Mitos sobre o que comer põem em risco qualidade de vida das pessoas afectadas
A falta de informação sobre a melhor alimentação para os portadores da anemia falciforme pode pôr em risco a qualidade de vida dessas pessoas, disse, em Luanda, a responsável do centro de atendimento dessa doença a nível do Hospital Geral dos Cajueiros.
Cláudia Humbala falava numa palestra sobre a “Nutrição da criança com anemia falciforme - da teoria à prática”, realizada, sexta-feira, no Hospital Materno-infantil do Kilamba Kiaxi, promovido pela Fundação Lwini, em parceria com o Ministério da Saúde e Chevron.
“Na nossa sociedade existem vários mitos, porque as pessoas não estão muito informadas sobre a anemia falciforme, mas têm noção de que existe uma doença que as pessoas chamam de células ou celulose e vão criando algumas barreiras em relação à alimentação”.
De acordo com a responsável, muitas pessoas com anemia falciforme vão parar aos hospitais, não pela sua condição de portador da doença, mas por outra patologia, nomeadamente a falta de nutrientes ou má nutrição, tendo em conta esses mitos que existem.
Cláudia Humbala afirmou que há famílias que restringem a alimentação dos portadores dessa doença, excluindo o feijão, kizaca e outros que fazem bem às pessoas com anemia falciforme, situação que acaba por prejudicar e provocar outras doenças, por carência de nutrientes e uma alimentação adequada.
A responsável apelou às pessoas para terem muito cuidado ao administrar certos produtos, principalmente às crianças. “Não se sabe quais são os danos que causam no organismo”, alertou. Por isso desaconselhou o uso de “folhas de Jeová” e sangue de porcoíndio, sem que antes se estude as potencialidades destes.
Rosa Camilo, directora clínica do Hospital Materno Infantil do Kilamba Kiaxi, aconselhou o uso de medicamentos prescritos por médicos, ao invés de ervas, cujos efeitos colaterais não se conhecem.
Por outro lado, disse que se nota um consumo exagerado da beterraba, cujo teor de ferro é alto. “A ânsia de ver o seu filho melhorado, é tal que a mãe é capaz de dar dois ou três litros de sumo de beterraba à criança o que é desnecessário.”
“A beterraba deve ser consumida como um outro tubérculo normal como a cenoura, o nabo, porque o teor de ferro da beterraba é maior e nesse caso o paciente não precisa de ferro”.
Aumento de casos
Os casos de anemia falciforme têm vindo a aumentar no Hospital Geral dos Cajueiros, revelou a enfermeira Claúdia Humbala, responsável do Centro de Atendimento ao Doente com Anemia, que anunciou o controlo de 2600 crianças que padecem da doença.
A nível do Hospital Materno-infantil do Kilamba Kiaxi, 2144 crianças são acompanhadas, desde 2015, disse Rosa Camilo, directora-clínica da instituição, anunciando o surgimento de 48 novos casos, durante os últimos seis meses.
Sendo uma doença genética, sem manifestações clínicas, os portadores, muitas vezes, passam despercebidos, por isso, é importante informar e educar a população e famílias para que tomem decisões conscientes nas relações em que poderão ter ou não filhos com anemia falciforme de modo a acautelar e diminuir o índice de crianças com esta doença, disse a médica.
Para Rosa Camilo, “só vamos conseguir travar esta doença se diminuir o cruzamento entre portadores. Através do teste do pezinho aos recém –nascidos podese diagnosticar os casos”.