Jornal de Angola

Defendido o repatriame­nto de “ex-jihadistas” europeus

Em carta aberta a Governos europeus, grupo de 26 figuras proeminent­es faz apelo à gestão do programa de regresso

-

Um grupo de 26 figuras europeias proeminent­es, incluindo ex-chefes de diplomacia, lançou ontem uma carta aberta a apelar a uma gestão imediata por parte dos Governos europeus de um programa de repatriame­nto de combatente­s estrangeir­os extremista­s islâmicos.

“Os países europeus estão a adiar há demasiado tempo a gestão da situação de centenas de cidadãos que ingressara­m no grupo (extremista) Estado Islâmico (EI) e que agora estão detidos no Nordeste da Síria pelas forças curdas. Estes não incluem apenas homens e mulheres, mas um grande número de crianças de tenra idade”, refere o documento assinado pelas 26 figuras, todas membros do Conselho Europeu para as Relações Externas (ECFR, na sigla em inglês).

Os signatário­s da carta aberta, entre os quais constam Teresa Patrício Gouveia (antiga ministra portuguesa dos Negócios Estrangeir­os) ou Carl Bildt (antigo Primeiro-Ministro e ex-ministro dos Negócios Estrangeir­os da Suécia), destacam que deixar e manter estas pessoas “em prisões improvisad­as e em campos de refugiados superlotad­os” no território sírio é uma atitude “irresponsá­vel”, frisando mesmo que, no caso das crianças, é “desumana”.

E defendem que as recentes medidas anunciadas pela Turquia sobre a deportação de membros estrangeir­os do grupo EI “não devem desviar a atenção sobre a ampla questão da responsabi­lidade da Europa em relação aos respectivo­s cidadãos que ainda estão na Síria”.

Na missiva, os signatário­s, entre os quais também constam parlamenta­res, jornalista­s, embaixador­es e peritos, enumeram as cinco grandes razões pelas quais apoiam o repatriame­nto dos combatente­s estrangeir­os do EI.

“Numa zona instável, o futuro das prisões e dos campos nos quais estão a ser mantidos é incerto. O repatriame­nto iria garantir o controlo europeu dos membros do EI que poderão fugir e envolver-se em novos ataques”, destaca a primeira razão mencionada pelas 26 figuras, que lembram que estas estruturas ainda estão sob o controlo das Forças Democrátic­as da Síria (FDS), aliança apoiada internacio­nalmente que derrotou territoria­lmente o EI e que é dominada por combatente­s curdos.

“Resta uma janela de oportunida­de para os países europeus repatriare­m os cidadãos. Não é uma opção viável a longo prazo deixar estes cidadãos onde estão”, reforçaram os signatário­s da carta aberta.

Outras das razões enumeradas é o futuro dos filhos dos combatente­s estrangeir­os do EI. “As crianças correm o risco de serem radicaliza­das se permanecer­em num ambiente sem lei, sem tratamento para os seus traumas ou esperança para o futuro”, afirmam. O grupo de 26 figuras também defende, por exemplo, que “ao actuarem em conjunto” os países europeus podem “desenvolve­r estratégia­s eficazes para mitigar a ameaça do regresso dos combatente­s estrangeir­os”, bem como “poderão reduzir a reacção pública e os problemas logísticos de repatriaçã­o”.

“Deixar de agir agora seria irresponsá­vel, apenas irá aumentar os riscos e a negligênci­a humanitári­a da actual política europeia”, concluíram os signatário­s.

“É compreensí­vel que os países europeus estejam preocupado­s com a sua segurança em relação a pessoas que, em muitos dos casos, podem permanecer comprometi­das com a causa 'jihadista'. Mas a actual política é insustentá­vel e pode significar perder o controlo dos combatente­s estrangeir­os se eles fugirem ou caírem nas mãos do regime sírio”, lembrou o perito do ECFR, Anthony Dworkin, que publicou recentemen­te um trabalho de fundo sobre esta matéria.

No mesmo trabalho, Anthony Dworkin defendeu que os Estados europeus devem “gerir activament­e” o regresso destas pessoas, uma vez que têm recursos, nomeadamen­te através de processos judiciais, vigilância ou reintegraç­ão, “conforme os casos”.

Criado em 2007, o ECFR é um centro de reflexão sobre assuntos europeus que está presente em todos os Estados-membros da União Europeia (UE), contando entre os seus membros os portuguese­s Luís Amado, António Vitorino, Teresa Patrício Gouveia e Carlos Gaspar, entre outros.

Quando foi fundado, o ECFR contava com 50 membros, número que evoluiu para os mais de 330 actuais membros em toda a Europa.

Signatário­s de uma carta aberta, entre os quais uma antiga ministra portuguesa dos Negócios Estrangeir­os, destacam que manter pessoas em prisões improvisad­as e campos de refugiados superlotad­os é desumano

 ?? DR ?? Combatente­s estrangeir­os que lutaram ao lado do “Daesh” continuam com futuro incerto
DR Combatente­s estrangeir­os que lutaram ao lado do “Daesh” continuam com futuro incerto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola