Lições britânicas
Haverá, no Reino Unido, em Janeiro do próximo ano, uma grande conferência sobre investimentos no continente africano. Cerimónias sobre investimentos com líderes africanos parecem agora ser um dever para muitos líderes de potências: houve várias cimeiras com a França; recentemente em Sochi foi a vez de Vladimir Putin; ainda nos lembramos das cimeiras na China e no Japão.
A Grã-Bretanha, como resultado do divórcio acrónimo da União Europeia, precisa do continente africano; todos os países que quiserem entrar na Comunidade Britânica (Commonwealth) e ser visitados pela Rainha Isabel, serão muito bem vindos — mesmo aqueles senhores tão detestáveis de Malabo poderão ser aceites. O problema com as conferências internacionais, marcadas sempre com procissões aparatosas, é que muitas das vezes não resultam em nada, por faltar objectivos concretos por parte dos participantes. Uma das grandes falhas de países africanos tem sido a falta de uma estratégia bem pensada para tirar vantagens destes intercâmbios.
Angola tem muito a beneficiar do Reino Unido, sobretudo no campo do turismo, sim, sobretudo no campo do turismo da herança cultural. Os britânicos vão olhando para Angola pensando, claro, nos recursos naturais — como explorar os recursos naturais e tirar o maior proveito. Angola deverá pensar seriamente na diversificação da economia. Entre várias coisas, o ênfase deverá ser o turismo. O turismo bem gerido pode ajudar na erradicação da pobreza; o turismo rural, por exemplo, pode beneficiar muita gente nas áreas rurais — incluindo os pequenos agricultores!
O sector turístico angolano não prosperou por razões óbvias — a guerra que destruiu várias infra-estruturas; a mentalidade do povo que não está confortável com quem vem com intenso desejo de ver ou saber; há sempre aquela suspeita que o turista tem objectivos ocultos. Também tem havido uma falta gritante de promoção dos encantos nacionais ao resto da população. Os líderes devem fazer questão de passar algum tempo no interior para celebrar as nossas várias heranças. A comunicação social deve, também, ter o papel de fazer o mundo saber das maravilhas nacionais. Os britânicos são mestres em transformar a sua história, os seus monumentos, em algo que atrai turistas e gera fundos.
No Reino Unido, há comunidades inteiras que sobrevivem do turismo. Cada pequena cidade no Reino Unido tem a sua história e mitos. Na Escócia, por exemplo, há a pequena cidade de Gretna Green que, no século dezoito, ganhou a fama de autorizar casamentos (sem o consentimento dos pais) para jovens com menos de vinte e um anos; havia muitos casais que viajavam para se casarem lá. Até hoje há casais que preferem casar-se (mesmo simbolicamente) naquela localidade. No Moxico, soube de um local, no Rio Kassai, em que, diz-se, os casais comem galinha e depois misturam os ossos e lançam ao rio para eternizar a união. Imaginem só casais a virem de várias partes do mundo para irem mastigar os ossos do amor eterno no Moxico! Os britânicos aproximam o turismo com muita imaginação e humor. Os angolanos podem fazer a mesma coisa.
Cabinda está cheia de paisagens vindas directamente daqueles sonhos amáveis que perduram. Não estou aqui a falar do Mayombe, que é uma maravilha inestimável, mas montanhas onde poderia haver pequenas pensões para beneficiar as comunidades. A Grã Bretanha é a grande terra das pensões — os ditos "bread and breakfast", geridos por famílias que vão ganhando fundos notáveis. Na cidade pitoresca de Buco-Zau, Cabinda, não havia um centro de informação; tive que fazer várias perguntas para ficar a saber que antigamente havia um aeródromo onde o Doutor Agostinho Neto tinha aterrado. Eu queria passar mais tampo em Buco-Zau, mas não dava porque o único hotel da vila era caríssimo. O que se pode aprender do Reino Unido é a criação de redes de pensões, bem geridas e financiadas por bancos comerciais, e assistidas por agências de turismo sérias — não aqueles arranjos de sempre para beneficiar o chefe do turismo na área e os seus próximos.
No Reino Unido, há várias agências nacionais e regionais dedicadas à identificação e promoção da herança cultural. Há muitos órgãos que produzem arte no Reino Unido que são apoiados pelo Estado; os museus e galerias no Reino Unido é algo que é levado muito a sério. Não é qualquer pessoa que passa a ser administrador ou conservador de um museu no Reino Unido — estas instituições só empregam os melhores dos melhores! Depois há, também, os vários tipos de festivais. No Kazombo, província do Moxico, há o festival de Likumbi Liya Mize, um grande espectáculo do povo Luvale, que atrai centenas e centenas de pessoas; o que falta naquele acontecimento anual é uma organização efectiva. Trabalhando com as autoridades tradicionais, por exemplo, Angola poderia passar a ter vários festivais que, de início, iriam depender do turismo interno, mas que eventualmente iriam atrair turistas internacionais e trazer muitas divisas para o país.
Os líderes devem fazer questão de passar algum tempo no interior para celebrar as nossas várias heranças. A comunicação social deve, também, ter o papel de fazer o mundo saber das maravilhas nacionais