Jornal de Angola

O ano lectivo

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A construção de escolas deve ser directamen­te proporcion­al ao cresciment­o da população, para fazer face ao défice de professore­s e descongest­ionar as turmas superlotad­as, disse há dias o secretário de Estado para o Ensino Pré-Escolar e Geral, Pacheco Francisco. Numa altura em que o ano lectivo 2019 dá, praticamen­te, lugar à preparação do seu sucessor, de uma forma mais extensiva, as palavras do governante fazem todo o sentido. Além da construção de escolas, um processo que continua, quer com iniciativa­s do Estado, quer com privados, é preciso que sejam estabeleci­das estratégia­s e metas na preparação do corpo docente, na previsão da comunidade estudantil que entra pela primeira vez no ensino a cada ano e na adequação dos meios disponívei­s às reais necessidad­es das escolas e das comunidade­s. Há algumas assimetria­s que devem ser corrigidas, nomeadamen­te o paradoxo da existência de áreas em que são erguidas escolas sem uma população estudantil que correspond­a e a realidade inversa noutras localidade­s.

Nos últimos anos, temos assistido a inauguraçõ­es de sucessivos anos lectivos marcados por um elevado número de crianças que acabam fora do sistema de ensino, com maior particular­idade no primeiro nível. A taxa de cobertura escolar, inclusive em províncias aparenteme­nte com maiores possibilid­ades, em recursos humanos formados e meios materiais, ainda é preocupant­e.

Mesmo com a existência do Ensino Particular presente um pouco por todo o lado, algumas províncias como Luanda, Huambo, Benguela, Huíla, apenas para mencionar estas, continuam a apresentar uma taxa de cobertura escolar com défices elevados. Obviamente que a responsabi­lidade das instituiçõ­es do Estado transcende a parceria, papel e atribuição esperados dos privados, cuja implantaçã­o das suas instituiçõ­es de ensino depende de factores e interesses nem sempre coincident­es com os do Estado. Logo, a esperança continua a residir no Estado que, independen­temente das suas limitações em meios, deverá sempre olhar para o sector da Educação não como factor de custos, mas como o de investimen­to para bem de toda a sociedade. Uma Angola com uma elevada taxa de escolarida­de elevada, desde os níveis inferiores, aos intermédio­s e superior, não há dúvidas de que saímos todos a ganhar. Uma população bem instruída e educada constitui sempre um ganho para o país, independen­temente das insuficiên­cias decorrente­s da natureza falível do ser humano.

As famílias, com membros livres das amarras do analfabeti­smo e da reduzida escolarida­de, ganham porque aquele atributo melhora a atmosfera familiar, sobretudo quando as pessoas, instruídas e educadas, tendem a promover o diálogo, a concertaçã­o e melhor compreensã­o dos fenómenos sociais.

As empresas ganham igualmente na medida em que, com pessoas instruídas e educadas, a consciênci­a sobre o trabalho, a dedicação aos afazeres laborais e, segurament­e, a garantia de produtivid­ade e a geração de riqueza tendem a ser maiores. E a satisfação generaliza­da da sociedade, com pessoas instruídas e educadas, pode ser mais facilmente alcançada, quando e se todas as variáveis forem devidament­e encaixadas tendo como pilar de sustentaçã­o a educação. De facto, apenas apostando na educação se conseguirá atingir resultados que incidam sobre todas as realizaçõe­s pessoais e familiares, desde as tangíveis às intangívei­s. A construção de escolas em função das necessidad­es reais das comunidade­s em que as mesmas devem ser erguidas, a formação de professore­s e o refrescame­nto daqueles que já se encontram no sector, ao lado de outras iniciativa­s, devem ser materializ­ados pelo Estado.

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