Políticas culturais focadas na identidade
Ritmos e folclore do Sul do país estiveram em destaque durante a terceira edição do Concerto Regional de Música e Dança Tradicional realizado no Namibe
O acesso à cultura, sem discriminação étnica ou social, é uma das principais políticas de Estado usadas para resgatar os valores identitários angolanos e incentivar mais a valorização do folclore nacional, disse, ontem, o director nacional da Cultura, Euclides da Lomba.
Para o dirigente, que assistiu a III edição do Concerto Regional de Música e Dança Tradicional, é preciso começar, agora, o resgate e a valorização das tradições angolanas através de actos capazes de mudar a forma de pensar da nova geração e incentivar a defesa das próprias raízes.
Actos como o concerto, realizado em parceria com a Imogestin, e outros festivais culturais devem ser, para Euclides da Lomba, parte fundamental das acções dos promotores e agentes ligados às artes, de forma a impulsionar grupos e artistas das várias províncias do país a continuarem a trabalhar na preservação de estilos pouco conhecidos.
“Esta tarefa não deveria limitar-se apenas a nível da cultura, mas incluir o desporto e a própria sociedade. As actividades desta natureza precisam de começar nos municípios, como forma de as descentralizar das capitais de províncias, onde, geralmente, acontecem as grandes feiras e exposições. É altura da cultura estar mais próxima do cidadão e as administrações municipais têm um papel preponderante”, disse.
Euclides da Lomba sublinhou a importância do Variante na descoberta de novos talentos da música e na preservação do folclore nacional, assim como anunciou a realização, no próximo ano, do Festival Nacional de Cultura (Fenacult).
“Existem vários projectos para a defesa e valorização da cultura nacional, mas algumas acções não podem ser apenas da responsabilidade do Ministério. Os governos provinciais devem ter um papel activo, de forma a tornar estes actos mais participativos possíveis”, adiantou Euclides da Lomba.
O concerto
O terceiro Concerto Regional de Música e Dança Tradicional, realizado em Moçâmedes, Namibe, teve grande recepção do público, disposto a conhecer mais do folclore nacional. A iniciativa contou com a participação dos grupos Nsimba Ntunguenda, do Cuando Cubango, Helihokeko e Katalecos, da Huíla, Mungondwe e Tweya Okutala, do Namibe, e Ombembwa e Elalakano, do Cunene.
O palco desta edição foi o Largo 1º de Maio, zona centro da Marginal de Moçâmedes, que não conseguiu albergar toda a assistência. O concerto ficou marcado pelo facto de a maioria dos concorrentes usar trajes típicos da região de origem.
No final, o secretário de Estado para as Indústrias Culturais e Recreativas, João Constantino, elogiou a organização e os participantes por continuarem a manter vivas algumas danças e canções do folclore nacional, a maioria em risco de desaparecer. “É um legado que precisa de ser preservado para as próximas gerações, por serem parte fundamental da identidade”, disse.
Pelo facto de serem danças e músicas pouco ouvidas diariamente e sem nenhuma divulgação, João Constantino pediu aos fazedores para continuarem a participar em projectos e festivais, assim como a passarem o legado aos jovens, “no intuito de as preservar internamente e só depois pensar em formas de as expandir no país e no exterior.”
O concerto promovido pelo Ministério da Cultura, em parceria com a Imogestin, incluiu a realização de uma Feira de Artes, onde os artistas locais e das províncias vizinhas puderam dar uma mostra de criatividade.
A primeira edição do concerto, realizada em Ndalatando, abrangeu as músicas e danças de Malanje, Uíge e Cuanza-Norte. A segunda fase ocorreu em Saurimo e juntou os artistas das Lundas Norte e Sul e Moxico.