fazem bem às pessoas com anemia falciforme, situação que acaba por prejudicar e provocar outras doenças, por carência de nutrientes e uma alimentaçã­o adequada.

A responsáve­l apelou às pessoas para terem muito cuidado ao administra­r certos produtos, principalm­ente às crianças. “Não se sabe quais são os danos que causam no organismo”, alertou. Por isso desaconsel­hou o uso de “folhas de Jeová” e sangue de porcoíndio, sem que antes se estude as potenciali­dades destes.

Rosa Camilo, directora clínica do Hospital Materno Infantil do Kilamba Kiaxi, aconselhou o uso de medicament­os prescritos por médicos, ao invés de ervas, cujos efeitos colaterais não se conhecem.

Por outro lado, disse que se nota um consumo exagerado da beterraba, cujo teor de ferro é alto. “A ânsia de ver o seu filho melhorado, é tal que a mãe é capaz de dar dois ou três litros de sumo de beterraba à criança o que é desnecessá­rio.”

“A beterraba deve ser consumida como um outro tubérculo normal como a cenoura, o nabo, porque o teor de ferro da beterraba é maior e nesse caso o paciente não precisa de ferro”.

Aumento de casos

Os casos de anemia falciforme têm vindo a aumentar no Hospital Geral dos Cajueiros, revelou a enfermeira Claúdia Humbala, responsáve­l do Centro de Atendiment­o ao Doente com Anemia, que anunciou o controlo de 2600 crianças que padecem da doença.

A nível do Hospital Materno-infantil do Kilamba Kiaxi, 2144 crianças são acompanhad­as, desde 2015, disse Rosa Camilo, directora-clínica da instituiçã­o, anunciando o surgimento de 48 novos casos, durante os últimos seis meses.

Sendo uma doença genética, sem manifestaç­ões clínicas, os portadores, muitas vezes, passam despercebi­dos, por isso, é importante informar e educar a população e famílias para que tomem decisões consciente­s nas relações em que poderão ter ou não filhos com anemia falciforme de modo a acautelar e diminuir o índice de crianças com esta doença, disse a médica.

Para Rosa Camilo, “só vamos conseguir travar esta doença se diminuir o cruzamento entre portadores. Através do teste do pezinho aos recém –nascidos podese diagnostic­ar os casos”.

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